11 Mai 2023
Às perguntas dos coirmãos de um jesuíta húngaro sequestrado com outro sacerdote e preso durante a ditadura militar assassina da Argentina, o Papa Francisco respondeu: “Eu fiz o que achei necessário fazer para defendê-los. Foi um caso muito doloroso".
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por America e reproduzida por Settimana News, 10-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa Francisco se reuniu com 32 jesuítas em 29 de abril durante sua viagem de três dias a Budapeste, na Hungria. Como de costume em suas viagens, ele passou um tempo com os jesuítas locais, respondendo às suas perguntas. A transcrição da reunião foi publicada em 9 de maio pela Civiltà Cattolica.
Um dos jesuítas presentes ao encontro perguntou ao papa quais eram as suas relações com o padre Ferenc Jálics, húngaro, e observou: “a esse respeito, graves acusações foram feitas contra o senhor”.
O padre Jálics e outro jesuíta, o padre Orlando Yorio, foram sequestrados pela junta militar argentina em 1976. O papa, o então jesuíta padre Jorge Mario Bergoglio, foi o provincial jesuíta da Argentina de 1973 a 1979, no auge da guerrilha viu cerca de 30.000 argentinos sequestrados, torturados, mortos ou desaparecidos, para nunca mais serem vistos.
Jorge Mario Bergoglio, ainda padre jesuíta na Argentina.
(Foto: Reprodução | Settimana News)
Periodicamente surgiram acusações de que Bergoglio na época não teria protegido os padres Jálics e Yorio, ou mesmo teria favorecido seu sequestro.
Respondendo à pergunta em Budapeste, o Papa Francisco disse aos jesuítas que o padre Jálics havia sido seu diretor espiritual e confessor durante seus primeiros estudos de teologia. “No bairro onde ele trabalhava havia uma célula de guerrilheiros. Mas os dois jesuítas não tinham nada a ver com eles: eram pastores, não políticos”, disse o papa. “Eles eram inocentes quando foram feitos prisioneiros. Os militares não encontraram nada para acusá-los, mas tiveram que passar nove meses na prisão, sofrendo ameaças e torturas”.
Eles foram soltos, “mas essas coisas deixam feridas profundas”, disse o papa, e como a situação no país era “confusa e incerta”, disse que aconselhou o padre Jálics a ir para os Estados Unidos, onde estava sua mãe.
“Depois se espalhou a lenda de que eu os havia entregado para serem presos” – disse o papa. “Saibam que no mês passado a Conferência Episcopal Argentina publicou dois volumes dos três previstos, com todos os documentos relativos ao ocorrido entre a Igreja e os militares. Encontrarão tudo lá".
Mais tarde, como arcebispo de Buenos Aires, o papa foi formalmente interrogado sobre o sequestro. Francisco contou aos jesuítas húngaros que foi questionado "sobre a maneira como me comportei" durante a ditadura por "quatro horas e 10 minutos". "No final, minha inocência foi estabelecida", disse ele.
O Papa Francisco disse que se encontrou com o padre Jálics várias vezes nos anos seguintes à sua libertação, até em Roma. “Mas quando ele veio me visitar pela última vez no Vaticano, vi que ele estava sofrendo porque não sabia como falar comigo. Havia uma distância. As feridas daqueles anos passados ficaram tanto em mim quanto nele, porque ambos vivenciamos aquela perseguição”.
O padre Jálics morreu em Budapeste em 2021 aos 94 anos. O Padre Yorio faleceu em 2000 no Uruguai.
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Quando eu era jesuíta na Argentina... - Instituto Humanitas Unisinos - IHU