22 Março 2023
O documento final do IPCC oferece um "guia prático para desarmar a bomba do aquecimento Global”. E lança um forte apelo aos políticos: “Parar os fundos para novos projetos de exploração de carvão, gás e petróleo".
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 21-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Chegamos à encruzilhada. E a momento de escolher o rumo a seguir – janela de oportunidade, como a chamam os especialistas - passa rápido. O presente e o futuro climático do planeta se jogam no punhado de anos que nos separam do 2030. Além disso, conter o aumento das temperaturas dentro do limite de equilíbrio – 1,5 graus – não será mais possível. Com consequências irreversíveis em termos de inundações, secas, furacões e outras calamidades. Tem um tom definitivo o ultimato emitido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no sexto relatório, aprovado no domingo a Interlaken durante a Conferência dos 195 Estados Membros e apresentado ontem, após uma semana de discussões intensas e dois dias de atraso no cronograma.
Trinta e um anos se passaram desde o primeiro aviso e agora a ciência, através da máxima autoridade climática mundial, está apta a fixar alguns pontos fixos, resultado da sistematização dos estudos preliminares realizados no biênio anterior. Primeiro, o aquecimento global tão acelerado é causado "inequivocamente" pela atividade humana e os gases de efeito estufa que ela produz. A temperatura aumentou 1,1 graus desde a Revolução Industrial. Mas é no último meio século que a velocidade do aumento se tornou exponencial: nunca havia se visto algo similar em dois mil anos. O motivo é a alta concentração na atmosfera de dióxido de carbono - a mais alta em dois milhões de anos – de metano e óxido nitroso, os mais altos em 800.000 anos. Segundo, o aquecimento provocou "mudanças generalizadas e rápidas", em alguns casos "irreversíveis", com consequências espalhadas em todo o mundo.
Nem em todos os lugares, porém – e esse é o terceiro fato – a força dos impactos é igual. Ela se torna mais incisiva sobre as nações mais pobres que, não se deve esquecer, contribuíram menos para as emissões. "Entre 2010 e 2020, a mortalidade por enchentes, secas e tempestades foi quinze vezes mais alta nas regiões mais vulneráveis”, afirmaram os 93 autores das trinta e sete páginas do relatório. Este último, no entanto, não é apenas um "cahiers de doléances". Porque – explicam os cientistas, colocando um quarto ponto fixo – as soluções existem, é só uma questão de ter vontade política para implementá-las.
Daí o vibrante apelo do IPCC aos governantes e tomadores de decisão: é urgente cortar imediatamente os gases de efeito estufa e reduzi-los pela metade até 2030 e investir recursos significativos, públicos e privados, para a transição ecológica. É preciso destinar entre três e seis vezes os 600 bilhões anuais previstos para incentivar as energias limpas. Um valor alto, em números absolutos, mas ainda assim infinitamente menor do que o custo da inação.
Por isso, o secretário-geral da ONU, António Guterres, definiu o estudo como "um guia prático para desarmar a bomba climática que marca os segundos”. No centro está a eliminação dos combustíveis fósseis, ainda hoje responsáveis por 79% do total de gases de efeito estufa. Não apenas o superpoluente carvão, mas também a suspensão das licenças para novas instalações de petróleo e gás e o fim da política de subsídios aos produtores.
A comunidade internacional, devido à crise energética após a invasão russa da Ucrânia, no entanto, parece estar indo na direção oposta. No ano passado, a China abriu 168 centrais movidas a carvão, enquanto na semana passada, Washington aprovou um megaprojeto para a extração de petróleo no Alasca. Já antes, mas também depois, em 2022, apesar das promessas do Acordo de Paris, as emissões não apenas não caíram, mas aumentaram em 1%. Não surpreende, portanto, que Greta Thunberg, ícone do movimento juvenil pela proteção ambiental, tenha falado em “traição sem precedentes” por parte dos líderes mundiais.
O banco de testes será a conferência do clima da ONU em Dubai (Cop28), marcada para 30 de novembro. Na anterior, a Cop27 em Sharm el-Sheikh, a pressão das potências petrolíferas conseguiu retirar do texto a frase sobre o fim dos combustíveis fósseis. A partida em Dubai recomeça a partir daqui. Sabendo que já estamos na prorrogação.
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Clima, última chamada da ciência. “É hora de investir na transição” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU