13 Janeiro 2023
Junto com o governador do Texas, Greg Abbott, e duas autoridades locais, dom Mark Seitz foi uma das quatro pessoas presentes na pista para receber o presidente Joe Biden em El Paso no domingo, uma oportunidade para o bispo de El Paso cumprimentar o presidente no começo de sua breve viagem pela fronteira EUA-México.
A reportagem é de Michael J. O'Loughlin, publicada por America, 09-01-2023. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Imediatamente após o aperto de mão, Biden colocou a mão no ombro de dom Seitz e apontou para um SUV preto que o transportaria por El Paso. O bispo Seitz foi então levado para o lado do veículo e convidado a sentar-se para a viagem de aproximadamente 11 quilômetros do aeroporto até a Ponte das Américas, ligando El Paso a Juárez, no México. Essa breve oportunidade de aperto de mão de repente se transformou em uma conversa de quase 15 minutos entre o prelado que lidera a defesa da migração dos bispos dos EUA e o segundo presidente católico do país.
@BishopSeitz meeting with @POTUS today, Bishop Seitz will be at the post visit press conference hosted by @RepEscobar congressional office at 4:30pm MST. pic.twitter.com/bEHfrQnwS6
— Fernie Ceniceros (@FCenicerosPhoto) January 8, 2023
“Ele foi muito amigável e me contou algumas histórias sobre encontros com vários papas”, disse Seitz à America. Biden estava curioso sobre a Diocese de El Paso e o ministério pastoral, contou Seitz. O bispo observou que nunca havia conhecido um presidente antes, muito menos que teve uma quantidade relativamente grande de tempo pessoalmente com um.
Embora a conversa tenha se mostrado cordial, havia potencial para constrangimento.
Dois dias antes da chegada do presidente a El Paso, Seitz divulgou uma declaração em nome do comitê de migração da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, criticando os planos de imigração recentemente anunciados pelo governo Biden.
Ao elogiar “o anúncio de novos caminhos legais para os Estados Unidos”, afirmou Seitz “é difícil para nós considerar esse progresso quando esses mesmos caminhos dependem de impedir que aqueles forçados a fugir de sua terra natal se beneficiem do direito para buscar asilo em nossa fronteira”.
O bispo acrescentou: “Cobramos o governo para que reverta seu curso atual em favor de soluções humanas que reconheçam a dignidade dada por Deus aos migrantes e forneçam acesso equitativo à imigração e caminhos humanitários”.
Enquanto conversavam no Chevrolet Suburban, Seitz levantou suas preocupações sobre as propostas do governo durante um evento posterior realizado no Centro de Serviços de Apoio ao Migrante do Condado de El Paso, onde a irmã Norma Pimentel, diretora-executiva da Catholic Charities do Vale do Rio Grande, e Ruben Garcia, o fundador da Annunciation House, também deram as boas-vindas a Biden. Seitz entregou ao presidente um cartão de oração representando o Sagrado Coração de Jesus.
The prayer card that @BishopSeitz gave @POTUS during his time with The President. @USCCB pic.twitter.com/mjfm8sV5yp
— Fernie Ceniceros (@FCenicerosPhoto) January 9, 2023
No verso, uma criança que vive em um abrigo para migrantes em Juárez havia escrito uma pequena oração, que dizia: “Senhor, peço que me tire daqui rápido, me ajude com meu caso, quero ficar com minha mãe e minha irmã em breve. Um homem”. Biden colocou o cartão no bolso. Mais tarde, Seitz ouviu de outras pessoas que falaram com o presidente que Biden havia mencionado o cartão.
Biden passou cerca de quatro horas em El Paso, onde caminhou ao longo de uma cerca de metal na fronteira e observou os oficiais de fronteira trabalhando. O presidente não se encontrou com migrantes e não fez comentários públicos. O governador Abbott, um crítico frequente de Biden, entregou a ele uma carta no aeroporto que culpava o presidente pelo “caos” na fronteira.
El Paso é atualmente o maior corredor de travessias ilegais, em grande parte devido aos nicaraguenses que fogem da repressão, do crime e da pobreza em seu país. Eles estão entre os migrantes de quatro países que agora estão sujeitos a expulsão rápida sob novas regras promulgadas pelo governo Biden na semana passada, que atraíram fortes críticas de defensores da imigração.
As mudanças nas políticas anunciadas na semana passada representam a maior ação de Biden até agora para conter as travessias ilegais de fronteira e afastarão dezenas de milhares de migrantes que chegam à fronteira. Ao mesmo tempo, 30 mil migrantes por mês de Cuba, Nicarágua, Haiti e Venezuela terão a chance de vir para os Estados Unidos legalmente, desde que viajem de avião, localizem um patrocinador e passem na verificação de antecedentes.
Os Estados Unidos também rejeitarão migrantes que não buscarem asilo primeiro em um país pelo qual viajaram a caminho dos Estados Unidos. Os migrantes estão sendo solicitados a preencher um formulário em um aplicativo de telefone para que possam ir a um porto de entrada em uma data e hora pré-agendadas.
Grupos religiosos que prestam assistência a migrantes e refugiados na fronteira EUA-México agradeceram Biden por realizar sua primeira visita à fronteira como presidente, mas expressaram preocupações semelhantes às do bispo.
“Ficamos felizes com a vinda do presidente Biden para ver em primeira mão a situação que enfrentamos em El Paso”, disse Maria Torres, gerente de programa Serviço Jesuíta a Refugiados nos EUA, em comunicado. “Embora saibamos que não há uma solução imediata ou que venha apenas do presidente, esperamos que sua visita ilumine a terrível situação que enfrentamos e que o presidente entenda melhor as realidades que os migrantes e requerentes de asilo enfrentam. Nós o instamos a trabalhar em estreita colaboração com o Congresso para desenvolver uma solução de longo prazo”.
“É importante que o presidente venha ver a realidade do que está acontecendo aqui na fronteira e espero que tenha levado consigo a experiência de uma comunidade engajada no trabalho de acolhimento de pessoas vulneráveis em trânsito”, disse Dylan Corbett, o diretor-executivo fundador do Hope Border Institute, disse à America.
Corbett descreveu El Paso como “uma comunidade que sabe profundamente que não há nada a temer sobre a migração, que não é um desafio que não podemos enfrentar”. Ele disse que o governo Biden “tentou abrir um espaço intermediário” na imigração.
“Mas o que realmente precisamos é de uma reforma profunda”, disse ele.
Seitz disse estar ciente do constrangimento potencial que poderia surgir após sua decisão de passar um tempo com Biden. Vários outros bispos disseram anteriormente que o apoio de Biden ao direito ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo o torna inelegível para receber a comunhão.
Mas Seitz, apontando para o exemplo do Papa Francisco, disse que o governo erra do lado do encontro, esperando que o diálogo possa levar à mudança em uma série de questões. Ele observou que enquanto aguardava a chegada de Biden na pista, ele cumprimentou o governador Abbott, que mantém posições sobre a reforma da imigração em desacordo com as políticas defendidas pela Conferência dos Bispos dos EUA.
“Percebi que somos todos uma mistura do bem e do mal e, se conseguimos fazer boas escolhas, é pela graça de Deus”, disse Seitz. “Posso ver o bem em todos que conheço, mesmo que discorde muito, muito deles”.
Embora a ação do Congresso sobre a reforma da imigração tenha se mostrado evasiva nos últimos anos, Seitz disse que mantém a esperança de que algo possa acontecer com a visita de Biden à fronteira.
“Tenho esperança e sei que muitas pessoas estão orando – elas me garantiram suas orações – para que o Espírito Santo inspire o coração de nossos líderes, especialmente o presidente Biden, mas também de outros, a tomar em conta a humanidade das pessoas que buscam refúgio em nosso país”, disse Seitz. “Vou tentar fazer a minha parte. E espero que as orações continuem a vir e que o Espírito Santo faça a parte do Espírito”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
EUA. O presidente Biden e o bispo Mark Seitz percorrem juntos a fronteira do Texas com o México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU