05 Janeiro 2023
“Crescimento pelo crescimento é a ideologia da célula cancerosa” - Edward Abbey (1927-1989).
O crescimento demográfico e econômico global tem provocado uma grande elevação das emissões de gases de efeito estufa.
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador de meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 04-01-2023.
As emissões globais de CO2 decorrentes da queima de combustíveis fósseis estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2021.
A concentração de CO2 na atmosfera estava em torno de 280 partes por milhão (ppm) antes da Revolução Industrial e Energética, chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950 e 350 ppm em 1987. Em maio de 2022 já estava em 421 ppm. Por conseguinte, a temperatura da Terra já subiu mais de 1º C desde o início do uso generalizado dos combustíveis fósseis e o ritmo do aquecimento global tem se acelerado. Uma temperatura de 1,5º C acima do nível médio do final do século XIX pode ser atingida na atual década e a marca de 2º C (prevista como limite máximo do Acordo de Paris) pode ser atingida por volta de 2050.
Nos últimos 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Portanto, a população mundial cresceu muito, mas a produção e o consumo de bens e serviços cresceu muito mais.
Evidentemente, não existe população sem consumo e nem consumo sem população. Isto não implica em deixar de reconhecer que existem desigualdades marcantes na distribuição do consumo, com os ricos consumindo mais e os pobres consumindo menos. Consequentemente, as emissões de CO2 são diferenciadas segundo o nível de desenvolvimento dos países e regiões.
O gráfico abaixo mostra as emissões de carbono da OCDE (36 países), da China + Índia e dos demais países entre 1901 e 2021. Nota-se que durante todo o século XX as emissões da OCDE (países ricos) eram maiores do que o restante do mundo, mas as emissões do resto do mundo ultrapassaram as emissões da OCDE em 2003 e não pararam de subir.
Os 36 países ricos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) são Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia. No conjunto, possuem, atualmente, uma população de 1,38 bilhão de habitantes. Já a China e a Índia possuem 1,4 bilhão de habitantes (2,8 bilhões no conjunto) e os demais países do mundo contam com cerca de 3,8 bilhões de habitantes.
Evidentemente, os países em desenvolvimento possuem emissões per capita bem abaixo das emissões per capita dos países ricos da OCDE. Mas no cômputo total, os 36 países ricos da OCDE emitiram 32% de todo o carbono global, a China mais a Índia emitiram 38% do total e o restante dos países em desenvolvimento emitiram 30% do total. Ou seja, os países ricos são os responsáveis pela maior parte das emissões históricas, mas os países de renda média e baixa são os responsáveis pela maior parte das emissões correntes no século XXI.
Esta realidade tem provocado divergências sobre como encarar as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Na COP27 foi aprovado um fundo de “Perdas e Danos”, visando garantir dinheiro a ser utilizado para remediar os danos e as perdas causados pelo clima nos países em desenvolvimento mais vulneráveis. Contudo, não há consenso quais são os países que devem receber os recursos e quais os países que devem pagar pelos prejuízos e pelas mudanças no padrão de produção e consumo.
O fato é que as emissões de carbono continuam aumentando, tornando cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris, de 2015. O mundo precisa tirar o pé do acelerador do crescimento demográfico e econômico, revertendo a elevação da Pegada Ecológica global.
A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e necessita reduzir o processo de degradação dos ecossistemas, reduzir as desigualdades sociais e evitar o desequilíbrio climático. A população mundial atingiu 8 bilhões de habitantes no dia 15 de novembro de 2022 e continua crescendo, mesmo que em ritmo cada vez menor. A economia também cresce, enquanto o mundo vive uma crise climática e ambiental.
Como mostrou Jeremy Rifkin, a Era do progresso acabou e entramos na Era da resiliência. Não existe mais espaço para o crescimento indefinido quando as bases da vida ecossistêmica estão definhando e morrendo à mingua. Para evitar uma catástrofe que se vislumbra no horizonte é preciso planejar o decrescimento demoeconômico global para evitar uma Terra cada vez mais inabitável.
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, maio 2022.
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Os países mais populosos lideram a emissão global de CO2 no século XXI. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU