23 Dezembro 2022
A mensagem de Natal do patriarca de Constantinopla: todo conflito é o assassinato de irmãos.
A reportagem é de Giacomo Gambassi, publicada por Avvenire, 22-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele define o ataque russo à Ucrânia “uma invasão provocativa e injusta”. E, com palavras fortes, condena qualquer “bênção” da guerra: “É inaceitável que os representantes das religiões preguem o fanatismo e aticem as chamas do ódio”. O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, dedica à urgência da paz a sua "Mensagem Patriarcal de Natal". E olha em particular para os dez meses de luta às portas da Europa.
“A mensagem da boa nova sobre a Natividade ecoa hoje junto ao fragor e ao choque das armas na Ucrânia”, observa o patriarca. E logo ressalta: "Para nós, cristãos, todas as guerras são o assassinato de nossos irmãos, são todas guerras civis que, como proclamou o Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa, são ‘o resultado da presença do mal e do pecado no o mundo’”. Em seguida, referindo-se novamente à agressão perpetrada pelo Kremlin, cita as palavras de São Gregório Palamas, monge e arcebispo que viveu em 1300, sobre sangrentos conflitos entre crentes ortodoxos em Tessalônica para destacar como o que está acontecendo entre a Ucrânia e a Rússia seja um embate de irmãos na fé "porque sua mãe comum é a Santa Igreja e a devoção, cuja cabeça e aperfeiçoador é Cristo", diz Bartolomeu apoiando-se nas reflexões de São Gregório.
O patriarca ortodoxo reivindica o papel “reconciliador” das Igrejas, distanciando-se implicitamente das posições beligerantes do patriarcado de Moscou. “Na Divina Liturgia, a Igreja Ortodoxa reza ‘pela paz do alto’ e ‘pela paz de todo o mundo’. E durante a Liturgia de Basílio Magno rezamos e glorificamos o Doador de todo o bem: ‘Concede-nos a tua paz e o teu amor, Senhor nosso Deus; pois nos concedeste tudo." Afinal, acrescenta Bartolomeu, "o nosso Salvador abençoa os 'pacificadores', porque 'serão chamados filhos de Deus'" e "promove a noção de justiça e amor também para com os nossos inimigos".
No entanto, continua, “nunca na história da humanidade a paz entre os povos foi uma condição dada como garantida. Aliás, em toda parte e sempre foi o resultado de iniciativas inspiradas, de coragem e abnegação, de resistência à violência e de rejeição da guerra como meio de resolução das divergências, e de uma luta perpétua pela justiça e pela proteção da dignidade humana. Por isso, o patriarca ecumênico faz questão de anunciar: “A contribuição à paz e à reconciliação constitui o primeiro critério para a credibilidade das religiões. Dentro das tradições religiosas existem, sem dúvida, motivações não só para a paz interior, mas também para o progresso e o estabelecimento da paz social e para a superação da agressividade nas relações entre pessoas e nações”. Depois esclarece: “Estamos convencidos de que não pode haver paz entre os povos e as civilizações sem paz entre as religiões, sem diálogo e colaboração”.
A Mensagem também contém um lembrete ao uso distorcido da liberdade, que é fruto de "uma independência autossuficiente e egoísta". Então, adverte Bartolomeu, o Natal se torna uma oportunidade, um “tempo do autoconhecimento, da compreensão da diferença entre 'Deus que se faz homem' e 'homem que se faz deus'”.
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“Que nunca os líderes religiosos aticem o ódio”, admoesta Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU