23 Dezembro 2022
Eles foram os primeiros a escolher a sobriedade. Para se manterem autossuficientes, alguns mosteiros deram uma guinada ecológica e agora tentam usar seu conhecimento.
A reportagem é de Anaïs Meynier, publicada por We Demain, 21-12-2022. A tradução é do Cepat.
No imaginário coletivo, um monge se contenta com pouco. Vive um cotidiano marcado pela sobriedade, pontuado pelo trabalho e pela oração, entre os campos e a capela. “O religioso não possui nada, nem bem material nem imaterial. A roupa que veste e a caneta que usa não lhe pertencem”, retrata o engenheiro agrônomo e teólogo Benoît-Joseph Pons, que estudou a economia monástica. Um ascetismo, em suma, adquirido muito antes do apelo à moderação lançado em plena crise climática.
“Os fundamentos da sobriedade monástica repousam sobre uma tradição de quinze séculos. Numa época em que a questão ambiental não se colocava”, continua o pesquisador. A Irmã Marie-Emmanuelle, responsável pela hospedaria na abadia de Saint-Eustase em Landes por mais de trinta anos, foi percebendo que “seu estilo de vida estava em sintonia com o pensamento ecológico atual e poderia corresponder ao mundo de amanhã”.
Ela evoca em particular a frugalidade das refeições das nove irmãs do mosteiro. A alimentação provém principalmente de legumes cultivados na horta biológica e de doações do supermercado local. “Isso começou há mais de dez anos, quando os mercados eram proibidos de doar os alimentos não vendidos”, confidencia a freira, que muito antes se converteu à sobriedade.
Este supermercado, localizada perto da pequena aldeia Landes de Eyres-Moncube, onde se situa a abadia, oferece-lhes produtos frescos duas a três vezes por semana. “É bom senso não jogar tudo fora, mesmo que passe um pouco do prazo de validade!”, insiste a priora que condena a sociedade de consumo exagerado onde o desperdício é a norma. Necessárias para a sobrevivência da abadia, as economias ligadas a essas doações são um argumento de peso. As freiras compram apenas macarrão, arroz e um pouco de carne.
“Um certo número de mosteiros desenvolveu uma atitude e abordagem ecológicas principalmente por necessidade”, observa o agrônomo Benoît-Joseph Pons, que coordenou a pesquisa em cerca de vinte mosteiros. Em Landes, a abadia de Notre-Dame de Maylis, datada do século XIV, aderiu à produção orgânica há dez anos. Suas plantas de Maylis, cultivadas de acordo com um método tradicional e depois transformadas em chá de ervas ou cápsulas, não se desenvolviam bem. Uma mudança de rumo (para a produção orgânica) ligada a uma “necessidade”, lamenta o beneditino Bernard, do mosteiro de En Calcat no Tarn. “É menos glorioso do que uma antecipação”, afirma.
Porém, se muitos mosteiros entraram no mundo da ecologia por uma questão de sobrevivência, a maioria continua seguindo esse caminho por ideologia. E adotaram a sobriedade como estilo de vida. No mosteiro de Solan (Gard), as irmãs ortodoxas “querem viver em harmonia com a terra nutritiva para uma melhor autonomia alimentar”, lança o jardineiro Brieuc. É ele quem cuida e enriquece os solos das lavouras com composto e rocha vulcânica. Com um orçamento mínimo e a conselho do ensaísta Pierre Rabhi, as irmãs aderiram à produção agroecológica, recanto onde o canto das cigarras combina com o dos sinos. Em seguida, elas vendem parte da sua produção, transformada em vinho, geleia de frutas ou tapenade.
Na abadia de Sainte-Marie de la Pierre-qui-Vire são oferecidos, por sua vez, os queijos feitos com leite cru de vaca. Ali, aninhados em uma floresta selvagem do Morvan, cerca de trinta irmãos vivem em autarquia enérgica. “O afastamento geográfico nos empurrou para esta independência”, pode-se ler no site da abadia. Tudo começou com a instalação de uma usina hidrelétrica em 1960, da qual hoje consomem um terço da produção anual. O restante é vendido à EDF (Électricité de France).
Quarenta anos depois, uma caldeira alimentada com pedaços de madeira foi construída e garante o aquecimento dos treze edifícios do mosteiro. E um metanizador utiliza o esterco de vaca para produzir eletricidade. Esses equipamentos permitem que os beneditinos tenham uma pegada carbono baixa graças às energias renováveis utilizadas.
Tradicionalmente isolados do mundo exterior, alguns mosteiros decidiram abrir os seus claustros para compartilhar o seu conhecimento. No mosteiro de Solan, Brieuc, formado para se adaptar ao aquecimento global, gosta de ensinar o que foi adquirindo com os muitos estagiários que a casa acolheu. “Também organizamos algumas formações para os mosteiros que queiram integrar estas práticas de sobriedade. Já recebemos católicos, budistas…”, conta o jardineiro.
Ainda no sul da França, mas desta vez no Tarn, o Irmão Bernard organiza jornadas ecológicas para sensibilizar as crianças para essas questões. Um gosto pela transmissão que o pesquisador Benoît-Joseph Pons explica pela tradição monástica. O gosto da “fraternidade dos religiosos para com os membros da comunidade e da humanidade em geral”.
Assim, o monge de En Calcat quer ir mais longe e oferecer momentos de formação de vários dias sobre o tema da ecologia integral. Ratificado pelo Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si’ (2015), este conceito promove uma ecologia transcendental, ambiental, moral, social e econômica. “Não queremos falar apenas de orgânicos!”, sorri o Irmão Bernard.
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Os monges, pioneiros da sobriedade, poderiam nos inspirar? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU