"Deus ama o mundo. Mas existe um mundo que simboliza todas as forças do mal: o sistema de morte que esmaga e oprime, o mundo que odeia e persegue, fazendo das pessoas seus escravos, tirando-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus. No tempo das comunidades era o Império Romano que escravizava, escreve Amélia Hakme Romano na reflexão a seguir. E continua: "É nesse mundo de trevas, que apareceu a luz, é nesse mundo de opressão que apareceu a Glória. 'Ele habitou entre nós, e nós vimos a sua glória' (Jo 1,14). A glória é a presença atuante de Deus na história. É esse Deus que Jesus revela pela sua presença no meio da humanidade. O rosto fiel e misericordioso do nosso Deus tem os mesmos traços do rosto de Jesus. Por ele nos veio 'graça e verdade' (Jo 1,17), por Ele, Deus vem até nós."
Amélia Hakme Romano é biblista leiga, facilitadora do CEBI-Mato Grosso do Sul, colaborando com escolas e grupos de estudos bíblicos.
Is 52,7-10
Sl 97(98)
Hb 1,1-6
Ev. Jo 1,1-18
A Leitura de Isaias 52, 7-10 nos traz as boas novas daquele que vem anunciar a felicidade dizendo “Teu Deus começou a reinar!” Vamos explodir de alegria!
O Salmo 98 convida todas as criaturas a: “Cantar um cântico novo pois o Senhor fez maravilhas!”
Carta aos Hebreus 1,1-6 nos diz que “Jesus é o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser”.
Então, alegremo-nos!
Quando lemos o prólogo (primeira palavra) deste evangelho, percebemos que o evangelista quer nos dizer que Jesus é a Palavra de Deus. E vai descrevendo a caminhada desta Palavra. Ela estava junto de Deus desde antes da criação e por meio dela, tudo foi criado.
Jesus é essa palavra que desde o princípio do mundo é geradora de vida. Por isso, João começou seu livro pelas mesmas palavras que abrem o livro de Gênesis (Gn 1,1): “No princípio Deus criou o céu e a terra”. Deus criou pela sua Palavra, “Ele falou” e as coisas começaram a existir. Toda criação, portanto, é expressão da Palavra de Deus.
No prólogo algumas palavras nos chamam a atenção:
A Vida: É um dos eixos fundamentais do Ev. João, tudo foi escrito para que tenhamos vida. Nesta Palavra viva de Deus estava a vida, e a vida era luz para a humanidade.
A Luz: Luz que clareia o caminho, ampara os desfalecidos. E que a luz brilha nas trevas, mas as trevas tentaram apagá-la sem sucesso.
As trevas: As trevas se contrapõem à luz, e simbolizam a oposição e a rejeição. As trevas são incapazes de apreender a Luz (Jo1,5). No Ev de João são alguns grupos da época da Comunidade Joanina, que não reconheceram Jesus.
O Mundo: Deus ama o mundo. Mas existe um mundo que simboliza todas as forças do mal: o sistema de morte que esmaga e oprime, o mundo que odeia e persegue, fazendo das pessoas seus escravos, tirando-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus. No tempo das comunidades era o Império Romano, que escravizava.
A Glória: É nesse mundo de trevas, que apareceu a luz, é nesse mundo de opressão que apareceu a Glória. “Ele habitou entre nós, e nós vimos a sua glória” (Jo 1,14). A glória é a presença atuante de Deus na história. É esse Deus que Jesus revela pela sua presença no meio da humanidade. O rosto fiel e misericordioso do nosso Deus tem os mesmos traços do rosto de Jesus. Por ele nos veio “graça e verdade” (Jo 1,17), por Ele, Deus vem até nós.
Filhos e filhas de Deus: “A todos que o receberam, deu o poder de se tornarem filhos e filhas de Deus” (Jo 1,12) Todos os que acolhem pela fé a Jesus como Mestre e Filho de Deus, encontram a Vida plena que é viver como filhos e filhas de Deus.
Quando lemos o prólogo, percebemos que nele contém toda a mensagem, todo o testemunho que será desenvolvido no Evangelho de João. Vale a pena reler!
“o Filho unigênito, que está sempre voltado para o Pai” e o único capaz de “nos explicar quem é o Pai” (Jo 1,18)
Jesus é o verdadeiro exegeta, que da sua comunhão com o Pai, nos faz participar e, assim, nos faz entrar nessa mesma intimidade.
O Evangelho de João é um texto poético e simbólico. São ideias e imagens tiradas para construir esta poesia. O autor quis mostrar que em Jesus se realizavam as profecias do Antigo Testamento.
Que neste domingo de Natal possamos conhecer melhor a Deus, nosso pai, cujo rosto se deu a ver em Jesus de Nazaré. Todo o Evangelho é como uma fonte de água viva capaz de saciar a nossa sede provocada pelo calor e cansaço da caminhada. “Quem beber desta água que dou, nunca mais terá sede, porque a água que darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna” (Jo 4,13-14)
Vamos cantar e celebrar porque Deus é “graça e verdade”, “amor e fidelidade”. (Jo 1,14.17)
Em meio a tudo que nos cerca, o Natal chegou trazendo o novo. E é assim que precisamos caminhar, com muita luta, esperança e fé, pois sem esperança e fé, não haveria luta.
Celebrar o Natal é comemorar a vida, que é fonte de promessa, mas, frágil, precisa de proteção e cuidado para vingar. E renovar a esperança, vulnerável como um recém-nascido, que precisa ser cuidadosamente acalentada para não sucumbir.
Que este Natal desperte em nós os valores do Evangelho libertador, para vivermos durante todos os dias do ano e da nossa vida. Celebremos o Natal acolhendo Jesus na família, na comunidade, nas periferias, nas ruas. Que Ele desperte em nós a sede de liberdade, pois a encarnação é um ato que nasce da liberdade e do amor.
Feliz Natal!!