Sempre que falamos em natal vem uma música na mente. É quase impossível não nos lembrarmos de hinos da cultura mundial, como Jingle Bell. Quando ligamos a caixa de som e começam a tocar músicas de natal, automaticamente entramos no clima da melhor época do ano. A sensação de festividades, de esperança e alegria toma conta e cada melodia torna-se única dentro dos nossos corações! Escutar músicas de natal é para todo mundo! Desde crianças, somos embalados por canções que celebram a data natalina e incentivam a troca de presentes, o amor e a conciliação entre as pessoas!
O Natal se aventura à meia-noite com o som que vem do choro do Menino Jesus. O som de passos que caminham em direção ao Salvador trazendo-lhe oferendas. Os Três Reis Magos presenteiam como graça, agradecimento. É o sinal de devoção àquele que eles acreditam trazer em si a soma da união, dos bons valores, do amor à vida que se espalha em cada grão de areia, ou gota d’água. É o som surdo duma alegria que se vê no rosto de Maria e se faz na contemplação de José. É o som dos animais que permeiam a casa escolhida para nascer o Menino, na simples manjedoura que lhe abriga tal qual sua sabedoria perene. Muito antes do som, há o barulho. Muito antes de castelos, palácios, riquezas, há manjedouras. Por isso muito antes da neve, dos sinos, das luzes e da barba branca que acolhe o corpo vermelho de um senhor bondoso e carinhoso para com as crianças há a criação da fé ao homem, ao próximo, ao suplício eterno pela caridade pura e desprovida de interesses. Pelo viver em ver o outro viver bem. E alegrar-se pelo outro como a si. Então haverá o som de harpas tocadas pelos anjos, tamborins tocados pelos sambistas e tambores tocados pelos reis magos do axé. Pois lá no início houve o deslumbramento provocado pelo choro do Menino Jesus e o sorriso cândido dos que permaneceram acortinados nele. A isso, comemora-se o Natal.
O artigo é de Marcelo Zanotti, historiador e membro da equipe do IHU.
Existem músicas que são hinos nessa época do ano... Aqui mesmo, no IHU, já vimos histórias sobre essas músicas inesquecíveis, como, por exemplo, "Noite Feliz", uma canção de Natal - provavelmente a mais famosa - quando da comemoração de seus 200 anos. Na véspera do Natal de 1818, na Igreja de São Nicolau em Oberndorf, próximo a Salzburgo, "Stille Nacht" (Silent Night, em inglês; Noite Feliz, na versão em português) foi cantada pela primeira vez. A reportagem foi de Edward W. Schmidt, S.J., publicada por America, 06-12-2018. A tradução foi de Victor D. Thiesen.
Mas, originalmente, o cancioneiro nacional já cantou inúmeras vezes a história de Jesus Cristo e de quem o cercava. Outro dia uma pessoa querida sussurrou essa música, "José", da Rita Lee. E ela, a música, me perseguiu o dia inteiro, me comovendo, me fazendo pensar na simplicidade de José, no que é amar verdadeiramente, no que é fazer uma escolha por amor, nas consequências dessa escolha. Fiquei contemplando a vida de José, tão simples, tão comum, mas que fez toda a diferença na vida, no jeito de ser de Jesus. E, fiquei pensando em Maria, no fato de ter sido tão amada por José e de ter que lidar com as “estranhas ideias” do filho Jesus... Uma música esquecida que cantarolada por acaso, mexeu com minhas entranhas. Pensei nos “Josés” de todos os tempos, no que vale realmente a pena escolher para ser feliz.
O Papa Francisco também já refletiu sobre isso:
“Quando tenho um problema, eu o coloco debaixo da imagem de São José para que o sonhe”. Foi o que o próprio Santo Padre disse, no dia 16 de janeiro do ano 2015, quando estava em Manila, Filipinas. Naquela oportunidade – em que no âmbito de sua Viagem Apostólica se reuniu com as famílias, no Palácio de Esportes de Manila –, fez esta confidência ao se referir a este Santo, Patrono da Igreja Universal.
A reportagem foi publicada por Religión Digital, 19-03-2019. A tradução foi do Cepat.
As vezes, quando precisamos da força de Jesus Cristo nas nossas vidas, não necessariamente precisamos entender o que se passa, mas, precisamos sentir. Muitas vezes, na hora que precisamos de fé, ele nos surge de diferentes formas. Metacanção que se dobra para dentro de si mesma, Força Estranha, de Caetano Veloso, expõe os motores de sua potência: lembrar e esquecer – os arranjos narrativos daquilo que o sujeito viu e viveu. A memória do sujeito narrador de Força estranha, sem a ordem restritiva do cronológico, consagra eventos múltiplos e diversos, com uma força que vem no ar, que ele acha estranha, mas que, no fundo, é o que o faz caminhar. A “organização” dessa unidade está mais próxima dos afetos (do tempo que “parou pra eu olhar para aquela barriga”) do que da sucessão dos fatos. Está mais perto da invenção poética – e, por isso, real (“O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei”) – do que da historiografia dos relógios. Afinal, “a coisa mais certa de todas as coisas / não vale um caminho sob o sol”. E, assim como diz Jesus, ao aparecer para São Tomé, "Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20.29).
O mundo nos impõe coisas, as vezes, por si só contraditórias. E é exatamente no período em que morremos para a vida de criança e nascemos para a vida adulta que mais precisamos nos aproximar do Deus menino. E assim, no despertar para a juventude, precisamos florescer. A Igreja precisa de santos que vestem calça jeans e bebem coca-cola, já dizia São João Paulo II ! O chamado à santidade percorre toda a nossa existência, incluindo especialmente a juventude. O mundo carece de evangelizadores sedentos, cheios de vitalidade, inteirados da cultura e dos costumes que hoje são disseminados. Só assim, aquele Deus menino que nasce no natal pode nascer também no coração de cada novo adulto.
A Pastoral da Juventude sempre tem sido uma referência na luta por um mundo melhor para todos, no compromisso na construção do Reino de Deus, um espaço onde muitos jovens tem conhecido e se apaixonada por Jesus Cristo, “que esteve ao lado dos pobres, que esteve sempre defendendo a vida, que morreu por defender a vida”. Luis Miguel Modino entrevistou, em 03 de fevereiro de 2020 Michelle Gonçalves, que naquela ocasião havia sido escolhida para assumir o serviço missionário da Secretaria Nacional da Pastoral da Juventude.
Como qualquer outro Jesus que possa existir por aí, Cristo nasce na pobreza. Não pobreza de espírito, mas pobreza física, de lugar, refugiado. Assim como milhares de meninos Jesus que existem por esse mundo a fora, pobres, refugiados, desamparados... Todos nascem como Jesus, e alguns desde bebê carregam sua cruz. A música de Chico Buarque, "Minha História", conta a vida de um Jesus que bem poderia ter sido o Messias. Chico Buarque é um grande observador social e ao mergulhar na representação da vida de seus “eu-líricos”, contando suas histórias, acaba tecendo um retrato único do país. A partir do engajamento que podemos perceber em sua obra, o compositor apresenta em “Minha História” uma narrativa que claramente não é a sua. Nessa narrativa, particular e universal, o compositor procura distanciar o que seria “divino” do que é “humano”.
Antonio Cechin, irmão marista, agente de Pastoral nas periferias, coordenador do Comitê Sepé Tiaraju e da Pastoral da Ecologia do Regional Sul III da CNBB, em 16 de setembro de 2016 fez uma análise dessa obra para o IHU, em artigo que dizia: "Segundo comentários que pude ouvir nos nossos meios 'subversivos' próximos da carceragem em 64, a boca pequena, naqueles tempos ferozes, que recém começamos a desvendar através de Comissões da Verdade, Chico pretendia lançar uma produção sua, tendo como título o palavrão fdp. Desencorajado por amigos que não o podiam imaginar preso pelos esbirros da ditadura, mudou de idéia e genialmente acabou por dar à composição, o nome de 'Minha História'".
Essa é a última "Pautas de Brasilidade" do ano, então, o nobre autor que vos escreve lhes deseja um feliz e abençoado natal. Que 2023 seja melhor que 2022 e pior que 2024. E, como última reflexão do ano, lhes deixo com um poema, de autoria de Nhô Zé, chamado "Pai Narciso":
Quando o sino repicando
principia anunciando
os festejos de natal
Me vem logo na lembrança
os meus tempos de criança
na história que eu vou contar,
Pai Narciso era um velhinho
que andava já arcadinho
se escorando num bordão
e tinha uma barba comprida bem branquinha,
que muito mais parecia um punhado de algodão.
E trazia no ombro curvado
um saco muito surrado que sua mão não largava,
E era naquela sacola
que ele guardava a esmola
que povo sempre lhe dava.
Por alí ninguém sabia
quanto tempo já fazia
que o velhinho apareceu
Naquele rosto enrugado,
naquele olhar tão cansado,
sua história ninguém leu.
Só sei quando ele passava
a minha mãe me chamava
e me dizia contente:
Papai Noel vai passando,
seja bonzinho este ano
que ele te traz um presente.
Eu andava até doente
maluco com a idéia quente
por causa de um palhaço engraçado
que eu enxerguei na vitrina
numa loja lá da esquina
num cordão dependurado.
Quando natal foi chegando
minha mãe foi me chamando
e meus irmãozinhos também,
me lembro ela disse chorando:
meus filhos eu sei que este ano
o papai Noel não vem.
Só agora estou compreendendo
eu era muito pequeno
9 anos ou pouco mais,
Eu não tinha imaginado
que um pai desempregado
muito quer, mas nada faz.
Me lembrei de ir pra janela
esperei passar por ela
aquele velho arcadinho,
fui correndo pra calçada
peguei sua mão enrugada
e lhe disse com carinho:
Pai Noel, eu sou bonzinho,
cuido dos meus irmãozinhos,
estudo minha lição,
não esqueça meu endereço
papai Noel, eu sei que mereço
e o senhor foi sempre bom.
Eu não quero pião nem bola,
nem trenzinho de mola,
nada disso eu vou querer.
É só um palhaço de cordinha
daquele lá da lojinha,
só isso eu peço procê.
O velho não disse nada
foi andando pra calçada
e foi embora sem se voltar,
Mas por mim eu já sabia
que o presente eu recebia
quando chegasse o natal.
Por fim o natal chegou,
a minha mãe muito chorou
quando foi pra nós deitar
e eu tava louco esperando
que o dia fosse clareando
pro meu palhacinho pegar.
E quando o dia clareou
na sandalhinha furada
nem palhacinho
nem nada
para consolar, minha dor.
Fiquei ali na janela
esperando passar por ela
aquele velho marvado,
Talvez ele não soubesse
que a criança nunca esquece
o presente desejado.
Mas olhando na calçada
de frente a porta da entrada
um vulto eu fui enxergar.
Pai Narciso ali estendido
de frio tinha morrido
bem na noite de natal.
E atirado assim do lado
tava o saco arremendado
de outra banda o seu bordão
e o meu palhacinho engraçado
num cordão dependurado
tava preso na sua mão.
E daquele dia em diante,
eu não pensei mais nenhum instante
num presente receber,
é que garro me lembrar
que foi na noite de natal
que vi papai Noel morrer...