28 Novembro 2022
Exatamente nove meses após o início do conflito, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem ao povo ucraniano; no texto, divulgado na sexta-feira à noite pelo Vaticano, o bispo de Roma expressa seu horror pela violência da tragédia que atingiu a Ucrânia, descreve a catástrofe que se abateu sobre o país e a população civil e afirma sem meios termos: “A vossa dor é a minha dor".
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 26-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Na cruz de Jesus hoje vejo vocês, vocês que sofrem o terror desencadeado por esta agressão. Sim, a cruz que torturou o Senhor revive nas torturas encontradas nos cadáveres, nas valas comuns descobertas em várias cidades, naquelas e em muitas outras imagens sangrentas que penetraram em nossas almas, que levantam um grito: por quê? Como os homens podem tratar outros homens assim?”
Palavras fortes que inevitavelmente chamam em causa as responsabilidades de quem iniciou o conflito: “No vosso céu ressoa sem parar o estrondo sinistro das explosões e o som inquietante das sirenes. Suas cidades são bombardeadas enquanto chuvas de mísseis provocam morte, destruição e dor, fome, sede e frio. Nas vossas ruas, muitos tiveram de fugir, deixando as suas casas e os seus caros”.
Por outro lado, o pontífice deu mais um passo ao comparar o sofrimento atual do povo ucraniano com o Holodomor, a terrível carestia que, em plena época stalinista, entre 1931 e 1932, atingiu a Ucrânia causando um número incalculável de vítimas.
Francisco depois, descrevendo a gravidade da crise, também se dirigiu às autoridades em Kiev: "sobre eles pesa o dever de governar o país em tempos trágicos e tomar decisões com visão futura para a paz e desenvolver a economia durante a destruição de tantas infraestruturas vitais, na cidade e no campo”.
Portanto, o convite ao governo é para que tome hoje as providências necessárias para evitar mais sofrimentos, o que significa também buscar uma forma de abertura de negociações; no entanto, o papa também expressou sua proximidade com os jovens ucranianos "que, para defender corajosamente sua pátria", tiveram que "recorrer às armas e não aos sonhos" que cultivavam para o futuro.
Francisco, em suma, lança o alarme pela crescente brutalidade do conflito, pois percebe o risco de uma acomodação à guerra no exato momento em que a população civil parece pagar o preço mais alto.
Ao mesmo tempo, as palavras do Pontífice constituem uma pesada acusação contra as autoridades moscovitas, de fato questionadas por terem causado a morte de tantos inocentes, inclusive muitas crianças; indubitavelmente Bergoglio fala de violações de direitos humanos quando menciona tortura, valas comuns, violências contra as mulheres.
O Papa, por fim, renova seu apoio à Igreja ucraniana, "para vocês, pastores do santo povo de Deus, que - muitas vezes com grande risco para sua segurança - permaneceram próximos das pessoas, levando a consolação de Deus e a solidariedade dos irmãos, transformando com criatividade lugares comunitários e conventos em alojamentos onde oferecer hospitalidade, socorro e alimentação a quem se encontra em condições difíceis”.
Em tal contexto, a Santa Sé não perde a esperança de dar sua contribuição para a abertura das negociações, mas o quadro geral não deixa muito espaço para essa hipótese, como repetiu o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin para a tv2000, na última quinta-feira.
A possibilidade de que se abra espaço para uma possível mediação da Igreja, disse o cardeal, “depende das partes. A disponibilidade da Santa Sé foi dada desde o início. O papa tem reiterado continuamente seu desejo de parar a guerra, mas também de se colocar à disposição para oferecer as condições e os ambientes para que isso aconteça. Mas até agora não tivemos nenhuma resposta".
Em seguida, repetiu as diversas modalidades de intervenção postas em prática pelo Vaticano na crise atual: “As três linhas em que a Santa Sé se move - explicou o secretário de Estado – são, primeiro, o magistério do papa com seus contínuos e veementes apelos para o fim da guerra; depois há o aspecto humanitário, pois a situação na Ucrânia está se tornando cada vez mais insustentável com a população deixada no escuro e no frio devido ao bombardeio de instalações civis, algo realmente impensável; e depois há a ação diplomática que por enquanto não trouxe grandes resultados”.
Na afirmação final de Parolin, pode-se vislumbrar o impasse da diplomacia como um todo diante da persistência da guerra e, aliás, do acirramento do conflito em uma espiral cada vez mais dramática caracterizada pela chegada do inverno.