07 Novembro 2022
“Fala-se muito em sustentabilidade, resiliência, regeneração, mas às vezes de forma superficial, aportando apenas leve modificações a modelos de produção que permanecem baseados na exploração da natureza”. Chrisna du Plessis está falando do greenwashing, aquele ambientalismo de aparências que se tornou imprescindível nas estratégias de marketing das grandes empresas. E, naturalmente, ela o detesta.
A arquiteta sul-africana ensina construção sustentável há anos na Universidade de Pretória, na Suécia, em Singapura. No domingo, 13, às 11h30, ela estará no Politécnico de Turim para a Bienal de Tecnologia, onde apresentará suas visões e modelos de futuro.
“Um design ecologicamente responsável prevê que todas as decisões sejam orientadas pela demanda, que não percam o contato com a realidade e a natureza, que sustentem a saúde, o bem-estar e a capacidade evolutiva do sistema socioecológico dentro do qual todos nós nos movemos".
A entrevista com Chrisna du Plessis é de Fabrizio Accatino, publicada por La Stampa, 06-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
As mudanças climáticas mudarão os critérios de projeto de edifícios e cidades?
Absolutamente. A maneira de concebê-los mudará. Teremos que enfrentar decisões difíceis sobre como gerir as flutuações da população, o que manter e o que deixar de lado.
Existem novos materiais que poderiam resultar eficazes para edifícios e cidades ecologicamente corretos?
Existem os tradicionais, que não são mais usados hoje, mas poderiam voltar ao jogo. Além daqueles novos e entusiasmantes obtidos do carbono, ou desenvolvidos a partir de resíduos agrícolas. Quais usar e como usá-los dependerá muito de como e onde projetarmos edifícios e cidades no futuro.
Existem dois casos limítrofes de projetos gigantescos: The Line, a cidade vertical de 170 quilômetros de extensão no deserto saudita, e The Great Green Wall, os 50 quilômetros de árvores plantadas entre o Saara e o Sahel. O que você pensa disso?
Ambos têm um componente de arrogância humana, mas o primeiro é movido pela ideia de que se deve controlar a natureza, o segundo que ela pode ser ajudada. The Line é uma operação egocentrada, com uma ecologia de fachada útil para justificar um projeto distópico e autoritário. O impacto ambiental será elevadíssimo, desprovido de respeito pelo contexto e pelas condições de vida dos seus habitantes.
E a Grande Muralha Verde?
Aquele também é um projeto muito ambicioso, mas estando em diálogo com as realidades locais, as possibilidades de obter um resultado regenerativo são maiores. Originalmente nascido como uma enorme barreira vegetal para impedir a desertificação, agora evoluiu para uma galáxia de projetos paralelos. O objetivo é que as populações do Sahel alcancem uma resiliência socioecológica, uma aliança entre a natureza e o homem com base nas condições ambientais.
Deste ponto de vista, como avalia a situação na Europa?
Eu a vi regredir constantemente. Partiu com uma liderança social e ecológica forte, que estava puxando todo o planeta em uma direção mais sustentável. Infelizmente, tornou-se cada vez mais temerosa e cautelosa, num momento em que teríamos grande necessidade de ações corajosas e de líderes capazes de realizar mudanças radicais. Além disso, a vitória da extrema direita nas recentes eleições na França, Espanha, Suécia e Itália, devido à apatia dos eleitores, não deixa prever nada de bom.
O Objetivo 11 da Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas preconiza cidades inclusivas, seguras e resilientes até 2030. Conseguiremos?
Não temos condições nem mesmo de atingir as metas do Acordo de Paris sobre a limitação das mudanças climáticas. Além disso, nos recusamos firmemente a enfrentar a desagradável realidade da degradação ecológica e temos uma economia global vacilante. Com esses dados de saída não temos a menor esperança.
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Mais coragem e líderes certos para mudar o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU