26 Outubro 2022
A famosa escritora, sobrevivente do Holocausto, presente no encontro de Santo Egídio no Coliseu "O grito da paz": "Lamento pelos jovens obrigados a viver a guerra ao vivo. Não deixem de ter esperança e não alimentem o mal”. O abraço com o Papa Francisco: "Ele sente meu não ódio para ninguém. Nossa amizade é aquela entre dois seres humanos preocupados com o mundo".
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 25-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Esse grito de paz parece não chegar ao mundo, quase um grito no deserto... Porque esse horror que está perto de nós continua, continua, continua. Mas todos os horrores nos dizem respeito, em todos os lugares. Hoje existem 49 guerras em todo o mundo. Não se sabe como sair, o que fazer. Para mim, reviver isso, que em todo caso não se assemelha em nada com o Holocausto, é absolutamente insuportável”.
Edith Bruck estava sentada na primeira fila, no meio de monges budistas e líderes muçulmanos, no Parque Arqueológico do Coliseu, no encontro de Santo Egídio "O grito da paz". Com a característica trança fulva que lhe confere uma imagem quase juvenil, apesar dos seus 91 anos, envolta num casaco de linha cinza, a famosa escritora húngara, sobrevivente do Holocausto e testemunha direta de um dos capítulos mais sombrios da história do mundo, foi chamada pela segurança para ser a primeira entre os convidados a cumprimentar a chegada do Papa sob o grande palco montado aos pés do antigo Anfiteatro Flaviano.
Francisco sorriu quando a viu, apertou suas mãos. Ela se abaixou e se abraçaram. No palco a poetisa, amiga do Papa da famosa visita à sua casa romana em 2019, ladeada por algumas crianças, levantou o pergaminho branco com o Apelo de Roma, o "grito da paz", justamente, escrito pelo Papa e pelos líderes religiosos mundiais. Depois disso, um novo cumprimento a Francisco e algumas palavras sussurradas no ouvido, enquadradas pelas câmeras.
“Eu e o Papa gostamos muito um do outro, eu gosto muito dele. Acredito que ele também…”, conta a escritora ao Vatican News, à margem do encontro, em meio a pedidos de fotos e declarações. “Aquele entre nós é um encontro entre dois seres humanos que se preocupam com o mundo. Ele sente meu não ódio por nenhum ser humano, eu sinto sua humanidade. É a amizade entre dois seres humanos”.
E como ser humano, Bruck confessa que sente de forma forte a dor, em meio a esse novo abismo criado há oito meses na Europa, pelas novas gerações. “Sinto muito pelos jovens que têm que ver a crueldade humana pela primeira vez na vida deles e não sei o dano que isso causa a eles. Temo que eles possam perder a esperança no futuro. Isso eu sinto muito porque eu vivi isso de dentro, eles o veem ao vivo. É horrível...".
Há 62 anos que Edith Bruck frequenta as escolas “para falar, para testemunhar, para mudar o pouco que posso mudar”. Leva para os meninos e as meninas seu testemunho de sobrevivente, de criança a quem foi roubado o que lhe era mais caro, como contou em seu best-seller Il pane perduto. “Sinto muito porque muitas vezes tenho pudor em contar o que aconteceu e sinto desconforto, diz ainda aos nossos microfones. Nunca se poderá descrever, nunca se poderá contar completamente o que aconteceu, mas agora os jovens veem algo monstruoso, algo inimaginável hoje. E continua... O grito do Papa, o nosso grito, o grito de todo ser humano que quer a paz, parece inútil”.
Luz na escuridão
Edith Bruck não perde a esperança, no entanto. Ela não a perde exatamente porque olha para os garotos com quem se encontra cotidianamente. “Mesmo na escuridão total há um pouco de luz, se encontra um pouco de humanidade. Aquela humanidade que está dentro de cada um de nós, mas que deve ser alimentada dia a dia para deixar 'passar fome’ o mal".
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Edith Bruck: o horror na Europa é insuportável para mim, tenho esperança nos jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU