18 Outubro 2022
"A valorização da família por Bolsonaro é só 'para evangélico ver'", afirma Edelberto Behs, jornalista.
O grande defensor da família, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro, conviveu por quase dez anos, de 1998 a 2007, com a advogada Ana Cristina Siqueira Valle sem formalizar a união. O “04”, Jair Renan, filho dessa união, foi registrado em cartório pela mãe. “O campo ‘pai’ no documento ficou sem a identificação. O bebê era mais um brasileiro de pai ‘desconhecido’ ou ‘não declarado’ na certidão de nascimento”. Mais tarde, Jair assumiu Jair Renan.
O detalhe está relatado no livro da jornalista Juliana Dal Piva, "O Negócio de Jair: a história proibida do clã Bolsonaro" (Zahar, 2022). Família, para Bolsonaro, tem, como demonstra o livro reportagem, um caráter pragmático-interesseiro, que não é o da perpetuação da espécie, nem de seguir uma ordenação divina, mas gerar recursos escusos para o bolso do clã. Foi com esse subterfúgio que Jair e seus três filhos mais velhos alcançaram a compra imóveis 51 em dinheiro vivo.
A jornalista levantou, em três anos de apuração, que Jair e os três filhos usaram os mandatos em três Casas Legislativas para nomear 286 pessoas que constaram como seus assessores, angariando, de 1991 a 2018, algo em torno de 116 milhões de reais, em valores atualizados pela inflação.
Da lista de assessores e funcionários-fantasmas constam mulheres, sogros, nora, conhecidos, babás, donas de casa, aposentados... O pessoal recebia um percentual menor dos salários e entregava a maior parte aos seus empregadores, com devolução, inclusive, de parte das férias, 13º, vale alimentação e restituição do Imposto de Renda.
Então, até o grande mote – “Deus, pátria, família”, um slogan do fascismo – é uma mentira. Como pode o defensor da pátria “roubar” do Estado através das tais “rachadinhas” e afirmar que sua candidatura é “pelo bem do Brasil”? Ou seria pelo bem do clã Bolsonaro?
Só do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foram desviados 6,1 milhões de reais, como apurou documento de 291 páginas elaborado pelo MP-RJ e protocolado no Tribunal de Justiça do Rio. O deputado foi denunciado por peculato e lavagem de dinheiro.
Ah, mas isso é maracutaia do Flávio. “Tão importante quanto as provas reunidas para denunciar Flávio pela prática ilegal de rachadinhas e a lavagem de dinheiro foi constatar como diversos detalhes mostravam um aspecto de que Bolsonaro falava com frequência: seu gabinete e dos três filhos eram uma coisa só”, aponta a jornalista. Então, “a partir de 2003, Bolsonaro coordenava três gabinetes e tinha à disposição, entre o dele e os dos filhos, mais de sessenta nomeações”.
Quando diante do fato enganoso de que o Império brasileiro estava cumprindo a lei de 1831 que proibia a importação de escravos, por imposição dos ingleses, surgiu a expressão “para inglês ver”. A valorização da família por Bolsonaro é só “para evangélico ver”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Defesa da família, a hipocrisia de Bolsonaro. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU