“Uma nova fase começa: Economia de Francisco 2.0”. Entrevista com Alessandra Smerilli

27 Setembro 2022

 

Em química, o catalisador é uma substância capaz de aumentar a velocidade de uma reação e, ao mesmo tempo, de se regenerar. Uma boa metáfora para o encontro de três dias de Assis. O momento com o Papa Francisco e a assinatura do Pacto foram, ao mesmo tempo, a conclusão sugestiva de A Economia de Francisco 2022 e o princípio de A Economia de Francisco 2.0. Uma nova fase ainda a ser inventada. "E os jovens devem fazê-lo", ressalta a Irmã Alessandra Smerilli, secretária do dicastério para o serviço de desenvolvimento humano integral e membro da comissão científica da EdF, que acompanha desde 2019.

 

Cada vez que atravessa o Hogar – o grande centro de madeira, no centro da iniciativa –, a religiosa das Filhas de Maria Auxiliadora leva dezenas de minutos: os jovens a param para um cumprimento, uma selfie, uma dedicatória em um de seus livros. A Irmã Alessandra não se esquiva, pelo contrário participa da alegria compartilhada. Uma festa, porém, 'comportada': o povo da Edf não está num passeio. Dos adolescentes ao pessoal de 35 anos, todos sabem que estão em Assis para levar adiante um compromisso comum.

 

A entrevista com Alessandra Smerilli é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 25-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista. 

 

Irmã Alessandra, vamos reatar os fios do percurso. Três anos se passaram desde o convite do Papa Francisco aos jovens economistas.

 

Já é incrível...

 

Esse evento deveria ter acontecido há três anos. Então a pandemia mudou os planos. A julgar pelo resultado, talvez tenha sido o melhor. O que acha?

 

Em maio de 2019, o Papa Francisco convidou os jovens a se reunirem em Assis, subscreverem um pacto e iniciarem um processo. A pandemia mudou a ordem do percurso, acabando por fortalecê-la. Partimos do processo, que no meio tempo foi corroborado. Depois isso se tornou um evento que foi a culminação e, ao mesmo tempo, o prelúdio de uma nova etapa. Graças à parada forçada, os jovens não vieram apresentar ideias, mas projetos concretos, iniciativas já em andamento.

 

E essa é uma diferença importante. Não estamos falando de sonhos, mas de realidade.

 

No entanto, há aqueles que os acusam de serem apenas visionários um pouco malucos...

 

Para aqueles que pensam assim, sugiro que venham e vejam. Estive nas várias aldeias, nos doze grupos de trabalho em que os jovens estão divididos. E eu vi muita concretude. Desde os jovens bengalis que estão ajudando a formar um sindicato para os trabalhadores têxteis explorados até os israelenses engajados na produção de carne sintética.

 

O que vai acontecer agora? O que é A Economia de Francisco 2.0?

 

Os jovens vão defini-lo. Não há plano definido porque não está no estilo da EdF. Os organizadores sempre tentaram ser os 'cuidadores' do processo, canalizando-o quando era necessário sem, no entanto, pretender governá-lo. Se dissermos que este é um processo dos jovens, com os jovens, para os jovens, eles terão que escolher, para nos fazer entender, também com base nas propostas que surgiram nos grupos de trabalho, para onde nos orientar e que passos tomar.

 

Você, economista com experiência internacional, acredita ter aprendido algo com os jovens participantes da EdF nesses três anos?

 

Aprendi e continuo aprendendo. Esses jovens me ensinaram, com sua forma de trabalhar, acima de tudo, a flexibilidade. Quando estão convencidos de algo, seguem em frente mesmo que não seja um projeto perfeitamente estruturado. Eles têm um estilo mais fluido. No final, no entanto, fazem o que queriam fazer. E isso me dá muita esperança. Também fiquei encantada com a capacidade dos jovens de se conectar. Eles não são apenas nativos digitais, mas cidadãos do mundo: sabem entrar em relação imediatamente, principalmente quando se trata de dar corpo às ideias.

 

Descobri também que são capazes de dialogar. Aqui não temos pessoas que pensam excessivamente da mesma forma, mesmo em termos de teorias e perspectivas econômicas. No entanto, elas se escutam. E são boas em encontrar o que têm em comum em vez de apontar as diferenças.

 

Qual é o seu sonho para a EdF?

 

Que continue pelo número de anos suficiente para se tornar uma semente de transformação da economia. Talvez sem fazer muito barulho. Muita atenção corre o risco de queimar os processos. A Economia de Francisco deve crescer, seus rapazes e garotas precisam se fortificar, multiplicar suas conexões, adquirir mais experiências e conhecimentos. Naquele ponto, a economia começará a mudar.

 

 

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