26 Setembro 2022
O jesuíta: a prática é ótima, mas precisamos de uma sistematização também no nível do pensamento.
A entrevista é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 24-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Hoje não é o encerramento de A Economia de Francisco. O encontro de Assis é um momento crucial no processo de transformação da economia. Um momento de reflexão para prosseguir juntos com ainda mais impulso. É preciso muito para imaginar uma nova economia. Mas Gaël Giraud está otimista. A ponto de convidar os jovens participantes a escrever uma nova teoria econômica. Não sozinhos, no entanto. Para guiá-los e servirem de garantia diante dos céticos, numerosos cientistas, entre os quais o Nobel Joseph Stiglitz. Não se trata de uma proposta abstrata. O visionário jesuíta, pesquisador sênior do Centre National de la Recherche Scientifique, de Paris, ofereceu aos jovens um espaço no sítio da Universidade de Georgetown, da qual dirige o Programa de Justiça Ambiental. “Precisamos refundar a economia. A partir de uma nova prática e de uma nova teoria. Não pode haver uma sem a outra. Os jovens estão animados para experimentar novas práticas e isso é fundamental.
“Precisamos, no entanto, de uma sistematização”, explica o padre Gaël, no átrio do Teatro Lyrick, onde aproveita a conexão para responder a inúmeros e-mails. Em outubro será lançado na França seu novo livro, 'Composer un monde en commun'. "Esperamos que em breve também chegue à Itália", diz ele.
Por que devem ser os jovens a escrever a nova doutrina?
É a grande intuição do Papa Francisco. Foi ele quem lançou aos jovens o desafio de inventar uma nova economia porque aquela atual mata. O fato é que a pesquisa acadêmica está paralisada pela ideologia neoclássica e pela sua ortodoxia dogmática, desprovida de fundamento científico. Estou convencido de que se trata de pura ideologia. Constatei isso analisando os modelos minuciosamente, como matemático. Os dados não confirmam as teorias ou o fazem de maneira fraca.
Por onde começar para reelaborar a teoria econômica?
Dos bens comuns. Há uma forte tradição na Itália nesse sentido. Estou pensando na proposta de Stefano Rodotà de definir, em nível constitucional, a água como bem comum. Outro exemplo são as comunidades energéticas, como a de Amatrice que visitei em junho. Graças às fontes renováveis, ela é capaz de produzir autonomamente a energia de que necessita. Depois a divide entre os expoentes, imunes, portanto, aos atuais aumentos de preços. Uma novidade institucional além de tecnológica. A primeira é a parte fundamental, na qual temos que trabalhar.
O que quer dizer?
Precisamos de uma inovação institucional em todos os níveis: local, nacional e, sobretudo, internacional. É hora de formular 'meta-regras' para dirimir os conflitos de interpretação entre as regras, como dizia a Nobel Elinor Ostrom. O sistema criado após a Segunda Guerra Mundial não funciona mais. Vimos isso com a pandemia. E agora estamos vendo isso com a guerra na Ucrânia. A biodiversidade, a saúde, a cultura, os oceanos e a paz devem tornar-se bens comuns.
O problema, no entanto, é quem e como definir as 'meta-regras'.
Sim, mas não é uma questão insolúvel. Demonstraram-me isso os agricultores de uma pequena aldeia na Guiné Conakry que conheci em 2009, quando trabalhava como economista-chefe do Banco Francês de Desenvolvimento. Eles me explicaram que, ao se depararem com interpretações divergentes das regras, recorriam a um ancião de uma comunidade próxima, localizada a cerca de vinte minutos de distância. Trata-se de uma figura respeitada por todos e terceira no que diz respeito às partes, mesmo estando de alguma forma próxima. Ele era a 'meta-regra'. Bem, aqueles agricultores muito pobres foram mais sábios do que os fundadores da União Europeia. Quando, após a crise de 2008, houve o conflito entre a Grécia e a troika, a UE não tinha meta-regras para resolvê-la.
Os jovens estão à altura do desafio?
Eu os vi à obra: eles têm coragem, imaginação e espírito livre, ingredientes fundamentais para se rebelar contra o neoliberalismo desenfreado que quer privatizar tudo, até os corpos das mulheres, transformado em mercadoria pelo sistema da barriga de aluguel.
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“Vamos refundar a teoria econômica juntos”. Entrevista com Gaël Giraud - Instituto Humanitas Unisinos - IHU