O quebra-cabeça do papa emérito: O Papa Francisco reformulará as regras de renúncia?

Foto: Paul Haring | CNS

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26 Julho 2022

 

Com muitas especulações sobre se o Papa Francisco poderia renunciar e se ele poderia se aposentar para uma residência nos Jardins do Vaticano como Bento XVI, vale a pena analisar o que o papa realmente disse – e como isso se alinha com seu projeto mais amplo de reforma para a Cúria Romana e a Igreja Católica.

 

A reportagem é de Andrea Gagliarducci, publicada por Catholic News Agency, 20-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Em entrevista à emissora mexicana Televisa, o Papa Francisco revelou, mais uma vez, que não pretende abrir mão do ministério petrino. Se e quando o fizer, porém, ele não tomaria o título de Papa Emérito.

 

Em vez disso, Francisco se tornaria bispo emérito de Roma. Ele escutaria confissões e se dedicaria aos pobres.

 

Onde Bento e Francisco pensam diferente

 

Seus comentários recentes sugerem que o Papa Francisco pode ir morar no Palácio de Latrão, que é a sede do papa como bispo de Roma.

 

Nesta entrevista, o Papa Francisco também discutiu – em termos claros – como ele acha que o cargo de Papa Emérito deve ser definido e como ele interpretaria seu próprio papel após uma possível renúncia.

 

A concepção do ofício do Papa Francisco difere da de seu antecessor. Bento XVI decidiu assumir o título de Papa Emérito, para continuar vestindo branco, embora sem la pellegrina, que é o manto branco que simboliza a autoridade episcopal.

 

Bento XVI definiu os termos de sua renúncia em sua última Audiência Geral como papa em 27 de fevereiro de 2013: “Não pode mais haver um retorno à esfera privada. Minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não o revoga. Não volto à vida privada, a uma vida de viagens, reuniões, recepções, conferências, etc. Não estou abandonando a cruz, mas permanecendo de uma nova maneira ao lado do Senhor crucificado”.

 

Alguém permanece papa para sempre?

 

Na prática, Bento XVI distinguia entre o munus e o officium, ou seja, entre a função e o exercício da função. Uma vez eleito papa, ele permanece papa para sempre.

 

Em certo sentido, Bento XVI equiparou a eleição como papa a uma nova ordenação episcopal. O teólogo Karl Rahner, que enfatizava que o poder da ordem e o poder da jurisdição eram indissociáveis, passou a considerar o primado conferido com a eleição como Papa como o grau mais alto do sacramento da ordem. Segundo este critério, o início do ministério petrino do Papa representaria uma ordenação única.

 

O Papa Francisco, no entanto, planeja ser bispo emérito de Roma. Ele não teria mais o primado petrino e, portanto, voltaria a trabalhar na vida pública como confessor, e provavelmente também residiria no Palácio de Latrão.

 

Este papel foi delineado pelo padre Gianfranco Ghirlanda, canonista e cardeal a ser eleito no próximo consistório, em um ensaio de 2013 republicado por La Civiltà Cattolica.

 

Buscando uma reforma que funcione

 

O ensaio de Ghirlanda oferece muitas observações sobre o papel de um papa emérito, começando com o fato de que ordenação e autoridade são distintas uma da outra. A questão é fundamental e surgiu durante a reforma da Cúria Romana, quando os leigos foram autorizados a ocupar cargos nos departamentos da Cúria.

 

Se esse é o padrão, a ordenação episcopal não é mais um pré-requisito para a autoridade, muito menos a colegialidade com o Papa, que também é bispo.

 

Em suas declarações, o Papa Francisco parece não querer separar munus e officium. Um cessa com a cessação do outro, e quem os renuncia volta à sua vida anterior.

 

Será esta a reforma anunciada para o cargo de Papa Emérito? É possível, certamente. A extensão em que um bispo emérito de Roma pode influenciar a vida da Igreja também exigirá definição. Pela admissão do próprio Papa Francisco, tudo nos últimos anos funcionou para o caráter extraordinário de Bento XVI. Mas funcionaria da mesma forma com outro papa emérito?

 

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