07 Junho 2022
“O ataque mortal aos fiéis durante a missa na Nigéria é uma ação vil, covarde. Mas a Igreja agora não deve enviar mensagens de vingança, mas, por mais difíceis e quase não natural, proferir palavras de esperança e paz”. É o que afirma o padre Enzo Fortunato, escritor e colunista, um dos rostos mais conhecidos do franciscanismo. Depois do atentado de origem religiosa, o franciscano convida-nos também a juntar-nos às condolências do Papa, que, "enquanto se esclarecem os detalhes do ocorrido" - comunica a Sala de Imprensa da Santa Sé - "reza pelas vítimas e pelos país, dolorosamente atingido num momento de festa, e confia ambos ao Senhor, para que envie o seu Espírito para os consolar”.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Fortunato, quais são seus pensamentos e sentimentos diante das imagens de violência e morte na igreja de São Francisco em Owo, no estado nigeriano de Ondo?
Sinto-me desconcertado por esse vil atentado, que mais uma vez atinge não só mulheres e homens animados pela fé e pelo amor, mas também pessoas e crianças inocentes. Aquelas pessoas estavam realizando um dos atos mais importantes da vida, rezando no dia de Pentecostes, desarmados em seus corações e vivendo juntos a celebração cristã.
Agora, como a Igreja deve reagir?
Há três caminhos a seguir. Em primeiro lugar, a firme condenação, sem se nem mas, de todo ato que visa destruir o homem. A segunda é a oração: nunca poderei esquecer o que o Papa Emérito Bento XVI nos disse em 2011 em Assis, quando, invocando o dom da paz para a humanidade, lembrou que com a oração se pode sacudir o coração de Deus e, ao mesmo tempo, desperta a consciência e o coração do homem. A terceira é continuar a dizer basta ao vergonhoso comércio de armas.
A quem reivindica vingança o que você diria?
A Igreja deve ter cuidado para não passar para a pregação da vingança. É uma palavra que não pertence ao cristão, e não deveria pertencer ao homem. É esclarecedor repercorrer as passagens da Bíblia para ver como da “regra de ferro”, representada pela lei do talião, se chegou à “regra de prata”, “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você”, até à regra de ouro: "Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você". Somos chamados a isso. Ao diálogo, sempre e em qualquer situação.
Você representa o espírito franciscano de Assis: essas carnificinas podem atrapalhar o caminho inter-religioso e ecumênico?
O caminho ecumênico já sofreu uma ferida profunda com a invasão russa da Ucrânia. Agora, o comando homicida na Nigéria causou mais uma laceração na comunhão inter-religiosa. Mas absolutamente não devemos nos render, seria uma derrota. O homem de fé é animado pela esperança no futuro do homem, uma esperança que não morre e não decepciona.
Além dos autores e dos mandantes do ataque, você também vê responsabilidade indireta pelo sangue derramado na igreja nigeriana?
O fato de não cuidar dos países mais frágeis e débeis - em todos os níveis, político, social, humanitário - leva ao abandono de algumas regiões do mundo, que se tornam assim terreno fértil para os abusos.
Há poucos dias participei de um encontro com os Prêmios Nobel da Paz e da Economia: chegou-se a perceber o quanto é decisiva a ‘estratégia’ de solidariedade verdadeira e concreta para com os mais frágeis e indefesos, próximos e distantes. Só assim o mundo inteiro poderá progredir para o ‘bom viver’, sustentável e pacífico.
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Nigéria: “Ação covarde contra inocentes, mas a Igreja deve dialogar”. Entrevista com Enzo Fortunato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU