Nigéria. Dom Peter Okpaleke, que foi vítima de tribalismo, será cardeal

Dom Peter Okpaleke (Fonte: Diocese Católica de Ekwulobia)

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01 Junho 2022

 

A decisão do Papa Francisco de fazer dom Peter Okpaleke cardeal no consistório de agosto tem um valor simbólico fortíssimo.

 

A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix Africa, 31-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

O Papa Francisco enviou uma forte mensagem contra o tribalismo na Igreja Africana ao anunciar o bispo nigeriano Peter Okpaleke entre os 21 homens que serão feitos cardeais no consistório de agosto de 2022, no Vaticano.

 

O bispo de 59 anos, titular da Diocese de Ekwulobia, no sudeste da Nigéria, foi o centro de um conflito de seis anos na sua antiga Diocese, Ahiara. Na ocasião alguns padres e leigos insistiram em rejeitá-lo por sua etnia e o impediam de exercer seu ofício.

 

Bento XVI havia nomeado Okpaleke bispo de Ahiara em dezembro de 2012, mas o clero local e a população o impediam de entrar na catedral para tomar posse.

 

O Papa Francisco, que sucedeu a Bento alguns meses depois, pediu aos padres rebeldes que enviassem cartas se desculpando por seus comportamentos. Mas eles ainda rejeitavam o bispo.

 

Okpaleke submeteu sua renúncia ao Papa, que foi aceita apenas em 19 de fevereiro de 2018.

 

Renúncia da Diocese de Ahiara

 

“Conscientemente me convenci de que não é mais benéfico para a Igreja que eu permaneça bispo de Ahiara”, escreveu Okpaleke em uma carta pastoral anunciando sua renúncia.

 

“Não acredito que meu apostolado em uma diocese onde alguns padres e leigos são tão mal-intencionados para comigo possa ser eficaz”, disse ele.

 

A razão dada para a rejeição por parte dos sacerdotes e fiéis de Ahiara é a origem étnica de dom Okpaleke.

 

Embora seja do povo Ibo, que é maioria no sul da Nigéria, não é da etnia Mbaise, cujo território inclui a Diocese de Ahiara, criada em 1987.

 

Diante da hostilidade aberta de alguns de seus padres diocesanos, com Okpaleke precisou ser ordenado ao episcopado fora da diocese. A cerimônia aconteceu no seminário de Ulakwo, na vizinha Oweri, na esperança de que a situação se acalmasse.

 

Mas isso nunca aconteceu, mesmo depois que o papa expressou sua profunda consternação e a Conferência Episcopal da Nigéria ameaçou suspender os padres rebeldes.

 

À frente de uma nova diocese

 

Em 5 de março de 2020 – dois anos completos após aceitar relutantemente a renúncia de Okpaleke –, Francisco o nomeou o bispo da recém-criada Diocese de Ekwulobia.

 

A nova sede foi desmembrada da Diocese de Awka e é sufragânea da Arquidiocese Metropolitana de Onitsha.

 

O bispo de Awka, Paulinus Ezeokafor, agradeceu publicamente ao papa no dia em que a nova designação do bispo Okpaleke foi anunciada.

 

Uma mensagem forte

 

Mas a maioria dos observadores da Igreja na Nigéria nunca esperava que o papa fizesse do bispo sitiado um cardeal.

 

Muitos pensaram que o próximo chapéu vermelho do país iria para o arcebispo Ignatius Kaigama de Abuja, na capital nigeriana, ou para o carismático bispo Matthew Hassan Kukah, de Sokoto.

 

Mas Francisco os surpreendeu e, ao fazê-lo, enviou uma forte mensagem contra os critérios tribais ou étnicos que muitas vezes são usados para rejeitar padres e bispos no continente africano.

 

Em uma reunião com jovens durante sua visita ao Quênia em 2015, o papa denunciou o tribalismo como algo que está “devorando a sociedade como os cupins”.

 

“Não ao tribalismo!”, exclamou Francisco.

 

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