11 Mai 2022
“Jesus parecia entender o problema dos discípulos de Emaús; embora tivessem lido as Escrituras muitas vezes, eles não as entenderam, portanto, não creram. Peçamos a Jesus que nos ajude a entender, para que, quando as coisas acontecerem em nossas vidas, possamos olhá-las com os olhos de Cristo – e em vez de reclamar, sermos inspirados a esperar que coisas maiores aconteçam. Os discípulos não eram estranhos às Escrituras. Mas eles não tinham fé no que liam”, escreve a irmã Rosemary Wanyoike, em artigo publicado por Global Sisters Report, 11-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Irmã Rosemary Wanyoike, das Irmãs da Misericórdia, é formada em Enfermagem, trabalhou por anos no Quênia e Zâmbia com pessoas com HIV/AIDS. É diretora de formação da congregação no Quênia.
O Tempo Pascal é um tempo de alegria que nos dá um espírito de novidade; pode marcar um novo começo com muitas oportunidades de crescer novamente, especialmente de onde o futuro parece ser escuro. Todos nós desejamos nos mover apesar das lutas de ontem.
Eu creio que não há Páscoa sem Sexta-Feira Santa. Algumas vezes um momento difícil precede a alegria e a paz. Eu posso estar sobrecarregada se eu não perceber que desafios vêm carregados de significados e riqueza, e meramente eles se opõem. Foi isso o que aconteceu aos dois discípulos no caminho para Emaús? Nós não fazemos o mesmo? Mesmo quando as bênçãos estão em nossas mãos – tendo suportado as lutas bravamente – continuamos esperando que coisas maiores estejam prestes a acontecer sem relação com as experiências que tivemos. Às vezes, como esses discípulos, até fomos avisados do que esperar antes que nossos anseios mais profundos possam ser cumpridos.
Na sequência da morte de Jesus, os discípulos estavam profundamente entristecidos, como qualquer de nós estaria depois de perder nosso herói. Sua esperança de trazer um futuro brilhando foi tracejado. Eles sentem isso apesar de lerem sobre Jesus nas Escrituras Hebraicas, como ele os recorda na estrada, como conta o Evangelho de Lucas: “Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?” (Lucas 24, 26).
Nos últimos anos, tenho me desafiado a confiar na palavra de Deus. Se um amigo me diz que vem me visitar, não duvido, e muitas vezes nem preciso confirmar se virá. Então, por que é difícil acreditar na palavra de Deus, o criador de toda a vida? Quando me convidei a dar uma chance à palavra de Deus, experimentei uma grande confiança em Deus. Esse salto de fé é recompensador e percebo que minhas conversas mudam.
Os discípulos tinham ido a Jerusalém para a festa da Páscoa, um momento muito sagrado que significava seu relacionamento com seu Deus; Jerusalém representava um lugar de paz para eles. No entanto, o curso dos acontecimentos mudou desta vez: Jesus, seu grande mestre, curador, amigo e futuro rei, havia sido crucificado. Parecia-lhes que seguir a Cristo tinha sido inútil. Eles só podiam voltar para casa e começar tudo de novo. Eles se juntaram ao resto do povo da cidade para discutir as últimas notícias, dominados pela dor e pela decepção. Aparentemente, a mensagem das Escrituras não falava com eles.
De repente, Jesus se juntou a eles, ouviu o que eles estavam falando e depois participou da conversa. Eles não o reconheceram. Muitas vezes, não somos diferentes desses discípulos. Quando as coisas vão contra as nossas expectativas, é como se uma lâmpada se apagasse. No entanto, essa escuridão é o ponto de entrada para que coisas maiores aconteçam, um momento para a paz ser restaurada. Foi isso que a crucificação, morte e ressurreição de nosso Senhor envolveram: um momento sombrio seguido de uma grande alegria.
Jesus parecia entender o problema deles; embora tivessem lido as Escrituras muitas vezes, eles não entenderam, portanto, não creram. Não é de admirar que, mesmo depois de tudo que Jesus havia ensinado e feito, nunca se deram conta de que ele era o tão esperado Messias. Ele disse a eles; “Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo o que os profetas falaram!” (Lucas 24, 25). E então ele explicou a eles as passagens nas Escrituras Hebraicas que eram sobre ele.
Isso marcou o início da mudança no conteúdo da conversa. Depois disso e do partir do pão, eles o reconheceram. Seus corações estavam queimando e seus pés estavam reenergizados, tanto que não puderam passar a noite em Emaús. Imediatamente eles começam sua jornada de volta a Jerusalém, testificando sobre o Senhor ressuscitado.
A conversa no caminho de Emaús foi toda de desespero, perda e decepção. Por outro lado, o caminho para Jerusalém foi de alegria, anúncio e testemunho de sua experiência, das Escrituras que finalmente penetraram em seus corações e mentes. Eles entendiam as passagens das Escrituras. Jesus venceu a morte. Nós também estamos felizes e nos identificamos com seu triunfo.
Neste momento – apesar de como as coisas estão indo para qualquer um de nós – estamos a caminho de Jerusalém, compartilhando com nossos irmãos e irmãs a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. As leituras destes dias também estão falando sobre a mesma mensagem. Às vezes me pergunto como tratamos a Páscoa como um evento do qual participamos, depois voltamos às nossas conversas comuns, lamentando quase tudo!
Acho que o segredo de manter nossa conversa no caminho de Jerusalém é começar a ler as passagens das Escrituras de maneira renovada. Tendo lido, acreditemos no que elas estão nos dizendo. Jesus explicou as Escrituras aos discípulos no caminho de Emaús, e também as explica a nós, enquanto as lemos.
Peçamos a ele que nos ajude a entender, para que, quando as coisas acontecerem em nossas vidas, possamos olhá-las com os olhos de Cristo – e em vez de reclamar, ser inspirados a esperar que coisas maiores aconteçam. Os discípulos não eram estranhos às Escrituras. Mas eles não tinham fé no que liam, então, na verdade, não havia diferença entre eles e aqueles que não leram.
Quando aprofundamos nossa fé em Deus, seremos capazes de fazer grandes coisas e, por sua vez, glorificar a Deus. Vemos isso no que os apóstolos foram capazes de fazer após a ressurreição. Por meio deles, o número de crentes aumentou; eles operaram sinais e maravilhas, e lemos que “chegaram ao ponto de transportar doentes para as praças, em esteiras e camas, para que Pedro, ao passar, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles” (Atos 5, 15). Assim como somos transformados pela ressurreição de Cristo, também podemos transformar a vida dos outros.
O segredo da paz é a fé em Deus. O presente de Jesus aos seus discípulos após a ressurreição foi a paz. Só podemos acessar essa paz se crermos. Então, depois de suportar nossos desafios pacientemente, podemos cantar como os israelitas no retorno do exílio: “Sim, Javé foi grande conosco, e por isso estamos alegres” (Salmo 126, 3). Com a fé vem o dom do Espírito Santo, e com isso Jesus nos dá o poder de perdoar. A facilidade com que perdoamos mostra que somos de fato o povo da ressurreição.
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Estamos a caminho de Emaús ou de Jerusalém? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU