06 Abril 2022
“O ‘Novo Ensino Médio’ virou uma propaganda em prol das mudanças estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). O correto seria chamá-las de “contrarreforma” porque vão gerar um atraso no currículo estudantil brasileiro”.
A reportagem é de Vinícius Emmanuelli, estagiário e aluno do curso de jornalismo da Unisinos.
A precarização do Ensino Médio brasileiro parece ser uma política de Estado na história do país. Fica nítido que, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, o governo que se instalou logo em seguida adotou medidas neoliberais em vários setores da sociedade, especialmente na Educação. O fantasma da fragilização do ensino da década de 1990 voltou à tona em pleno século XXI.
O professor Dr. Lucas Barbosa Pelissari abordou o assunto na palestra “A Contrarreforma do ensino médio e o (não) futuro dos jovens no Brasil”, transmitida na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e pelas redes sociais do IHU no dia 17-03-2022.
O termo “Novo Ensino Médio” virou uma propaganda em prol das mudanças estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). O correto seria chamá-las de “contrarreforma” porque vão gerar um atraso no currículo estudantil brasileiro. Segundo Pelissari, a reforma em curso propõe o abandono do ensino de conhecimentos científicos e investe na “profissionalização” dos adolescentes.
De acordo com ele, as reformas em si não necessariamente negativas. No contexto capitalista, esclarece, “elas podem gerar melhoria na condição de vida dos trabalhadores e da população em geral. Elas têm um caráter progressista no sentido de apontar para uma realidade futura de superação do próprio capitalismo, ainda que elas não sejam suficientes para apresentar um programa de ruptura ao capitalismo”.
Entretanto, a atual reforma se assemelha, mesmo divergindo em alguns pontos, com aquela implantada em 1990.
Na conferência promovida pelo IHU, Pelissari refletiu sobre o termo "anti cientificismo” para explicar as atuais mudanças. “O atual Ensino Médio, o chamado ‘Novo Ensino Médio', é anticientífico fundamentalmente por provocar uma mudança brusca na perspectiva de organização do currículo. Nós tínhamos um currículo organizado por conhecimentos científicos, aqueles que são os pilares da prática científica”, destaca, ao explicar que a reforma do ensino médio propõe um currículo focado em habilidades e competências.
O mais “curioso” disso tudo é que os adolescentes considerados da classe dominante vão continuar cursando um Ensino Médio puramente científico, que os prepara para o mundo de trabalho com saberes científicos, enquanto grande parte da população terá acesso a um modelo de ensino que não oferece oportunidades para sair da “casta” em que estão inseridos.
Lucas Pelissari concedeu uma entrevista ao IHU no início de março, explicando que a ditadura militar trouxe à tona essa maneira vazia e perigosa de ensinar. “Em relação ao discurso tecnicista, as teorias tecnicistas datam, no Brasil, das décadas de 1960 e 1970, período da ditadura militar, em que havia uma tese, ou um conjunto de teses, que defendia que a educação atuaria na sociedade como um insumo econômico. Ou seja, a educação deveria estar sempre a serviço da economia e do mercado de trabalho, quase como uma relação direta e mecânica entre educação e trabalho. Essa é uma tese que se mostrou falsa do ponto de vista histórico”.
Ele pontua ainda que a atribuição do sistema educacional não gera empregos no país. “O que gera emprego é uma política de emprego e renda, uma política de desenvolvimento, uma política industrial. A educação, claro, pode contribuir para a elevação dos níveis de instrução e de aprendizado dos níveis culturais dos trabalhadores, mas ela em si não gera emprego. Ela é um ingrediente do valor da força de trabalho, mas não é um insumo econômico”, complementa.
A programação dos demais eventos promovidos pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU está disponível para consulta aqui.
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Golpe na educação brasileira: reforma do Ensino Médio expõe interesses políticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU