31 Março 2022
Os pobres gostam da esmola dos meninos porque não os humilha, e porque os meninos, que precisam de todos, se assemelham a eles... A esmola de um homem é um ato de caridade: mas aquela de uma criança é ao mesmo tempo uma caridade e um afago.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 27-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para os alunos das gerações do passado, era muitas vezes uma leitura obrigatória que, no entanto, eles realizavam com vontade porque aquelas páginas, às vezes um pouco lacrimosas, eram confiadas a narrativas emocionantes e exemplares. Estamos falando daquele "diário" escolar intitulado Coração, a obra mais famosa que Edmondo De Amicis publicou em 1886. Do conto Pobres extraímos essa sugestiva observação sobre um gesto que tem em sua denominação um significado menos retórico do que da atual percepção: "esmola", em sua etimologia grega, refere-se a uma partilha da miséria alheia, uma "piedade" afetuosa e partícipe.
Portanto, é verdade o que o escritor observa: o adulto muitas vezes realiza a oferta aos pobres de maneira um tanto incomodada e até rude; o menino, que se assemelha um pouco ao indigente sentado no chão, também por sua baixa estatura e pela dependência econômica dos pais, está no nível dele e é mais espontâneo.
Ele não apenas faz caridade, mas é como se estivesse fazendo um afago, e seu gesto torna-se uma lição para o adulto altivo e distante. De fato, Cesare Pavese sem hesitação em seu diário, Il mestiere di vivere, reiterava amargamente que “a gente dá esmola, para livrar-se do miserável que a pede”.
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