04 Março 2022
A terra está cheia de males, cheio o mar; doenças para os humanos, algumas de dia, outras à noite, por conta própria vêm e vão sem cessar, males aos mortais levando em silêncio.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 27-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quase parece ler algum tipo de roteiro do que foi a pandemia que espalhou um véu escuro sobre o nosso planeta. Forte é a personificação da doença que vagueia pelas ruas das cidades e as estradas do interior, espalhando as sementes do sofrimento que guarda num cesto envenenado. Quem pinta esse cenário com seus versos é, em vez disso, um famoso poeta grego do século VII a.C., Hesíodo, em seu poema de 828 hexâmetros As obras e os dias, uma celebração do empenho operacional assíduo de homens e mulheres, conduzido com retidão, mas também com fé.
Acima, de fato, Zeus vigia e, em última análise, garante uma ordem global, mesmo que nós não estejamos cientes disso. Ainda que com grandes distâncias não apenas cronológicas, mas sobretudo teológicas, o próprio Jó bíblico reconhecia a nossa incapacidade de explicar o mal que permeia a história, mas também enfatizava que existe um projeto superior capaz de dar sentido à dor e às provações. É um plano transcendente que Deus compõe e governa. No entanto, é legítimo que a criatura humana dirija o seu clamor para o alto, e é significativo que no cristianismo Deus não nos liberte do sofrimento e da nossa limitação de criatura, mas que desça através do Filho ao sofrimento para nos sustentar e nos ajudar a sair dela junto com ele, em um percurso de paixão e ressurreição.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
#males. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU