26 Março 2022
Enquanto os olhos de meio mundo estão sobre a Ucrânia, outro pedaço do planeta enfrenta uma catástrofe diferente. Já em ação antes da invasão decidida por Vladimir Putin, mas agora em extraordinária aceleração. Uma catástrofe alimentar.
A reportagem é de Danilo Taino, publicada por Corriere della Sera, 24-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de produtos agrícolas: a destruição da guerra e as sanções contra Moscou tornam agora difícil - veremos se impossível – fazer com que cheguem a quem os adquire. Um destino demasiado pesado para os Países pobres. Em 2020, a Rússia forneceu 21% das exportações globais de trigo e a Ucrânia 9% (números da OCDE). O milho exportado foi 2% russo, mas 12% ucraniano. Os fertilizantes produzidos na Rússia cobriram quase 23% do total exportado no mundo. Nos últimos cinco anos, os dois países exportaram em média 75% do óleo de girassol mundial e 32% da cevada.
A OCDE também desenhou dois cenários para imaginar as consequências da invasão da Ucrânia sobre o comércio de grãos. No menos dramático - recessão na Rússia e na Ucrânia e 20% menos áreas cultivadas - as exportações mundiais de trigo cairiam 7%, as de milho 3% e as de outros cereais mais de 5%. No cenário extremo - em que as exportações são bloqueadas em ambos os países - o trigo colocado nos mercados globais cairia 13%, o milho pouco menos de 10% e os outros cereais 7,5%. É difícil estabelecer qual cenário é mais realista: as Nações Unidas estimam que até 30% da terra cultivável da Ucrânia está se tornando zona de guerra.
Desde a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, o preço do trigo no mundo subiu mais de 20%, o da cevada 33% e o de alguns fertilizantes quase 40%. Os suprimentos já eram caros devido à pandemia e a seca já havia forçado muitos países pobres a importar mais alimentos do que o de costume: agora, com os preços em alta e escassez de mercadorias disponíveis nos mercados, as carestias se tornam uma realidade.
O resultado do todo é o alarme das Nações Unidas: consideram que esta pode ser uma crise sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial. O desastre já está nos níveis mais altos em países como Somália, Etiópia, Iêmen, Síria, Sudão do Sul, Afeganistão. Em pouco tempo, outras nações provavelmente também entrarão no cone escuro da carestia.
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Nos países pobres já se percebe a carestia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU