23 Dezembro 2021
"Uma reflexão cristológica que tenha como ponto de partida as imagens de Jesus de hoje, passe pela história da Igreja, retome o caminho trilhado pelas primeiras comunidades cristãs e proponha a reconstrução das imagens histórica de Jesus é a proposta deste manual de cristologia, intitulado apenas como: Cristologia (Vozes, 2021, 248 p.), de autoria de Benedito Ferraro. O referido autor é professor aposentado da PUC-Campinas. É assessor: a) da Ampliada Nacional das CEBs e da Articulação Continental das CEBs; b) da Pastoral Operária de Campinas. Presidente do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP)",escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro Cristologia (Vozes, 2021, 248 p.), de autoria de Benedito Ferraro.
Uma reflexão cristológica que tenha como ponto de partida as imagens de Jesus de hoje, passe pela história da Igreja, retome o caminho trilhado pelas primeiras comunidades cristãs e proponha a reconstrução das imagens histórica de Jesus é a proposta deste manual de cristologia, intitulado apenas como: Cristologia (Vozes, 2021, 248 p.), de autoria de Benedito Ferraro. O referido autor é professor aposentado da PUC-Campinas. É assessor: a) da Ampliada Nacional das CEBs e da Articulação Continental das CEBs; b) da Pastoral Operária de Campinas. Presidente do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP).
Cristologia (Vozes, 2021, 248 p.), de autoria de Benedito Ferraro
Ferraro mostra que as imagens de Jesus se modificaram no decorrer da história, pois manifestam a incidência que a fé tem na realidade social e, ao mesmo tempo, revelam as influências da vida vivida na fé. As imagens de Jesus revelam também as cristologias subjacentes, pois elas operam a ligação da fé como o contexto social e explicitam o modo como a Igreja se relaciona com a sociedade envolvente. Assim, percorrendo as imagens de Jesus, no decorrer da história da Igreja, descobrimos como os cristãos/ãs o compreendem e vivem, e como a fé cristã se envolve com as transformações que se operam na sociedade (p. 25-50).
Há segundo o autor uma interação entre cristologia e situação histórica, pois Jesus Cristo é a presentado como aquele que se torna a explicação última do universo. Deste modo, quando há mudanças filosóficas, culturais, existenciais, econômicas, ecológicas, haverá mudança na compreensão da cristologia. A cristologia busca mostrar como Jesus Cristo pode responder às questões sobre o sentido da vida, morte, liberdade, amor, justiça, vida do planeta, do nosso relacionamento com o universo, abrindo perspectivas para o seguimento de Jesus se torne operante no interior da história humana. No entanto, Ferraro observa que para a busca deste sentido/ fonte de significações e para não reduzirmos a cristologia à soteriologia, devemos refazer o caminho trilhado pelas comunidades cristãs que orientaram as suas reflexões em duas direções: a história de Jesus e a situação concreta das comunidades (p. 51-67).
Frente a isso é preciso compreender os motivos soteriológicos que influenciaram a história da cristologia e perceber a intima relação entre ambas no decorrer da história (p. 68-91). Fundamentado em W. Pannenberg, Ferraro faz notar que todas as ideias cristologicas são embasadas em motivos soteriológicos, podendo-se mesmo dizer que será possível explicar as variações da cristologia, pelo menos em parte, pelas variações da ótica soteriológica. Isso nos coloca diante da pergunta: por que Deus se encarnou? (p. 92-114). Ferraro aprofunda a história desta questão que perpassa toda a história da cristologia e mostra que há uma corrente que articula a encarnação ao fato de o ser humano ter pecado e outra corrente aponta para a encarnação como o ápice da criação, afirmando que seria irracional fazer da obra mais perfeita de Deus depender do pecado humano.
Jesus, como profeta messiânico-apocalíptico, anuncia o Reino de Deus como mensagem central da sua pregação (p. 115-137). O anúncio do Reino é feito num mundo conflitivo. Assume os conflitos e aponta para a necessidade de conversão. E conversão significa, fundamentalmente, mudar a mentalidade e, para tanto, há a exigência de se mudar os critérios de julgamento. Uma das exigências, nesta mudança de mentalidade, é a convicção de que a presente situação não é a última possibilidade da história, pois Deus possibilita alternativas. Deste modo, a mensagem do Reino, revestida da roupagem apocalíptica, recria a profecia, mostrando que a história tem futuro e, portanto, o ser humano pode ter esperança, por pior que se apresente a presente realidade (p. 138-148).
Ferraro destaca que as controvérsias evangélicas revelam a prática histórica de Jesus e manifestam também o processo de oposição crescente contra Jesus e que termina no plano de matá-lo. Revelam a interpenetração do político e do religioso e nos orientam na compreensão dos motivos da perseguição e da morte de Jesus (p. 149-169). Resgata-se, por isso, a significação política e teológica da morte de Jesus, isso porque, no decorrer da história, as interpretações da morte de Jesus sofrerão o impacto dos diferentes contextos históricos. O vocabulário e as imagens empregadas pela tradição teológica revelam-nos as diferentes tendências de cada época, o que torna a compreensão deste vocabulário e destas imagens extremamente importante para se entender o papel que a morte e a paixão de Jesus desempenham nos diferentes contextos históricos (p. 170-188).
O autor busca aproximar a morte de Jesus a morte dos mártires e excluídos de nosso tempo, tirando a legitimidade dos sacríficos que se apresentam como inevitáveis, buscando encontrar os motivos para quebrar a legitimidade da lógica da exclusão. A morte de Jesus mostra que Deus não ficou indiferente às vítimas e sofredores da história. Por isso, ela deve se tornar motivo de esperança e engajamento solidário na construção de uma convivência humana respeitadora de toda comunidade de vida. Jesus é a fonte de vida, solidariedade, libertação e salvação (p. 189-204). Ferraro mostra ainda que assumindo a causa do oprimido e aproximando-se dos deserdados e excluídos, o crucificado que é o ressuscitado tona-se a esperança dos que esperam contra toda esperança. A ressurreição nos é apresentada na perspectiva da superação da morte. Pela fé pascal a morte não tem mais a última palavra (p. 205-218).
Por fim, Ferraro salienta que na América Latina e Caribe, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) foram protagonistas de uma nova imagem de Jesus: o Jesus Cristo libertador. A partir da prática dos cristãos e cristãs, inseridos nas lutas de libertação econômica, política, cultural, pedagógica, psicológica, erótica-sexual, ecológica, uma imagem de Jesus foi sendo forjada. Com ela se pode refazer a reconstrução da imagem de Jesus mais em consonância com sua prática histórica, sobretudo, reinterpretando a morte de Jesus como consequência de vida voltada aos pobres e excluídos de seu tempo. Nessa perspectiva, compreende-se que a melhor pregação de Jesus é a constituição de comunidades coerentes e consequentes com sua prática histórica (p. 219-232).
Dispomos de um excelente “manual de cristologia, que conta com as principais doutrinas, elementos bíblicos e acontecimentos que constroem a história da cristologia” (p. 18). A profundidade das reflexões, a “exposição didática somada a uma arejada reflexão teológica” (p. 18), permitirá reconhecer que o “melhor anúncio de Jesus Cristo é constituição de comunidades coerentes e consequentes com sua prática histórica” (p. 23). Assim, “o grande desafio para a cristologia e para as Igrejas é fazer uma educação na fé que seja coerente como o projeto do Reino anunciado por Jesus e que continue suscitando esperança e gerando utopia” (p. 22).
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Cristologia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU