11 Dezembro 2021
"Os Ministros da Palavra têm uma função mediadora. Eles são representantes da Palavra de Deus junto ao povo, e do povo junto a Deus. Nessa missão como ministros e ministras da Palavra, temos Jesus como modelo e guia", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro Formação e espiritualidade do Ministro da Palavra (São Paulo: Santuário, 2021), de autoria de Carlos Mesters e Francisco Orofino.
A palavra ministro significa: servidor, empregado, ajudante, assistente, servente, servo. Assim sendo, o Ministro da Palavra irradia para os outros algo da experiência que ele mesmo tem de Jesus. Só pode trabalhar com a Palavra quem se deixa trabalhar pela Palavra, que é o próprio Deus. Nesta perspectiva caminha o livro: Formação e Espiritualidade do Ministro da Palavra (Santuário, 2021, 104 p.), de autoria dos biblistas Carlos Mesters e Francisco Orofino.
Os Ministros da Palavra têm uma função mediadora. Eles são representantes da Palavra de Deus junto ao povo, e do povo junto a Deus. Nessa missão como ministros e ministras da Palavra, temos Jesus como modelo e guia. Frente a isso, os referidos autores mostram como Jesus foi Ministro da Palavra: como ele se formou, como deixou a Palavra de Deus tomar conta de sua vida, como cresceu, como chamou outras pessoas para serem ministros ou ministras da palavra, como as formava e como as enviou em missão e o que ele pede dos ministros que foram enviados em missão.
Jesus aprendeu a ser Ministro da Palavra (p. 9-18), em casa: na família, todos os dias (p. 11-12); na sinagoga em comunidade, uma vez por semana (p. 12-13); no Templo no meio do povo, nas romarias de cada ano (p. 13-14); no contexto mais amplo da escola – a Casa da Letra (p. 14-15), do trabalho na roça e na carpintaria (p. 15-16), da cidade na convivência com o povo em Nazaré (p. 16-17).
Jesus era a Palavra viva de Deus para todos (p. 19-26). Eis alguns gestos de como Jesus observava a lei de Deus, a Palavra de Deus:
1) o reflexo da encarnação da Palavra de Deus na vida de Jesus: Jesus era amigo, carinhoso, atencioso, pacífico, compreensivo e comprometido, sábio, de oração (p. 20-22);
2) Jesus escutava a voz do Pai no grito do pobre (p. 22-23);
3) os gestos e atitudes de Jesus mostram como Ele ouvia e encarnava a Palavra de Deus (p. 24-26). Jesus vivia agarrado ao Pai (p. 27-28); sendo rico se fez pobre (p. 28-30); enfrentou os desafios de ser a Palavra viva de Deus, pois foi tentado a seguir pelo caminho do messias glorioso, nacionalista, e não pelo caminho do messias servidor e sofredor (p. 30-32), por isso, sua oração tinha como finalidade: ficar agarrado ao Pai (p. 33-36).
Jesus formava seus discípulos envolvendo-os na missão (p. 37-38); a metodologia por Ele usada eram as parábolas ajudando as pessoas a estar bem por dentro da vida e da Bíblia (p. 39-40). Os conteúdos e recursos que Jesus mais insistia eram: o testemunho de vida, a vida e a natureza, as grandes questões do momento e as perguntas do povo. Onde encontrava gente para escutá-lo, Jesus ensinava a Boa-nova nas sinagogas, andando pelo caminho, em reuniões, na montanha, nas praças, no Templo de Jerusalém. Seu ensino era na repetição do conteúdo, a fim de favorecer a memorização. Para instruir seus discípulos e o povo, Jesus se orientava pela Bíblia. Na formação que dava, estava atento ao processo de formação dos discípulos, ajudando e forçando os discípulos a viverem num processo permanente de vigilância e de revisão, sobretudo, diante da mentalidade de grupo fechado, mentalidade do grupo que se considera superior aos outros, mentalidade de competição e prestígio, mentalidade de quem marginaliza o pequeno, mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante (p. 39-47).
Formação e espiritualidade do Ministro da Palavra (São Paulo: Santuário, 2021)(Foto: Ed. Santuário/divulgação)
Jesus também enviou os discípulos em missão (p. 49-54): a missão dos 72 discípulos: viver e irradiar a vida em comunidade, por isso ele insistia na hospitalidade, na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida dos excluídos.
Não era fácil ser ministro da Palavra de Deus. Havia muitas maneiras de usar e interpretar a Bíblia, a Palavra de Deus. Jesus ensinava os discípulos como usar e interpretar corretamente a Palavra de Deus. Por isso teve conflitos com os doutores da lei, que tinham uma outra interpretação da Lei (p. 55-59). Jesus ultrapassava a lei da letra e buscava o sentido do espírito que deve animar sua observância (p. 59-60). Seu método para usar/ler/interpretar a Bíblia é descrito por Lucas 24,13-35:
a) partir da realidade, ter presente a situação do povo;
b) usar a Bíblia para iluminar a vida e a história do povo;
c) criar um ambiente fraterno de oração e partilha;
d) ressuscitar e voltar para Jerusalém (p. 56-65).
Descrito de outra forma, o método de Jesus consiste em: aproximar-se das pessoas, caminhar junto, escutar a conversa. Jesus faz perguntas, pois, quer saber o que eles estão falando. Ele só começa a usar a Bíblia depois que elas conseguiram expressar o problema que as fazia sofrer. Jesus usa a Bíblia não para dar uma aula sobre a Bíblia, mas para iluminar o problema que as fazia sofrer. A Bíblia, ela sozinha, não abriu os olhos dos discípulos. A Bíblia, isto sim, fez arder o coração. O que abriu os olhos e os fez enxergar foi o gesto da hospitalidade, de sentaram junto à mesa para rezar e partilhar o pão. Aí os olhos se abriram e eles mesmos ressuscitaram. Imediatamente, eles levantaram e voltaram para Jerusalém (p. 65-66).
O que chama a atenção na leitura dos evangelhos é a bondade, a ternura e a simplicidade que Jesus acolhe as pessoas, sobretudo as marginalizadas: pobres, mulheres, estrangeiros, samaritanos, leprosos, prostitutas, publicanos, crianças. Em tudo que Jesus vive e anuncia transparecem os traços do rosto de Deus como Pai: Abba, Papai (p. 67-72).
Nas primeiras comunidades cristãs temos como Ministros da Palavra:
a) Maria, a mãe de Jesus (p. 73-74);
b) os pastores, pessoas sem nome, preferidas por Deus (p. 75-76);
c) Maria Madalena, apóstola dos apóstolos (p. 76-77);
d) a mulher cananeia, estrangeira de outra raça e de outra religião (p. 77-79);
e) Pedro, apóstolo de Jesus e ministro da palavra (p. 79-80);
f) Barnabé, animador atuante as primeiras comunidades (p. 81-82);
g) os sete diáconos, os primeiros ministros da palavra (p. 82-83);
h) Estevão, diácono e ministro da palavra (p. 84-85);
i) Filipe, diácono, ministro da palavra e evangelista (p. 85-86);
j) Paulo, apóstolo de Jesus Cristo e ministro da palavra (p. 86-88);
l) Lídia, a primeira animadora das comunidades cristãs na Europa (p. 89-90);
m) Febe, diaconisa da Igreja de Cencreia e ministra da palavra (p. 90-92);
n) Lóide, Eunice e Timóteo, uma família animadora, ministra da palavra (p. 92-93);
o) Aquila e Priscila, casal que animava as comunidades de base (p. 93-95);
p) Andrônico e Júnia, casal amigo, bem atuante na comunidade de Roma (p. 95-96).
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O Documento da CNBB 108, intitulado: Ministério e celebração da Palavra recorda que em muitas dioceses e paróquias do Brasil, ministério da Palavra – com este ou outro nome – já existe há décadas. Em 1973, a CNBB enviou um questionário a todas as circunscrições eclesiásticas do país, perguntando sobre a existência de instituições e experiências de formação para novos ministérios. Já nesta época, constatou-se que havia formação para Ministros da Palavra. Em muitas dioceses, criou-se o ministério da Palavra e tomaram-se as providências adequadas para formação, acompanhamento e fortalecimento dos ministros da Palavra.
Sabemos o quanto se faz necessário um conteúdo direcionado para esse ministério. Frente a isso este livro de autoria de Carlos Mesters e Francisco Orofino oferece formação e espiritualidade para os Ministros da Palavra, mostrando quem são e o que lhes cabe, a partir da Bíblia e da liturgia. Todo Ministro da Palavra e os que desejam sê-lo terão grande proveito com este livro, pequeno no tamanho, mas imenso em conteúdo.
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Formação e Espiritualidade do Ministro da Palavra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU