Pandemia. Num mundo doente, aqui estão as palavras necessária para mudar depois desta “noite”

Foto: Unsplash

Mais Lidos

  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Abin aponta Terceiro Comando Puro, facção com símbolos evangélicos, como terceira força do crime no país

    LER MAIS
  • A farsa democrática. Artigo de Frei Betto

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

14 Dezembro 2021

 

"E se a metáfora da viagem é a mais clássica para atualizar o nosso vocabulário da mudança (o homo viator: aqui também a palavra decisiva pode ser morar, isto é, morar no caminho), Padre Spadaro surpreende o leitor com a inserção do ringue de luta entre as sete palavras", escreve Fabrizio D'Esposito, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 13-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Morar nas palavras é como morar na possibilidade, parafraseando Emily Dickinson, onde a "monja rebelde" vestida de branco em seu poetar sobrepunha a fé à dúvida na mesma imagem, aquela da noite. Hoje a noite do mundo é o pesadelo da pandemia em que vivemos e as palavras estão sempre presentes para indicar a realidade, porque as palavras continuam sendo sempre a chave melhor para compreender tudo. Mas a que palavras recorrer para "imaginar o futuro"?

 

Fiamma nella notte.
Sette parole per immaginare il futuro

Essa é a questão que Antonio Spadaro enfrenta em seu último ensaio Chama na noite. Sete palavras para imaginar o futuro [em tradução livre]. Jesuíta e diretor de La Civiltà Cattolica, grande estudioso da literatura estadunidense e colaborador do Fatto, Padre Spadaro identifica sete palavras para refletir sobre o mundo pós-Covid: viagem, fronteira, ringue, broto, coisas, Logos e pandemia.

Tendo em mente uma premissa fundamental, que para aprofundar o significado das palavras é indispensável abrir-se à mudança: “Estamos acostumados com o provável, com o que as nossas mentes supõem que, estatisticamente falando, possa acontecer. Em vez disso, muitas vezes nos falta a visão do possível, que às vezes é relegado ao mundo da utopia”. Daí o verso dickinsoniano, justamente, "I dwell in possibility", e também um questionamento do Papa Francisco inspirado no Apocalipse: "Estaremos dispostos a mudar estilos de vida" em um mundo "contagiado e desacelerado?".

Nessa direção, o livro do Padre Spadaro escancara um sólido portão literário e teológico sobre o mistério da vida e da morte. Um mistério que questiona a todos, não apenas os crentes. Aliás, deste ponto de vista, o mérito do jesuíta é o de libertar de uma gaiola estática a busca pelo Absoluto, com a curiosidade típica de quem explora sem preconceitos a "biblioteca" universal. No capítulo dedicado a Cristo, ao Logos, reluz uma pérola preciosa do Grande Cego argentino Borges: “Não o vejo / e insistirei em procurá-lo até ao dia / dos meus últimos passos sobre a terra".

O capítulo que mais deve à literatura estadunidense é aquele dedicado à fronteira: entendida de forma dupla como "terreno externo e território interior", para depois chegar à fronteira da vida após a morte magistralmente atravessada por Edgar Lee Masters com a famosa Antologia Spoon River.

E se a metáfora da viagem é a mais clássica para atualizar o nosso vocabulário da mudança (o homo viator: aqui também a palavra decisiva pode ser morar, isto é, morar no caminho), Padre Spadaro surpreende o leitor com a inserção do ringue de luta entre as sete palavras. De Jacó, que saia aos tapas com o Anjo no Gênesis à memorável confronto entre Muhammad Ali e George Foreman em 1974, há espaço para a escritora Flannery O'Connor que observava: "A escrita de um romance digno desse nome é uma espécie de duelo pessoal".

 

Leia mais