Com Francisco, voltamos a Dante

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09 Dezembro 2021

 

Os pecados da carne não são os mais graves”, dizia Francisco nessa segunda-feira, 6, no avião: o povo sempre soube disso, e há também os provérbios que o atestam. Os moralistas, porém, até ontem, levantavam a voz e defendiam que o pecado do sexo é sempre grave.

 

A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 07-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Há algum tempo, os rankings foram revistos, mas Francisco é o primeiro a dizer isso como papa. No entanto, não é a primeira vez que ele o diz, e, somando as suas menções a esse assunto, temos indicações sobre quais são, para ele, os pecados mais graves.

 

Nessa segunda-feira, ele falou da soberba e do ódio. Outra vez, ele havia mencionado a vaidade. Muitas vezes, ele indicou como gravíssimos o comércio de armas, as guerras, o tráfico de seres humanos, o pertencimento às máfias. Uma vez, ele disse que a pedofilia é um sacrilégio.

 

Quanto à gravidade do pecado sexual, em certa ocasião Francisco havia chegado a inverter a classificação tradicional, ao dizer a Dominique Wolton (no livro “O futuro da fé” [Ed. Planeta]) que “os pecados mais leves são os da carne”. Com isso, aproximou-se de Miguel de Unamuno, que, na “Vida de Dom Quixote e Sancho” (1905), afirmava sobre a prostituta Maritornes que “dificilmente se pode dizer que ela peca”. Unamuno, por sua vez, seguia o povo, que sempre levava em conta a fraqueza da carne.

 

“Pecài de mona Dio li perdona, pecài de pantaeòn pronta assoiussiòn”: afirma um provérbio vêneto, que não faz diferença entre os pecadores homens e mulheres, e quer que todos sejam absolvidos. O medo do sexo tem sido forte nas igrejas cristãs dos últimos séculos. Mas nem sempre foi assim.

 

Dante coloca os luxuriosos no segundo círculo do Inferno, logo depois do limbo: isto é, considera todos os outros pecados piores. Esta é a sua ordem de gravidade: gulosos, avarentos e pródigos, iracundos e preguiçosos, heréticos, violentos, fraudulentos, traidores. Portanto, podemos dizer que, com Francisco, voltamos a Dante, ou seja, à Escolástica, a Tomás de Aquino.

 

A voz grossa contra a sexualidade – no que diz respeito à Igreja Católica – foi levantada pelos manuais para confessores, que, durante séculos, afirmaram que, nas coisas do amor, não há matéria leve: “In re venerea non datur parvitas materiae”. É por causa do celibato dos consagrados que o rigor contra a corporeidade alcançou notas agudas nos séculos da Contrarreforma.

 

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