02 Dezembro 2017
Um homem de uma “grande espiritualidade”. “Um grande especialista em comunicação política”. “Uma mistura entre franciscano, por sua simplicidade, e jesuíta, pela sua intelectualidade”. Estas são algumas caracterizações traçadas pelo sociólogo francês Dominique Wolton, do Papa Francisco, após ter feito uma dúzia de longas entrevistas com ele, cujo conteúdo está agora reunido em um livro, Política e Sociedade, que em breve será lançado na Espanha.
A reportagem é de José Luis Picón, publicada por La Opinión de Málaga, 01-12-2017. A tradução é de André Langer.
Wolton, que apesar de ter uma formação católica define-se como “um cientista agnóstico e laico”, foi atraído pela figura de Jorge Mario Bergoglio por ser “o primeiro papa não europeu, o papa da globalização e o primeiro papa jesuíta”. Descobriu em suas conversas com ele que se trata de um papa “muito original” que “fala como um leigo” e que “não é um sacerdote convencional”.
“Seu envolvimento político vem de sua grande espiritualidade, e esta tem como norte viver os evangelhos”, disse Wolton, que na última sexta-feira esteve em Málaga para a primeira apresentação na Espanha do livro, cuja tradução para o espanhol será publicada no primeiro trimestre de 2018, após um grande sucesso de vendas na França.
Na sua opinião, o Papa tem “uma abordagem de esquerda, mas baseada na revolução já proposta nos Evangelhos de exigir generosidade dos ricos e identificar Cristo com os pobres”. “Essa ideia de partilha vem do Evangelho, mas sua tradução política situa-o como alguém de esquerda”, de acordo com Wolton.
Ele acrescenta que o Papa “não é um marxista, mas sua leitura do Evangelho o faz defender os pobres, e que ele aposta no impedimento de fraturas, na construção de pontes e no diálogo permanente”.
Francisco “gosta do contato físico, comer com as pessoas, tocá-las, não é nada protocolar, rompe com a imagem tradicional do protocolo de um papa e isso o torna muito popular”.
Ao empreender este projeto, a primeira surpresa para Wolton foi que não havia “nenhum acordo prévio”, e depois descobriu em Francisco sua “inteligência e sua fé, uma pessoa confiante, elegante e com um grande senso de humor”, que não quis “fiscalizar” a redação do livro.
Ele acredita que o escolheu para escrever a sua obra porque gosta dos intelectuais franceses “se não são conformistas”, não é italiano, não é jornalista e não é sacerdote.
Ele insiste em que Francisco “detesta os pretensiosos, os cardeais de aeroporto”, e, na realidade, permitiu que incluísse no livro “algumas críticas muito fortes à cúria”.
“Ele é a favor da presença de mulheres na cúria e de que os divorciados possam comungar, e não se opõe à união civil entre homossexuais, desde que não seja chamada de matrimônio”, acrescentou.
Nos seus encontros, falaram “quase nada” de futebol, porque o Papa gosta de futebol mais do que Wolton, e Francisco fazia “piadas sobre franceses, europeus e especialmente argentinos, porque são muito pretensiosos, e dessa forma de certa maneira fazia uma autocrítica”.
Para Wolton, que é o atual diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), Francisco implementou “um estilo de papado mais simples, mais pastoral e menos oficial”, e será “muito difícil retroceder aos estilos anteriores depois deste papa”.
“Ele está empenhado em fazer com que as mulheres tenham um lugar na cúria; não dá grande importância à sexualidade, no que rompe com a tradição católica”, e mostra-se “mais tolerante e menos doutrinal com as formas da família”, uma vez que dá grande importância à família, “tanto a uma família natural, como a uma família recomposta”, de acordo com Wolton.
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Dominique Wolton. “Francisco é um Papa muito original, que fala com um leigo e não é um sacerdote convencional” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU