01 Novembro 2021
Vários dos bispos católicos mais conservadores dos Estados Unidos recorreram às redes sociais digitais no dia 29 de outubro para expressar sua desaprovação em relação ao encontro do Papa Francisco com o presidente Joe Biden no Vaticano – e a maioria dos seus comentários ocorreu antes de o presidente mencionar que o papa lhe dissera para continuar recebendo a Comunhão.
A reportagem é de Brian Fraga, publicada em National Catholic Reporter, 29-10-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os prelados, alguns deles entre os críticos mais persistentes do papa, criticaram a visita usando uma abordagem passivo-agressiva no Twitter conhecida como “subtweeting” – referindo-se indiretamente ao fato de Francisco ter concedido uma audiência privada a um político católico pró-escolha que muitos conservadores acreditam que não deveria poder receber a Comunhão.
“Eu temo que a Igreja tenha perdido a sua voz profética. Onde estão os Joões Batistas que enfrentarão os Herodes dos nossos dias?”, tuitou o bispo Thomas Tobin, de Providence, Rhode Island, que no dia 27 de outubro também acessou o Twitter para pedir que Francisco desafiasse Biden “nesta questão crítica” do aborto.
O “apoio persistente [de Biden] ao aborto é uma vergonha para a Igreja e um escândalo para o mundo”, escreveu Tobin anteriormente.
O cardeal Raymond Burke, um arquiconservador que tem sido um crítico aberto e consistente de Francisco desde que o pontífice o removeu do seu cargo no Vaticano em 2014, pediu a seus 39.000 seguidores no Twitter que rezassem “pela Igreja nos EUA e em todas as nações, para que ela seja fiel e claro na defesa da santidade da Sagrada Eucaristia e na salvaguarda das almas dos políticos católicos que violem gravemente a lei moral”.
Burke também tuitou um link para um artigo do dia 28 de outubro que ele escreveu, no qual Burke argumentou que, de acordo com o Código de Direito Canônico de 1983, a Sagrada Comunhão deveria ser negada a políticos católicos que apoiam a legalidade do aborto.
“O testemunho da Igreja Católica sobre a beleza e a bondade da vida humana, desde o seu primeiro momento de existência, e a verdade da sua inviolabilidade foram gravemente comprometidos, a ponto de os não católicos acreditarem que a Igreja mudou ou mudará aquele que é, na verdade, um ensinamento imutável”, escreveu Burke.
O bispo Richard Strickland, de Tyler, Texas, agradeceu a Burke no Twitter pela sua “declaração clara do ensino católico”. Strickland também pediu aos seus seguidores no Twitter que rezassem “pelo arrependimento de todos os que apoiam o assassinato dos nascituros”.
“Eu imploro a todos para que ofereçam orações de arrependimento, reparação e expiação por todas as blasfêmias contra Jesus Cristo, especialmente a recepção do Seu Corpo e Sangue sem pensar em confessar o pecado mortal. Essa profanação do Seu sagrado Corpo e Sangue é uma abominação”, escreveu Strickland em outro tuíte.
Alguns dias atrás, Strickland também tuitou com aprovação um link para um discurso que o ator Jim Caviezel, do filme “A Paixão de Cristo”, proferiu em um congresso em Las Vegas, centrado no desmascarado mito do Q-Anon, uma conspiração de direita que gira em torno de falsas alegações por indivíduos anônimos.
O arcebispo conservador Salvatore Cordileone, de San Francisco, tuitou uma citação de suas próprias palavras em um artigo do dia 29 de outubro na revista The Atlantic, com foco na fé católica de Biden. Cordileone disse que, à medida que o Partido Democrata “se move mais para a esquerda”, “Biden evolui com isso”.
Cordileone também disse que “o aborto é a questão mais proeminente, e podemos ver como [Biden] se move cada vez mais na direção do aborto”.
A conta do Twitter do arcebispo de Los Angeles, José Gomez, presidente da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, postou mais de uma dezena de tuítes no início de 29 de outubro, vários deles se referindo aos ensinamentos da Igreja Católica sobre questões de vida.
“O aborto e a eutanásia dizem respeito à questão mais fundamental em qualquer civilização humana: quem pode viver e quem não pode – e quem decide essa questão?”, tuitou Gomez.
Na sua qualidade de presidente da Conferência Episcopal nacional, Gomez está supervisionando uma polêmica iniciativa para redigir uma declaração sobre a “coerência eucarística”, que surgiu a partir de uma comissão que ele formou em resposta à eleição de Biden em novembro passado.
Também no dia 29 de outubro, o bispo Michael Burbridge, de Arlington, Virgínia, tuitou: “Nestes tempos desafiadores em que o Evangelho e as nossas crenças fundamentais são frequentemente rejeitadas, rezemos pela graça de dizer com São Paulo: ‘Eu falo a verdade em Cristo’”.
Outras personalidades católicas e conservadoras assumiram uma postura mais abertamente crítica. Lavern Spicer, candidato republicano ao Congresso da Flórida, tuitou uma foto de Biden e de Francisco com a legenda: “Comunismo”.
Enquanto isso, o conservador apresentador Raymond Arroyo, da EWTN, em resposta a relatos de que Francisco havia encorajado Biden a continuar recebendo a Comunhão, opinou no Twitter: “O papa vai contra seus próprios bispos estadunidenses (e o direito canônico) sobre isso. Será interessante ver como isso se desdobrará”.
Durante sua reunião de 75 minutos, de acordo com o Vaticano, os dois líderes mundiais discutiram as mudanças climáticas, assim como a luta contínua contra a pandemia da Covid-19 e as necessidades dos migrantes e refugiados.
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Bispos dos EUA tuitam suas críticas ao encontro do Papa Francisco com Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU