13 Agosto 2021
Nada contra a Academia acolher textos com posição ideológica dos seus membros desde que atendam as premissas mínimas do método científico no sentido do compromisso com a verdade dos fatos e do decoro civilizatório.
O artigo é Jorge Alberto Benitz, engenheiro e escritor, publicado por Jornal GGN, 12-08-2021.
Lendo um interessante artigo da revista Piauí, 178, de julho de 2021, intitulado “ No Pior Clube”, de João Gabriel Lima sobre a preocupante situação de 5 países (Hungria, Polônia, Índia, Brasil, Turquia) cujos governantes estão, de um modo ou outro, empenhados em desgastar o processo democrático, deparei-me com a informação de que no período da República Velha (1889-1930) houve alta na democracia e no período Vargas como um todo baixa. Esta tese é baseada em análise sobre a evolução política do Brasil de Fernando Bizarro, pesquisador brasileiro do Instituto de Pesquisas Afro-Latinos- Americanas da Universidade Harvard, em parceria com Michael Coppedge, fundador do V-DEM (Instituto ligado a universidad e de Gotenburgo, Suécia, que está empenhado em radiografar os regimes políticos no planeta).
Nada contra a Academia acolher textos com posição ideológica dos seus membros desde que atendam as premissas mínimas do método científico no sentido do compromisso com a verdade dos fatos e do decoro civilizatório. No entanto, um pesquisador de uma universidade como Harvard publicar um documento defendendo uma tese que beira o fake news, isto é, classificando todo o período Vargas (1930-45), não restringindo esta classificação ao período do Estado Novo, como grau baixo de democracia e a República Velha do liberalismo plutocrático e sua política colonialista café com leite como de alto grau democrático, é dose. Pior, para usar um termo em voga nestes tempos de CPI da Covid, é narrativa com maniqueísmo ideológico de direita e paroquialismo de muito baixo nível.
Clássico exemplo daquilo que Antonio Candido desmonta em sua fala no documentário 3 Antonios e 1 Jobim vide link aqui, quando diz “A gente fica muito chocado porque estamos nutridos dos conceitos de liberalismo e democracia, segundo a oligarquia. Oligarquia que prega: bons somos nós, votamos nós, nos elegemos nós. Logo adiante ele não se constrange em dizer que Getúlio quebrou a oligarquia, preparou o Brasil moderno.”
Sobre esta questão reitero o que escrevi, na sequência, sobre esta fala de Antonio Candido no artigo “Sempre Antonio Candido” que saiu publicado no jornal Sul21: ”
Aquela plateia distinta de intelectuais mais um artista consagrado como Tom Jobim ficou muda diante um discurso de um intelectual paulista, embora costumasse dizer ser um mineiro nascido no Rio, respeitado que não sintoniza com o discurso fajuto da democracia para poucos feito pela democracia café com leite que, provavelmente, era mais palatável para socialistas como Antônio Houaiss e Antônio Callado que odeiam, com justa razão, o Getúlio repressor do Estado Novo e estendem este ódio para o Getúlio de qualquer época, mas que dada a intervenção do chará Antonio Candido ficaram engasgados e sem discurso para rebater seu discurso. E Jobim que tinha começado tudo aquilo para enaltecer seu avô que lutou contra ele em 32, ficou sem palavras, provavelmente, contrariado. Para ser justo, Callado até concordou com Candido quando este disse que Getúlio teve consciência do papel histórico que tinha, acentuando o termo segundo Getúlio. Ouvir isso vindo de um intelectual paulista dá a dimensão da grandeza intelectual de um Antônio Candido como pensador que, ainda que socialista, é liberto de preconceitos ideológicos e paroquiais em prol de uma visão de país.”
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República Velha com alto grau democrático e período Getulista com baixo grau? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU