22 Junho 2021
Os Legionários de Cristo deviam ser a grande esperança católica da América Latina, mas os crimes sexuais do seu fundador mexicano enfraqueceram a congregação permanentemente.
A reportagem é de Diego Calmard, publicada em La Croix International, 18-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O nome do padre Marcial Maciel não aparece mais em nenhum dos documentos oficiais da congregação. Mas a Legião de Cristo, a congregação religiosa masculina fundada pelo falecido padre mexicano em 1941, ainda é profundamente afetada pelas ações de seu fundador.
Maciel foi acusado de cerca de 60 estupros e outras formas de corrupção. A maioria de seus crimes veio à tona após a sua morte em 2008. Mas eles mergulharam a sua congregação em uma longa crise.
A Legião de Cristo já foi aclamada como o futuro da Igreja no México, o país com a segunda maior população católica do mundo. Mas, no capítulo mais recente da ordem, os Legionários (como o grupo é mais conhecido) falaram de uma “emergência vocacional, marcada por um declínio constante em novas admissões”.
Dez anos atrás, seu diretório geral listava cerca de 2.273 membros. Hoje, esse número despencou para 1.455 membros.
Presente em 21 países, a Legião conta com quatro bispos, 970 padres e 481 seminaristas. Um terço deles está no México, onde o número de padres permanece estável em 385 membros.
Cristian Borgono, ex-membro e criador da página do Legioleaks no Facebook, fala de uma lacuna geracional.
“Os membros mais velhos permanecem, mas são poucos os seminaristas. A grande maioria dos 300 membros da instituição que saíram eram mais jovens”, diz.
Diante dessa crise, a Legião tenta agora acertar as contas com o seu passado. No fim de março, ela revelou outros 27 nomes de padres que haviam abusado sexualmente de 175 menores.
Desde a morte do fundador, as autoridades da Igreja têm ajudado as vítimas. O arcebispo Franco Coppola, núncio papal no México, encontrou-se com elas em 2016, quando foi pela primeira vez ao país.
Ele afirma que não houve mais acusações de abuso contra os Legionários.
Apesar disso, a Legião não está mais em ascensão dentro da Igreja mexicana.
Mas, segundo o Pe. Ramos, presbítero da Cidade do México, a Conferência dos Bispos do México – que não quis responder às nossas perguntas – “abre as suas portas a todos os institutos, e este não é uma exceção”.
“Eles são conservadores, mas seu trabalho religioso tem valor real”, diz ele.
O arcebispo Coppola concorda, apontando para os 80 colégios e universidades que a congregação opera.
“A Legião cumpre uma missão fundamental esquecida pela Igreja: o acompanhamento espiritual dos jovens”, observa o núncio.
Marcelo Bravo, um legionário que leciona teologia no Pontifício Ateneu Regina Apostolorum de Roma, diz que sua ordem vai aonde outros não vão.
“Cancún-Chetumal é um território que nos foi atribuído nos anos 1960, e temos paróquias lá”, afirma.
O território, que já foi uma área desabitada ao longo da costa do Caribe, logo poderá se tornar uma diocese.
Bravo afirma que a Legião ainda mantém sua influência “por meio de obras apostólicas ou sociais e de suas escolas”.
“A Legião é um paciente no caminho da recuperação”, disse o arcebispo Coppola, oferecendo um voto de confiança.
A congregação divulgou recentemente um relatório chamado “Verdade, Justiça e Cura” como um ato de arrependimento.
Mas nem tudo está bem.
“O novo diretor dos Legionários no México e na América Central, Pe. Alberto Siman, enfrenta resistências internamente”, lamenta o núncio papal.
A crise pode ser superada? Borgono, um ex-legionário, é cauteloso.
“Levará algum tempo para purificar a organização”, diz ele. “Não devemos esquecer que o Pe. Siman e outros líderes atuais eram próximos ao fundador.”
Alberto Athié, ex-padre e coautor do livro “La volundad de no saber” [A vontade de não saber], diz que o último relatório da Legião “reflete, acima de tudo, o medo da instituição de perder seus benfeitores”.
A Legião de Cristo ganhou influência entre a pequena elite do México.
Marta Sahagun, esposa do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006), tem sido uma grande apoiadora.
“Eles haviam criado o Clube de Roma, uma espécie de quinta coluna infiltrada pela mídia e pelos poderes político e econômico”, diz Bernardo Barranco, sociólogo das religiões.
De fato, Maciel foi o padre que oficiou o casamento de Carlos Slim, o magnata da mídia mexicano que já foi considerado o homem mais rico do mundo.
A Universidade Anahuac, localizada nos nobres subúrbios da Cidade do México, é conhecida como a instituição carro-chefe da Legião. Ela é mais conhecida pela sua lista de ex-alunos de destaque do que pela sua excelência acadêmica, o que permitiu que a congregação religiosa mantivesse a sua posição entre a elite.
Mas o fechamento de várias escolas mostra o declínio da influência da Legião no México.
“Os Legionários tinham dois objetivos: ser uma máquina de treinar padres e de ganhar dinheiro”, disse Roberto Blancarte, ex-embaixador do México junto à Santa Sé.
Sua riqueza adquirida, estimada em bilhões de dólares, continua contaminando a instituição.
José Barba, que foi molestado por Maciel enquanto estava no seminário, afirma categoricamente: “Será difícil resgatar a organização do seu atual quadro ético e moral”.
Os Legionários do México se recusaram a comentar esta reportagem.
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Escândalos enfraquecem Legionários de Cristo no México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU