18 Junho 2021
“Os números do Istat não me surpreendem, os sinais do aumento da pobreza absoluta já chegavam ao sagrado convento por meio de cartas, telefonemas e pedidos de ajuda. Vivemos não só uma pandemia, mas também uma crise econômica”. O padre Enzo Fortunato, diretor da sala de imprensa do convento de Assis e autor do best-seller Francesco, il ribelle, alerta: “Tudo isso não é apenas um sinal, mas coloca em discussão toda a estrutura de produção”.
A entrevista com Enzo Fortunato é de Luca Monticelli, publicada por La Stampa, 17-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
As famílias numerosas e os menores são os que mais sofrem. Como se pode intervir?
Precisamos de uma política para as famílias e inverter a tendência de declínio dos nascimentos, lembro-me do grito de alarme do Papa Francisco quando há algumas semanas disse: "Todos os anos desaparece uma cidade de duzentos mil habitantes".
O Norte da Itália piora mais que o Sul, como você lê esse dado?
É surpreendente porque agora no Sul se vive o dia a dia enquanto o Norte é a locomotiva da Itália. Se mesmo esta parte do país é profundamente afetada pela crise, é preciso colocar em prática um plano de desenvolvimento que seja sustentável. Caso contrário, existe o perigo de um retrocesso. Uma coisa é certa, pior do que a crise só existe o risco de desperdiçá-la. Devemos nos perguntar quais são os problemas estruturais e como resolvê-los. Um horizonte de pensamento que deveria animar as ideias é a superação da lógica do descarte. Em vez de eliminar o que ‘não funciona’, devemos reparar o que não vai bem, dar às pessoas a possibilidade de libertar as potencialidades e o talento.
Você ficou convencido com o Plano Nacional de Recuperação e Resiliência preparado pelo governo?
É convincente desde que seja usado para superar a economia injusta que mata o homem. Não podemos nos permitir um modelo em que uma pequena minoria da população mundial possua metade da riqueza, como nos lembra o Papa Francisco.
A renda de cidadania mitigou o impacto da pandemia, o que você pensa sobre essa medida?
Há coisas que podem ser melhoradas, mas ajudou muitas pessoas que não tinham esperança.
Como mudou a vida dos estrangeiros depois de um ano e meio de emergência?
Nesta semana visitei o centro da Caritas de Roma. Fiquei impressionado ao ver tantas famílias italianas e estrangeiras tanto no armazém quanto no prédio onde dormem à noite. Os pobres têm grande capacidade de integração, não fazem distinção entre si. Devemos ter cuidado para evitar exclusões, é errado dizer ‘primeiro nós e depois os estrangeiros’, melhor juntos.
Em outubro, será realizada em Assis a iniciativa "The Economy of Francesco" com jovens economistas e empresários. Você se encontrou com eles?
Sim, junto com o bispo Domenico Sorrentino, a irmã Alessandra Smerilli, o diretor científico do evento Luigino Bruni e o frei Marco Moroni que é o guardião do sagrado convento. Reuni os testemunhos de alguns jovens que estão certos em ter esperança em um mundo melhor porque acreditam em uma economia com rosto humano. Se o enriquecimento investido nas pessoas se torna uma bênção, há muitos exemplos onde esse milagre está acontecendo. Estou pensando no Portugal, onde um empresário tem apostado nos sem-teto como guias turísticos. Em Verona e Gênova, onde muitas pessoas trabalham com a reciclagem de tecidos de empresas da moda.
Você está realizando a campanha “Com o coração, em nome de Francisco”, quais resultados alcançaram?
Em um ano ajudamos 440 famílias e centenas de empresas à beira da falência. Essa atividade solidária dos Franciscanos de Assis vai até 30 de junho, as doações podem ser feitas com um sms solidário no 45515 ou no site.
O futuro lhe preocupa?
Com a crise perdemos um milhão de empregos e no curto prazo enfrentaremos uma situação dramática. Mas tenho esperança de que os italianos consigam reconstruir o país com um novo impulso de iniciativa e novidade. Acredito que uma nova página de renascimento econômico e social possa ser escrita.
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Aumento da pobreza. “Telefonemas e cartas de ajuda, estamos vivendo um drama” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU