Pelo menos 120 padres católicos morreram de Covid-19 na Índia no mês passado, ou seja, uma média de quatro por dia, enquanto a pandemia ceifa cerca de 4.000 vidas diariamente em todo o país.

A reportagem é de Saji Thomas, publicada em UCA News, 16-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O padre capuchinho Suresh Mathew, editor da revista Indian Currents, listou os nomes, as dioceses e as congregações religiosas de 117 padres que morreram no período de 10 de abril a 14 de maio.

“A lista está incompleta. O número de mortos obviamente aumentará, pois não temos detalhes completos dos padres que morreram durante esta segunda onda”, disse o padre Mathew à UCA News no dia 15 de maio.

Dos 117 padres listados, 48 são de diferentes ordens religiosas. Os jesuítas estão no topo da lista, com 19 mortos.

O número de mortes aumentará quando mais informações estiverem disponíveis de todas as 174 dioceses da Índia, disse o padre.

“Mesmo esta lista inicial é muito alarmante, pois temos apenas cerca de 30.000 padres católicos, e, se quatro morrem diariamente, é uma questão de grande preocupação para todos nós”, disse o padre Mathew.

Padres estão morrendo por falta de atendimento médico

A lista de padres falecidos inclui presbíteros religiosos e diocesanos que trabalham para as três Igrejas de rito católico na Índia – a latina, a siro-malabar e a siro-malankara.

“Muitos padres estão morrendo por falta de atendimento médico oportuno. É uma situação horrível”, disse o bispo Gerald Almeida, de Jabalpur, no Estado de Madhya Pradesh.

Desde meados de abril, a Índia tem relatado mais de 300.000 novos casos por dia, e os hospitais estão lutando para superar a falta de leitos, de oxigênio e de medicamentos vitais.

Os doentes lotam corredores e complexos de hospitais, enquanto muitos morrem em ambulâncias que esperam do lado de fora dos hospitais em busca de atendimento médico.

“Estou chocado ao saber que tantos padres morreram, quando os padres e a vocação ao sacerdócio são muito escassos no país”, disse Dom Almeida.

“Descobri que o medo da morte é muito alto entre os nossos padres e freiras, por isso quero lhes dizer que eles não estão sozinhos e que estamos com eles.”

“Todos nós devemos garantir que a saúde mental deles seja protegida e mantida positivamente para superar esta calamidade.”

A Diocese de Jabalpur, de Dom Almeida, criou um centro de quarentena especial para padres e freiras, a fim de garantir seu tratamento e aumentar a confiança entre eles.

Pelo menos 26 freiras e 14 padres estão em tratamento no centro de quarentena, onde quatro enfermeiras estão de plantão para cuidar deles. Um médico os visita diariamente.

Todos os padres e freiras são instruídos a relatar imediatamente se sentirem febre, mesmo que fraca, ou dor de cabeça, ou qualquer outro problema de saúde. As pessoas consideradas positivas para a Covid-19 são transferidas para o centro de quarentena, que é equipado com instalações médicas básicas e oxigênio.

“Nós apenas transferimos os pacientes críticos para hospitais especializados. Cuidamos dos outros até que se recuperem”, disse Dom Almeida.

Padres arriscam a vida visitando famílias

Ele abriu o centro depois que um de seus padres morreu na primeira onda da Covid-19 no ano passado.

Uma freira que morreu na diocese não relatou seu caso à diocese ou ao centro de tratamento. A maioria das pessoas morre porque não recebe os cuidados adequados no estágio inicial, disse ele.

Um padre católico mais velho, que não quis ser identificado, disse que a saúde mental precária é um grande problema entre os padres, “embora a causa de sua morte seja uma infecção pandêmica”.

“A maioria dos padres sofre imensamente com o seu isolamento em situações como esta. Seu contato público é restrito durante os períodos de lockdown. Apesar de anos de treinamento para o trabalho pastoral, eles são convidados a não ter contato com as pessoas. Isso é chocante para muitos padres”, disse ele ao UCA News no dia 15 de maio.

“Muitos padres arriscaram suas vidas visitando famílias e realizando serviços pastorais durante a última Semana Santa, quando as restrições governamentais foram amenizadas, mas a pandemia estava se espalhando.”

A Organização Mundial da Saúde descreveu a situação da Covid na Índia como “extremamente preocupante” depois que o país relatou 3.980 mortes e 326.000 novos casos no dia 14 de maio.

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