13 Mai 2021
Na arquidiocese do estado de Karnataka, atingida pela segunda onda de pandemia que deixou a Índia de joelhos, os fornos de cremação improvisados aumentam enquanto os cemitérios cristãos da cidade estão lotados. O arcebispo Peter Machado: “Todos os dias vou em busca de um pedaço de terra para não abandonar os nossos defuntos. Mas a esperança ainda não morre”.
A reportagem é de Federico Piana, publicada por Vatican News, 12-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Índia está cada vez mais enfraquecida pela segunda onda de pandemia. Os últimos dados divulgados pelo governo informam que, nas últimas 24 horas, os infectados foram 329 mil enquanto as mortes ultrapassaram a cifra de 3.800. Na arquidiocese de Bangalore, uma aglomeração urbana do populoso estado de Karnataka, estão se multiplicando os fornos crematórios improvisados em enormes pilhas de lenha, enquanto os quinze cemitérios cristãos da cidade estão completamente lotados.
O arcebispo de Bangalore, monsenhor Peter Machado, há dias está empenhados numa exaustiva busca por terrenos livres onde possa dar um sepultamento digno e uma última despedida aos cadáveres que, dia a dia, aumentam cada vez mais. “Também hoje - diz ele - fui procurar um terreno um pouco distante da cidade, perto de uma igreja que tem uma área pouco utilizada. Infelizmente, porém, os moradores locais não veem com bons olhos o enterro dos mortos, eles têm medo disso. Então, conversei com um chefe da região para entender como proceder sem chamar muita atenção. Por enquanto só conseguimos escavar quinze sepulturas, devido ao solo muito duro”.
Na sua arquidiocese, Monsenhor Machado também criou uma força-tarefa cuja tarefa é lidar com os enterros em massa: uma operação que exige caridade, amor, abnegação. “Essas pessoas - diz ele - protegidas por um kit de prevenção e divididas em pequenos grupos, enterram os mortos dizimados pelo vírus em várias áreas. Entre eles há também quatro padres que dão a bênção aos corpos. Não podemos fazer os funerais, porque em muitos cemitérios não há lugar para celebrar a missa. Em muitos casos, porém, a Eucaristia é celebrada na igreja depois do sepultamento”.
Em Bangalore, porém, não faltam apenas cemitérios. Como no resto do país, leitos hospitalares, oxigênio e remédios são escassos. É por isso que a ajuda da Igreja, unida a outras confissões cristãs, não demorou a agir. O arcebispo Machado explica que “na cidade existem quatro unidades de saúde católicas e cinco pertencentes a protestantes. Trabalhamos em simbiose e o governo está muito satisfeito com a nossa atividade. Minha arquidiocese também disponibilizou salas de aula que foram transformadas em centros Covid, onde os casos menos graves são tratadas e as vacinas são administradas”.
Uma dor que aflige o coração de Monsenhor Machado é também a impossibilidade de poder celebrar publicamente as Santas Missas. Mas ele não perde a esperança: “Todos os dias, transmitimos a missa online em duas línguas locais e em inglês. Entre as pessoas há uma grande necessidade de fé: muitos, na casa, construíram um pequeno altar e, ao acompanhar a missa ao vivo, acendem velas em sinal de devoção. A religiosidade, apesar da situação dramática que estamos vivendo, permanece sempre muito viva”.
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Índia. Bangalore. ‘Não sabemos onde enterrar os mortos’, diz o bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU