17 Março 2021
“E esta seria a Igreja em saída? Esta Igreja me assusta. Deveria estar sempre com as mãos estendidas, ir ao encontro dos outros e lembrar que para Jesus a verdade não é uma doutrina a ser ensinada, mas o bem a ser feito. E em vez disso sai com essas tomadas de posição”. Alberto Maggi, 75, é um dos biblicistas italianos dos mais respeitados. Em seu Centro Giovanni Vannucci de Estudos Bíblicos em Montefano, centenas de pessoas se reúnem há anos para encontrar respostas que a Igreja não é capaz de oferecer.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por Repubblica, 16-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Padre Maggi, por que a Igreja deveria abençoar os casais homossexuais?
Por que não deveria? Se duas pessoas vivem juntas, fazem o bem, vivem com generosidade e se amam, por que não deveriam encontrar alguém que as abençoe? Casas, animais, objetos são abençoados, mas duas pessoas que se amam não. Mas felizmente onde há amor está Deus, por isso duas pessoas homossexuais que se amam não têm nada a temer.
O Vaticano diz que essas uniões não são para a procriação.
Também a minha vida de sacerdote não está aberta à procriação. Assim como a de Jesus que não repetiu o adágio bíblico ‘crescei e multiplicai-vos’. Ele nos incentivou a estar abertos aos outros e para fazer isso você não precisa procriar. Aqui se jogam fardos nos ombros das pessoas, fardos que nem se consegue carregar. É muito triste.
Ao longo dos séculos, a Igreja mudou de ideia em muitas questões. Por que não sobre os homossexuais?
Eu espero que chegue logo a isso. Demorou dois mil anos para dizer que não só a procriação é importante no casamento, mas também a sexualidade. Demorou décadas para se certificar, só para dar outro exemplo, que os suicidas pudessem ser enterrados em terra consagrada... Eu digo aos homossexuais, não esperem que a Igreja os reconheça, sejam felizes primeiro.
O mesmo também vale para os divorciados que voltam a casar?
Para a Igreja é mais grave se divorciar do que matar. Aqueles que matam são perdoados, aqueles que se divorciam não são porque não podem mais voltar a se casar. Absurdo.
Entre outras coisas, Jesus nunca se expressou sobre a homossexualidade.
Nunca. No entanto, a Igreja o faz. Anteontem se lia o Evangelho com as palavras de Jesus a Nicodemos. Jesus disse que quem faz o mal odeia a luz. Mas depois, clamorosamente, ele não fala de quem faz o bem, mas diz que a verdade é fazer o bem. A verdade não é uma doutrina, mas fazer o bem. Com o documento de ontem, ao contrário, joga-se contra as pessoas a doutrina com o efeito de afastar ainda mais as pessoas de Jesus.
Muitas vezes a Igreja parece dar respostas a perguntas que já foram superadas.
Isso mesmo. A Igreja responde aos problemas que a sociedade já superou. E as respostas que dá, na prática, não valem mais.
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“Esta Igreja me assusta. De Jesus, nunca uma palavra contra a homossexualidade”. Entrevista com Alberto Maggi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU