26 Fevereiro 2021
De agora a setembro, um percurso para sacerdotes engajados no acompanhamento de pessoas LGBT. Nos últimos dias, o primeiro módulo para uma centena de participantes. O objetivo é ir além do acolhimento.
A reportagem é de Luciano Moia, publicada por Avvenire, 25-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As indicações do magistério na época do Papa Francisco não poderiam ser mais claras. Três exemplos, para não deixar as palavras vagas. Vamos começar com o 'Relatório após a discussão' do Sínodo Extraordinário de 2014. No n. 50 afirma-se: “Os homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã”.
Segundo exemplo, no nº 250 de Amoris laetitia (2016), o Papa exorta os bispos a fazerem tudo o que for necessário "para que aqueles que manifestam a tendência homossexual tenham a ajuda necessária para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus em suas vidas".
Terceiro exemplo, Relatório Final do Sínodo da Juventude (2018). No n. 150 consta: “Já existem em muitas comunidades cristãs caminhos de acompanhamento na fé das pessoas homossexuais: o Sínodo recomenda favorecer esses caminhos”. Tudo bem explicado. Mas uma vez que o caminho foi traçado, os problemas começam. A exigência de acolher, acompanhar, discernir e integrar é indiscutível, mas como fazê-lo? É necessário acolher a pessoa ou também o seu estilo de vida? Para as pessoas homossexuais de fé, é necessário imaginar caminhos específicos ou o objetivo da integração sugeriria a inclusão na pastoral ordinária? A estas e outras muitas perguntas tenta responder o primeiro curso de formação para agentes pastorais e acompanhantes espirituais de pessoas homossexuais, cujo primeiro módulo se realizou nestes últimos dias.
A iniciativa faz parte da série de encontros promovidos já em 2016 em Ariccia (diocese de Albano), e em 2018 em Bolonha. Programado como curso presencial há um ano, no Centro jesuíta de Espiritualidade Villa San Giuseppe de Bolonha, foi adiado para este ano, em versão online, devido à pandemia. Uma modalidade que permitiu ao Padre Pino Piva, jesuíta, especialista em 'pastoral de fronteira’, alma da iniciativa, acolher todos os pedidos de participação. Mais de uma centena, na sua maioria agentes pastorais em questões familiares, mas também no acompanhamento de pessoas LGBT. O objetivo do primeiro módulo é o de investigar o dado antropológico básico (filosófico e psicológico) sobre o qual a teologia é chamada a refletir à luz da Revelação e do magistério, tema que será abordado no segundo módulo, em junho.
Objetivo final? Ofereça um horizonte adequado para propostas pastorais oportunas. Que será o terceiro módulo, em setembro. Os aprofundamentos apresentados são desafiadores, especialmente porque são originais e inquietantes. Dom Stefano Guarinelli, psicólogo e psicoterapeuta, professor da faculdade de teologia da Itália Setentrional e autor de Omosessualità e sacerdozio. Questioni formative (Ancora), explicou porque é preciso entender a homossexualidade como um 'traço' a ser integrado em uma visão global da personalidade. “Uma vez que não temos uma teoria compartilhada que explique de onde vem a orientação homossexual, muitas vezes achamos difícil identificar a abordagem pastoral mais adequada”. Portanto, pensamos em resolver tudo simplesmente pedindo à pessoa homossexual que silencie sua orientação com uma afirmação mais ou menos assim: “Para se comportar como cristão, você deve se tornar o que não é. Mas isso - observou o padre psicólogo - é uma afirmação anticristã”.
Chiara D'Urbano, psicoterapeuta, perita dos Tribunais do Vicariato de Roma, autora de Percorsi vocazionali e omosessualità (Cidade Nova) há anos empenhada no acompanhamento psicoterapêutico do sacerdócio e da vida consagrada, explica que é justo falar de pessoas homossexuais psicologicamente maduros e vocacionalmente compensadas. “Ainda que - admitiu - no âmbito vocacional a homossexualidade continue constituindo um certo constrangimento”. E explicou que, mesmo no âmbito vocacional, existem pessoas 'típicas e insatisfeitas' nas quais orientação homossexual não as impede de se comportarem de acordo com os parâmetros da masculinidade ou feminilidade 'normal'.
Damiano Migliorini, professor de filosofia, autor de muitos estudos sobre o tema - entre outras coisas, escreveu com Beatrice Brogliato L’amore omosessuale. Saggi di psicanalisi, teologia e pastorale (Cittadella Editrice) - partindo de uma perspectiva 'relacional', propôs uma visão antropológica integrada através da qual ler e compreender a realidade das pessoas LGBT.
Por fim, o Padre Giovanni Salonia, capuchinho, professor de psicologia e aconselhamento pastoral da Pontifícia Faculdade de Teologia da Sicília, ao excluir claramente a condição homossexual do âmbito da patologia, convidou a uma reflexão teológica e pastoral mais profunda, que possa promover uma experiência mais integrada das pessoas homossexuais na sociedade e na comunidade cristã. Portanto, ele afirmou, chega de falar sobre acolhimento. “Para um homossexual é uma ofensa. É como se lhe disséssemos: você está fora de lugar, você está com problema e, portanto, tenho que te acolher. A pessoa que se diz disposta a acolher já indica uma diversidade. A misericórdia de Deus é para todos e não pode fazer com que as pessoas se sintam erradas, muito menos - concluiu – as pessoas homossexuais”.
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Homossexuais, lições de pastoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU