21 Janeiro 2021
"Esses breves acenos dão a ideia da exposição de Baget Bozzo no debate político e eclesial, sua capacidade acrobática de desempenhar todos os papéis na comédia, a vertiginosa rotação de posições justificadas com inteligência lúcida, no sinal de um destino de substancial solidão", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 20-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma teologia para a homossexualidade? Era mais uma esperança do que o desenvolvimento daquilo que um padre de grande valor e muito discutido como Gianni Baget Bozzo (1925-2009) realizava em uma série de textos entre 1976 e 2008. São 16 "peças" de valor desigual - coletadas com cuidado por Luigi Accattoli, ex-vaticanista do Corriere della Sera, em um livro publicado em 2020 pela Luni editore (Milão), com o título Per una teologia dell’omosessualità. Gli scritti del prete e politico di Genova che anticiparono papa Francesco (Por uma teologia da homossexualidade. Os escritos do padre e político de Gênova que anteciparam o Papa Francisco, em tradução livre).
Accattoli acompanha com simpatia e respeito o desenvolvimento do pensamento de uma figura sacerdotal que, como leigo, viveu a primeira temporada da Democracia Cristã, ao lado dos "mestres" Dossetti, Fanfani, La Pira etc., passando posteriormente para a direita do partido para depois atravessar o pós-concílio como padre na Gênova do cardeal Giuseppe Siri com uma posição de conservador inteligente na revista Renovatio.
Gianni Baget Bozzo,
Per una teologia dell’omosessualità.
Luigi Accattoli (ed), Luni editore, Milano 2020.
p. 144, € 18,00, ISBN 9788879847087
Em 1976 começou a colaborar com a Repubblica de Scalfari em posições políticas de esquerda e abertura eclesial. Em 1984, concorreu no partido socialista de Craxi para o Parlamento Europeu, aceitando a censura eclesiástica da suspensão a divinis. Dez anos depois, participou da fundação da Forza Itália de Silvio Berlusconi (centro-direita), de quem foi um apreciado conselheiro. Após uma longa temporada marcada pela depressão, ele morreu em Gênova em 2009.
Esses breves acenos dão a ideia da exposição de Baget Bozzo no debate político e eclesial, sua capacidade acrobática de desempenhar todos os papéis na comédia, a vertiginosa rotação de posições justificadas com inteligência lúcida, no sinal de um destino de substancial solidão.
No que diz respeito às variações e contradições político-eclesiásticas, suas intervenções sobre o tema da homossexualidade, marginal no conjunto em seus escritos, mas não ocasionais, mantêm uma coerência substancial que o editor resume da seguinte forma:
“- argumentou que é necessário elaborar uma teologia do sexo e nela da homossexualidade, que nunca foi pensada ao longo dos séculos;
- afirmou que, junto com a busca da intenção divina sobre as pessoas homossexuais, é necessário desenvolver uma caridade eclesial que liberte do paradoxo da virgindade forçada e da excomunhão objetiva em que ainda – dizia e ainda pode-se dizer - estão aprisionadas;
- acreditava e defendia nas mais diversas tribunas que o casal homossexual estável deveria ser acolhido em âmbito eclesial e ser reconhecido em âmbito civil, mesmo sem equipará-lo ao casamento;
- com tenacidade lutou para que nenhuma limitação legislativa à identidade homossexual e ao exercício ativo da tendência homossexual fosse considerada aceitável no ordenamento jurídico italiano;
- ele perseverou nessa luta mesmo quando, nos últimos vinte anos, havia passado para posições de direita, reivindicadoras da tradição cristã do país”.
Rápido em captar a passagem do magistério expressa por Persona humana (1975) com a superação do juízo de sodomia-bestialidade para o reconhecimento da homossexualidade, ou seja, a mudança de "perversão" à "condição", e crítico explícito da tentativa de redimensionamento operada pelo então card. J. Ratzinger em 1986 (Cuidado pastoral das pessoas homossexuais), Baget Bozzo se expõe no pedido de reconhecimento civil.
“Como a homossexualidade era considerada uma escolha e não uma condição, as posições morais da Igreja podiam ser compreendidas. Mas, a partir do momento em que a própria Igreja reconhece que se trata de uma realidade objetiva, pedir o não reconhecimento civil significa pedir uma sanção civil contra uma situação não voluntária e, portanto, não responsável. De fato, é o mesmo raciocínio que pode levar ao racismo”. “O direito civil à identidade sexual existe e não pode ser negado”.
Há mudanças em sua reflexão. Passa-se, por exemplo, da partilha inicial da abstinência do exercício sexual para o seu reconhecimento no contexto de uma relação estável.
Afirma-se a legitimidade da orientação homossexual (não o seu exercício) no serviço presbiteral e na condição consagrada, mas depois se admite a razoável prudência da Igreja em disciplinar a aceitação de homossexuais e lésbicas nos conventos e seminários.
Em especial, o reconhecimento civil adquire conotações antieclesiais quando as instituições europeias o tornam a medida da liberdade civil. “O problema se tornou mais grave porque a homossexualidade se tornou uma forma de cultura e estrutura, uma forma de pensar e agir, um estilo de vida. Da repressão à homossexualidade e da perseguição aos homossexuais chegou-se à sua condição de minoria que de alguma forma se tornou a referência das liberdades civis”. “O Parlamento Europeu se tornou uma central anticatólica: e a questão homossexual se tornou o ponto central do anticatolicismo”.
O livro reconstrói e enfatiza o ignorado caminho de Baget sobre o tema, mas parece menos atento à elaboração dos teólogos moralistas daquelas décadas. As referências explícitas são para o teólogo Domenico Capone e para alguns teólogos norte-americanos, sem referência a nomes que escavaram e muitas vezes pagaram por suas reflexões: de T. Goffi a X. Thévenot, de J. Gramick a M. Vidal, de P. Pohier a G. Piana.
Estas são também as décadas das primeiras tentativas de uma abordagem pastoral e de cuidado pessoal para os homossexuais também na Itália. É difícil ignorar a atividade de Domenico Pezzini. Sua subsequente condenação por comportamentos impróprios não remove nem a reflexão (alguns volumes e cerca de vinte ensaios), nem sua função de ligação com os primeiros grupos. Antecipação de uma rede agora mais ampla, mais reconhecida e mais abastecida (basta lembrar as obras de A. Fumagalli).
O cuidado pastoral e a compreensão das vivências foram o verdadeiro motor para uma abordagem diferente para homossexuais e lésbicas. Em um verbete sobre homossexualidade em um Dicionário de Espiritualidade (posteriormente traduzido pela Lev em 2003), o teólogo John McNeill testemunhava isso: "Como não são eles (lésbicas e gays) que escolheram sua tendência sexual, eles a experimentam como dada, como parte da realidade criada. Por terem sido educados a se verem negativamente, como criaturas pecaminosas, doentes ou como mal, necessariamente passam por uma crise profunda em sua capacidade de confiar no Criador”.
Mas “uma vida espiritual elevada deve ser holística: não deve ser baseada em uma negação ou rejeição do corpo e dos seus sentimentos, especialmente dos seus sentimentos sexuais. Há um componente sexual necessário em nossa busca por intimidade com Deus. Suprimir completamente esse componente pode colocar um obstáculo maior no caminho do crescimento espiritual. Os homossexuais estão constantemente em um processo de discernimento sobre como integrar seu crescimento na intimidade com Deus com sua busca para viver a intimidade humana em sua totalidade. Muitos homossexuais estão plenamente conscientes de sua necessidade da comunidade espiritual para exercitar com sucesso esse seu processo de discernimento".
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Baget Bozzo e a teologia da homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU