08 Fevereiro 2021
Quem já visitou qualquer escola africana sabe disso: ao lado das salas de aula, em um pequeno espaço ao ar livre, desde cedo pela manhã um grupo de mulheres acende o fogo sob enormes caldeirões. Enquanto grupos de crianças compartilham os poucos metros quadrados de salas das salas de aula modestas mas, ao mesmo tempo, bem cuidadas, ou mesmo à sombra de enormes árvores sob as quais as aulas são ministradas, o calor da fogueira cumpre seu dever, transformando farinha de milho e água no alimento básico da dieta diária.
A reportagem é de Paolo M. Alfieri, publicada por Avvenire, 05-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
No Malawi é o nsima, em Uganda o posho, no Quênia e na Tanzânia é o ugali. Termos diferentes para indicar aquele tipo de farinha de milho nutriente de baixo custo, acompanhada por uma mistura de vegetais e alguns pedacinhos de carne ou peixe. Enquanto os pais estão no campo, a hora do almoço na escola é de importância crucial para os alunos africanos. Poucos, efetivamente, tomaram café da manhã em casa, embora muitas vezes precisem caminhar alguns quilômetros para chegar à escola. Poucos terão garantido uma refeição completa à noite em casa. Por isso, frequentar a escola, nestas latitudes, é algo mais do que ir às aulas: em muitos casos, significa poder contar com a única refeição do dia, garantida em grande parte por doações de organismos internacionais.
A pandemia Covid-19, apesar de ter causado menos vítimas na África (pelo menos em nível oficial) do que em outros continentes, desse ponto de vista teve um duro impacto. Os lockdowns que fecharam as escolas durante meses afetaram, de fato, não só uma economia informal que se sustenta no encontro cotidiano entre as pessoas, mas também a alimentação regular das crianças. Um alarme que já havia sido levantado por missionários e organizações internacionais e que agora é "certificado" por um relatório lançado pela UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA). O estudo ("Covid-19: Missing More Than a Classroom") revela que 39 bilhões de refeições escolares foram "perdidas" desde o início da pandemia. De acordo com especialistas, 370 milhões de crianças em todo o mundo perderam 40% da merenda escolar desde que as restrições causadas pela Covid-19 obrigaram as escolas a fechar. É por isso que a UNICEF e o PMA estão pedindo urgentemente aos governos que reabram as escolas e garantam que as necessidades de saúde, alimentação e nutrição das crianças sejam atendidas com amplos programas de merenda escolar.
Indicações semelhantes, não se referindo apenas às crianças, chegaram também ontem da ONG italiana Mani Tese na Guiné-Bissau. Segundo seus levantamentos, de fato, no país o consumo de alimentos entre as famílias diminuiu de três para duas refeições ao dia, devido às restrições necessárias para a prevenção da Covid-19. A renda das famílias caiu devido à suspensão das feiras e ao fechamento das fronteiras, o que reduziu bastante o comércio. Espera-se aqui também, como no resto do continente, a chegada da vacina, mas os tempos não serão rápidos. Enquanto os países ricos continuam suas campanhas de vacinação, a África poderia levar até três anos para imunizar 60% de seus 1,3 bilhão de habitantes.
Justamente nestes últimos dias a União Africana garantiu mais 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, além das 270 milhões de doses já reservadas, mas apenas 50 milhões de doses estarão disponíveis até junho. Além da UA e dos estados individuais, a Covax, iniciativa promovida pela OMS para o acesso igualitário às vacinas anti-Covid-19, também está trabalhando nisso. Seu plano prevê garantir uma primeira parcela de 337 milhões de doses aos países mais pobres (não apenas africanos) no primeiro semestre de 2021, uma quantidade que, no entanto, cobrirá em média apenas 3,3% da população total de mais de 140 países que terão acesso ao primeiro ciclo de entregas. No total, a África deve receber 600 milhões de doses da vacina da Covax. Nem todas, porém, estarão disponíveis este ano: nesse valor estão incluídas, por exemplo, 500 milhões de doses da vacina experimental da Johnson & Johnson, com entregas finais previstas apenas em 2022.
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Escolas fechadas, sem merenda: 370 milhões de crianças famintas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU