04 Dezembro 2020
Passada a campanha eleitoral, o mapa do Rio Grande do Sul aparece pintado de vermelho em sua totalidade. Não, não é uma decorrência do resultado das urnas apontando vitórias da esquerda, mesmo porque elas não aconteceram. Trata-se do vermelho da pandemia, alerta máximo, considerada uma fase de alta contaminação, pouca ou nenhuma disponibilidade de leitos em UTIs.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Caminhando pela orla marítima de Capão da Canoa, no final de semana, uma paisagem chamava a atenção: cerca de 97% das pessoas estavam sem máscara protetora. Ou melhor, vamos aprimorar o percentual: 2% usavam a máscara na garganta, no queixo, no cotovelo ou na mão. Certamente sabem que o covid-19 não se insere no corpo humano pela garganta, muito menos pelo queixo ou cotovelo!
Brasileiras e brasileiros – este é um povo que merece análises psicológicas, físicas, mentais, estruturais... para entender esse descaso a uma ameaça tão séria quanto o covid-19, de dar de ombros à morte. Em parte é compreensível, afinal de contas, o exemplo não vem de cima. O presidente da República é o primeiro a contrariar regras de convivência nesses tempos, e o Ministério da Saúde, bem... este atua ao tom do humor presidencial.
Ah, tem os que ainda ridicularizam as pessoas que usam máscara, classificando-as de “viver com medo”. Certamente há os que sequer se dão conta que uma pessoa pode ser assintomática e transmitir o vírus. Certamente não tiveram algum caso em família, para entender que filho, pai, mãe, avô, tio, tia, uma vez contaminado pra valer pelo coronavírus é colocado num respirador, sozinho, numa cama, sem qualquer ente querido próximo que o possa consolar e ajudar. Não se trata de “viver com medo”, mas de autoprevenção e cuidado para com o outro.
“Ah, mas caminhar na praia, ao ar livre, sentar-se sob um guarda-sol, dar um mergulho na água, não tem problema”, argumentam incautos. Não se dão conta, quando instalados em pontos de maior movimento, que disputam o metro quadrado com duas, três pessoas. Sem máscaras, claro, porque estão “ao ar livre”. Era previsto que após campanha eleitoral, os índices de infectados e de mortes aumentaria.
No primeiro dia do mês de dezembro, o Rio Grande do Sul registrou a internação hospitalar de 809 adultos em leitos de UTI por causa do coronavírus, o maior número desde o início da pandemia. No mesmo dia, o Brasil teve mais de 59.909 diagnósticos de covid-19 confirmados e 697 pessoas faleceram, segundo boletim do Ministério da Saúde, aumentando o número de óbitos para 173.817. A continuar nesse ritmo, teremos novos recordes nas festas de final de ano.
A situação brasileira quanto à pandemia é “muito preocupante”, arrolou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) em coletiva de imprensa em Genebra. O Brasil, alertou, terá que ser “muito sério” diante do novo quadro do covid, com a duplicação de novos casos em menos de um mês. Se a OMS tem que mencionar um país em específico nas suas preocupações é porque esse país não está fazendo o tema.
Em seu momento mais crítico, lembrou Tedros, o Brasil registrou 319 mil novos casos por semana, um recorde. Esse número estava em queda até a semana de 2 de novembro, quando foram registrados 114 mil casos. Já em 26 de novembro, a taxa chegou a 218 mil casos por semana, o dobro do registrado no início do mês! O aumento também se verificou no número de mortes: foram 2.538 óbitos na semana do dia 2 de novembro e passou par a 3.876 na semana do dia 26.
O diretor de operações da OMS, Mike Ryan, admoestou que países como o Brasil devem “agir rapidamente” para frear a nova expansão. Não importa, disse, como os governos vão denominar esse novo momento, se segunda onda ou um salto de novos casos. “O fato é que o número cresce”, afirmou. E recomendou: governos estaduais e o Palácio do Planalto precisam agir de forma coordenada desta vez! Para que o presidente deixe de considerar o covid apenas como uma "gripezinha"!
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O Rio Grande do Sul está vermelho... de covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU