01 Dezembro 2020
Um advogado canonista acusou o cardeal Rainer Maria Woelki de “atrevimento sem precedentes” por abafar um relatório independente sobre o encobrimento de casos de abusos na Arquidiocese de Colônia, Alemanha.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 27-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Eu sou um canonista. Eu enfrentei capítulos terríveis da história da Igreja e coisas horríveis com a Igreja. Mas esse atrevimento demonstrado pela Arquidiocese de Colônia é sem precedentes. Isso pode e será provado”, afirmou Thomas Schüller, professor de Direito Canônico na Universidade de Münster, em comentários ao jornal DW, em 25 de novembro.
Schüller referia-se ao arcebispo de Colônia, cardeal Woelki, que decidiu em 30 de outubro não publicar o relatório sobre a negligência arquidiocesana em casos de abuso sexual pelo clero elaborado desde 2018 pelo escritório de advocacia Westpfhal-Spilker-Wastl (WSW).
Como justificativa para a decisão, Woelki acusou a prática legal de preparar um dossiê que não estava “completamente legal” e que continha “preconceitos inadmissíveis”. O cardeal já havia atrasado a publicação do relatório em março.
Woelki contratou outro escritório para apresentar um novo relatório até março do próximo ano.
Schüller mais tarde dobrou suas críticas a Woelki em comentários ao jornal Südwest Presse, nos quais ele disse que o erro do cardeal foi prometer esclarecimento total dos casos arquidiocesanos de pedofilia sacerdotal apenas para falhar no último momento.
“O abuso de vítimas de abuso neste caso é nefasto, vergonhoso e indesculpável”, lamentou o canonista.
Ele passou a sugerir uma conspiração sinistra contra a Igreja local, uma vez que “os responsáveis pelos encobrimentos na Arquidiocese de Colônia, que ainda estão vivos, sabem exatamente quem são os outros e todos sabem que se um cair, todos os outros cairão com ele”.
A pressão é contínua em cima de Woelki por hesitar publicar o relatório da WSW, especialmente desde que uma diocese vizinha, de Aachen, recentemente publicou um relatório similar do mesmo escritório.
Uma fonte na Conferência dos Bispos Alemães disse ao Irish Times, em 19 de novembro, que “se trabalhou os relatórios (de Colônia e Aachen) paralelamente, a metodologia foi idêntica, mas Colônia recusou publicar – citando leis de privacidade pessoal – refletindo uma falta de coragem”.
“Na Conferência dos Bispos nós concordamos em dar nomes. Aachen honrou esse compromisso e não houve resistência legal por aqueles nomeados”.
Mas o que realmente está em jogo na recusa do cardeal Woelki em publicar o relatório da WSW foi eloquentemente explicado pelo sobrevivente de abusos Karl Haucke em comentário ao DW.
Na década de 1960, e com 11 anos, Haucke sofreu abusos de um padre pelo menos uma vez por semana durante quatro anos.
Haucke foi porta-voz do comitê de sobreviventes da arquidiocese de Colônia até que renunciou no mês passado, em protesto à coerção de Woelki contra ele e outros membros do grupo quando contestaram a decisão do cardeal de não publicar o relatório da WSW.
“Éramos necessários como um grupo central, para colocar um selo de aprovação na retidão moral da decisão de suprimir os resultados”, disse o sobrevivente à DW.
Reclamando que a forma de tratamento de Woelki trouxe seus antigos traumas e demônios de volta, Haucke denunciou que, ao dar luz verde à decisão do cardeal de abafar o relatório, “os sobreviventes foram usados novamente”.
“Pessoas que já foram violentadas em suas vidas por clérigos estão sendo atingidas novamente para proteger a instituição”, lamentou a vítima.
“Não consegui o desfecho contra o homem que abusou de mim porque ele morreu na década de 1980. Mas continuo aguardando o reconhecimento público da culpa por parte da instituição que empregou esse perpetrador, que ficou de braços cruzados, que lhe deu a infraestrutura necessária para cometer todos esses crimes. Ainda tenho esperança de sentença com esta instituição”, compartilhou Haucke.
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Advogado canonista acusa cardeal Woelki de “atrevimento sem precedentes” por abafar o relatório sobre encobrimentos de abusos em Colônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU