23 Novembro 2020
Sair do binômio produção e consumo para criar um novo paradigma de economia circular que coloque a pessoa no centro, acompanhe as novas gerações e tutele o meio ambiente. Uma revolução silenciosa que partiu de Assis - a real e simbólica sede do evento programado pelo Papa Francisco e que tem como protagonistas dois mil jovens empresários e economistas - que fala às nossas consciências em um momento histórico tão complexo e cheio de incertezas. “Generatividade, bens relacionais e economia civil” é o título do debate que abriu sábado o segundo dia de “A economia de Francisco”.
A reportagem é de Cinzia Arena, publicada por Avvenire, 21-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um conceito, o de “generatividade”, que os palestrantes Mauro Magatti, Professor de Sociologia da Universidade Católica, Consuelo Corradi, Professora de Sociologia da Lumsa e Leonardo Becchetti, Professor de Economia Política da Universidade Tor Vergata tentaram tornar concreto. Um processo de relações que envolve toda a comunidade: desde os cidadãos, aos empresários e às instituições. “Até agora o circuito de produção e do consumo tem regulado o nosso modelo econômico - disse Magatti.
Mas uma economia baseada na quantidade produz desigualdades e é entrópica com o meio ambiente. É preciso dar um passo adiante, como diz Pascal, “para conhecer as razões do coração que a razão desconhece”. Produzir e consumir estão na base da civilização humana. O problema surge quando a produção e o consumo pretendem tornar-se absolutos e dar sentido às nossas vidas, disso decorre a obsessão pelo controle”. Ao contrário, “gerar” é um movimento antropológico baseado no cuidado. “É a condição essencial para compreender quem somos, é a circulação da vida e da liberdade através e para além daquilo que fazemos”.
Para isso Magatti sugere a necessidade de uma transição em quatro frentes: formativa, organizacional, comunitária e ambiental. “A ideia de uma economia generativa reabre o futuro que nos parece fechado, permite-nos trazer ao mundo, cuidar, acompanhar e deixar ir”.
Em sua apresentação, Consuelo Corradi analisou o tema pelo viés feminino. Partindo da questão de como alcançar a igualdade de gênero, Corradi sugeriu duas respostas. A primeira envolve o conceito de “não ainda”: na Itália, por exemplo, "ainda não há um presidente da República ou uma primeira-ministra mulher". Mas é a segunda resposta de acordo com Corradi que é a mais interessante, mesmo que apresente armadilhas. E consiste em colocar no centro a diversidade e o papel fundamental da mulher na generatividade, conceito que vai além daquele da maternidade.
“As mulheres estão familiarizadas com as dificuldades. Têm afinidade com a dor e o esforço: não é por acaso que são mães, enfermeiras, professoras. Elas sentem prazer em cuidar dos outros, tanto em família como em empresas e institutos de pesquisa”. Todos elementos que contrastam com o individualismo extremo. “Se a única expectativa das mulheres se torna ser igual aos homens, autônomas, eficientes e determinadas, vamos acabar esquecendo essa biodiversidade e isso será uma perda grave”, concluiu a professora.
Becchetti falou da necessidade de novos indicadores para as políticas econômicas, um novo paradigma que “introduza os conceitos de dom e confiança em vez de maximização do lucro”. Dar um basta à lógica do PIB baseada na produção de bens. “A política econômica deve passar de um modelo de duas mãos, ou seja, mercado e instituições, para um modelo de quatro mãos que inclua também a cidadania ativa e a empresa responsável como previsto no objetivo 12 da Agenda 2030”. Nessa direção só podemos nos encaminhar com um empenho coletivo, transformando as nossas escolhas do dia a dia, fazendo compras fundamentadas, premiando empresas sustentáveis do ponto de vista ambiental e acima de tudo humano. “A mensagem final é que não devemos pensar que o mundo só pode ser mudado de cima, o que o mudam são as nossas escolhas construídas a partir de baixo: vamos votar sempre que escolhemos um produto”.
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Economia de Francisco. “Gerar” não apenas produzir: a economia de cuidar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU