18 Novembro 2020
O novo formato virtual deixou a sala pequena para o diálogo no primeiro dia do encontro anual dos bispos dos EUA, mas por pelo menos 45 minutos mais que uma dúzia de bispos deram suas opiniões sobre o laicizado ex-cardeal Theodore McCarrick.
A reportagem é de John Lavenburg, publicada por Crux, 17-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Vaticano divulgou na semana passada seu tão esperado relatório sobre a ascensão de McCarrick no episcopado americano, apesar das alegações de décadas de abuso sexual e má conduta contra ele. O papa Francisco removeu McCarrick do sacerdócio em 2019 depois que novas alegações foram consideradas confiáveis.
Os bispos que falaram levaram seus comentários em direções diferentes, mas muitos reconheciam que concordavam com outros que falaram antes deles. Entre os comentários estavam um pedido de mais informações sobre as finanças de McCarrick, uma sugestão de que todos os bispos aprendam os traços de personalidade dos abusadores e que os bispos mantenham uma linha de comunicação frequente e aberta com seus padres.
O arcebispo José Gomez, de Los Angeles, ofereceu orações e encorajamento às vítimas em seu primeiro discurso de abertura como presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos. Ele também exortou seus colegas bispos a “renovar nosso compromisso hoje em proteger crianças e adultos vulneráveis e eliminar este flagelo de abusos da Igreja”.
Depois que cada bispo falou, Gomez agradeceu seus comentários. No entanto, nenhuma ação foi tomada ou qualquer diálogo adicional sobre qualquer coisa dita.
O bispo Shawn McKnight, de Jefferson City, sugeriu que os leigos se envolvessem mais em lidar com situações como a de McCarrick no futuro. É importante, disse ele, para a transparência e vai dar às pessoas confiança na forma como a situação é tratada.
“Os leigos entendem que haverá esse tipo de problema no futuro. O que eles precisam agora é a confiança de que haverá um processo em vigor para que, quando uma acusação for apresentada, seja tratada com a seriedade que merece”, disse McKnight.
O bispo Mark Brennan, de Wheeling-Charleston, sugeriu mudanças no processo de seleção dos candidatos ao episcopado. Brennan disse que uma vez que um padre é escolhido para se tornar bispo, seu nome deve ser publicado e dado um prazo de 30 a 60 dias para as pessoas comentarem.
“Você pode muito bem trazer à tona coisas naquele momento que confirmariam a nomeação ou a impediriam”, disse Brennan. “Acusações sérias poderiam ser investigadas. Podemos evitar promover ao episcopado alguém que realmente não mereça”.
O bispo William Wack de Pensacola-Tallahassee e o cardeal Blase Cupich de Chicago repetiram os comentários que fizeram ao Crux na semana passada sobre o Relatório McCarrick.
Wack falou sobre a autonomia de todos os bispos e disse aos outros clérigos que é importante “corrigir um irmão quando o vemos fazendo algo que pode estar errado”.
Cupich concentrou-se nas vítimas. Ele lembrou a todos que o relatório não poderia ter acontecido sem a coragem delas se apresentarem. É importante continuar a ouvi-las, acrescentou.
“Quanto mais ouvimos as vítimas e tornamos público que estamos nos reunindo com as vítimas, vai se espalhar a palavra de que estamos do lado das vítimas”, disse Cupich. “Aprenderemos a ter nossos corações comovidos quanto mais ouvirmos as vítimas e acho que é importante fazermos isso.”
Em seu discurso pré-gravado antes do relatório McCarrick, o arcebispo núncio apostólico Christophe Pierre falou sobre “nuvens negras” que existem como uma “cultura do descarte” que se presta ao aborto e à eutanásia, a polarização da sociedade, o crescimento da secularização na qual “as pessoas vivem como se Deus não existisse” e a pandemia. Ele pediu aos bispos que se unissem e liderassem pelo exemplo.
“Num mundo de sofrimento, somos chamados a ser vizinhos dos outros. Como bispos, temos uma responsabilidade especial de liderar pelo exemplo, demonstrando o que significa ser um vizinho”, disse Pierre.
Em um dos poucos comentários não relacionados a McCarrick, o bispo John Stowe de Lexington expressou preocupação sobre o comitê ad hoc de financiamento externo da USCCB de um projeto contra o racismo, alertando que poderia forçar o comitê a seguir as orientações de seus financiadores.
Ele cobrou da USCCB financiamento direto para o projeto.
Na terça-feira a reunião tem uma duração menor. Entre os itens da agenda se inclui: reflexões sobre a pandemia e uma conversa a respeito do racismo.
As eleições estadunidenses de 2020 não entraram na agenda.
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Relatório McCarrick domina as discussões do primeiro dia de reunião dos bispos dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU