06 Novembro 2020
A República Popular da China pretende consolidar o seu papel de principal contraparte à hegemonia dos EUA também do ponto de vista militar. Isso é confirmado por um comunicado divulgado um dia após o encerramento da quinta sessão plenária do XIX Comité Central do Partido Comunista Chinês (aberto no último dia 26 de outubro), centrada na identificação das prioridades políticas e nas escolhas a serem tomadas para manter o a economia autóctone em crescimento mesmo em um período de profunda estagnação como o atual, com o espectro de uma recessão global cada vez mais ameaçadora com a perpetuação da pandemia.
A reportagem é de Giuseppe Luca Scaffidi, publicada por Business Insider, 06-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Especificamente, a quinta plenária do PCC definiu as diretrizes do 14º plano quinquenal (que será aprovado pelo parlamento em março) e testou os mecanismos de aplicação de um programa abrangente, instrumental para a transformação da China em uma "grande e moderna nação socialista" até 2035 (denominado, não por acaso, de Vision 2035).
Trata-se de um plano de desenvolvimento voltado para marcar uma passagem histórica nos equilíbrios econômico-financeiros da China, alicerçado no conceito de "dupla circulação" (dual circulation), ou seja, sobre a maximização dos consumos internos, a conquista da "autossuficiência tecnológica (especialmente na produção nacional de microchips, para os quais, atualmente, o país é obrigado a depender do exterior, em especial do mercado estadunidense) e da contextual limitação a um mínimo de dependência das grandes cadeias globais de abastecimento: em suma, o Dragão pretende empreender uma reconfiguração radical de sua estrutura econômica ao longo dos próximos quinze anos, concretizando a tão desejada transição de local de produção para local de consumos e resguardando-se de um possível endurecimento do processo de decoupling (o desacoplamento entre as economias do Pequim e Washington, um dos pontos principais do programa político de Donald Trump, mas parcialmente assumido também pela agenda de Biden).
Em relação à questão militar mencionada no início, segundo as constatações que apareceram no encontro e relatadas no referido comunicado, até 2027 - ano em que se comemorará o centenário da fundação do Exército de Libertação Nacional (PLA) - a China gostaria de realizar a formação de um exército totalmente modernizado, com o objetivo declarado de se equiparar à contraparte estadunidense do ponto de vista bélico e determinar um salto qualitativo na organização das tropas, aumentando o sua capacidade de defender a soberania nacional, a segurança e os interesses da China tanto internos quanto externos.
Junfei Wu, vice-líder do think tank do Tianda Institute, declarou que se trata da primeira vez que a melhoria do exército é contemplada entre os objetivos de desenvolvimento a médio prazo e que, muito provavelmente, a ventilada modernização dos setores militares está duplamente ligada aos destinos de Taiwan e à vontade de desencorajar as interferências militares do exercido estadunidense dentro da área.
O fortalecimento do potencial militar chinês inevitavelmente interceptará o terreno do progresso tecnológico e dos novos equilíbrios que, nos próximos anos, alterarão o status quo das relações homem-máquina: de fato, conforme evidenciado por Kristin Huang no South China Morning Post, embora o país tenha apenas começado a implementar o desenvolvimento da tecnologia 5G e o 6G exista apenas em via puramente embrionária, o Exército popular de Libertação chinês já está planejando usá-lo para renovar seu estrutura.
Além disso, o desejo de explorar os possíveis usos da futurista rede 6G no setor bélico já havia sido antecipado em um artigo publicado no último dia 13 de abril no China National Defense News, o jornal oficial Exército Popular de Libertação, intitulado If 6G Were to be used in the Future Battlefield; o texto enfatizava como a introdução da nova tecnologia de rede dentro das instituições de defesa poderia determinar "um grande impacto nas práticas militares, como as formações de guerra, o desenvolvimento de equipamentos e as comunicações no campo de batalha". Promover a aplicação gradual do 6G no exército poderia ser um dos principais objetivos das forças armadas chinesas para se adaptarem às novas mudanças militares do futuro”.
A vontade de desenvolver o uso da rede móvel em chave militar certamente não é uma prerrogativa exclusivamente chinesa: em junho do ano passado, o Defense Science Board – o comitê federal que fornece consultoria científica ao Pentágono - publicou o relatório Defense Applications of 5G Network Technology, destacando como “a emergente tecnologia 5G, disponível no comércio, oferece ao Departamento de Defesa a possibilidade de usufruir os benefícios de tal sistema com custos menores para suas próprias necessidades operacionais”.
Como se isso não bastasse, em 2 de maio, o secretário de Defesa Mark Esper aprovou a chamada Estratégia 5G, destacando como a conectividade de alta velocidade moldará profundamente as modalidades de ação do pessoal militar, fornecendo um novo impulso às armas hipersônicas, incluindo aquelas com ogiva nuclear (são meios que, para serem manobrados com a máxima eficácia, devem ser pilotados por sistemas capazes de receber, processar e transmitir uma quantidade impressionante de informações em um espaço reduzidíssimo de tempo): os soldados do futuro usarão redes 5G e de expedição para transmitir enormes quantidades de dados e conectar sensores e armas distantes em uma rede de campos de batalha densa e resiliente, capitalizando ao máximo as possibilidades inéditas fornecidas pelas comunicações de baixa latência. Do ponto de vista operacional, o Pentágono já está experimentando possíveis aplicações militares dessa tecnologia em cinco bases aéreas, navais e terrestres: Hill (Utah), Nellis (Nevada), San Diego (Califórnia), Albany (Geórgia), Lewis -McChord (Washington).
Como se sabe, a China instituiu dois grupos de trabalho para supervisionar as pesquisas sobre o novo tipo de rede: de acordo com as conclusões dos técnicos do Ministério de Ciência e Tecnologia chinês, o 6G pode atingir a velocidade de 1 TeraByte (Tb) por segundo, superando em cerca de 8 mil vezes a velocidade da geração anterior (essas seriam estimativas puramente teóricas).
No entanto, as potenciais vantagens trazidas pelas redes de sexta geração iriam muito além da simples velocidade de transmissão de dados, criando as premissas para alcançar avanços sem precedentes no campo da técnica militar, especialmente no que diz respeito à coleta de informações, a visualização das operações de combate e o fornecimento de um apoio logístico mais preciso. Com latência quase zero, uma largura de banda extremamente superior e conectividade sem precedentes, a nova tecnologia wireless pareceria estar prestes a mudar as regras do jogo até mesmo no campo de batalha, onde o fator humano será cada vez mais marginalizado.
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A China já está estudando o 6G. Para superar militarmente os EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU