05 Outubro 2020
A associação polonesa My, Rodzice [Nós, Pais], que reúne mães, pais e amigos de pessoas LGBT, defende que “a maior força para combater a exclusão e a homofobia na Polônia pode ser a história das nossas famílias para superar essas discriminações. Não somos os primeiros a lutar por essas questões, mas certamente tentamos experimentar formas diferentes para alcançar a plena igualdade para os nossos filhos e filhas LGBT. Esperamos ser um ponto importante no mapa de igualdade que queremos construir na Polônia”.
A carta é publicada por Gionata.org, 20-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Santidade, escrevemos-lhe esta carta como pais de pessoas não heteronormativas na Polônia e membros da associação polonesa My, Rodzice, que une pais e amigos de pessoas LGBTQIA. Escrevemos-lhe com o apoio dos pais da associação irmã italiana – Agedo (Associação de Pais, Parentes, Amigas e Amigos de Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, na sigla em italiano).
Estamos seriamente preocupados com as ações da maioria dos representantes da Igreja Católica do nosso país.
Desde o início de 2019, com o consentimento e o apoio do episcopado polonês, intensificou-se a campanha de propaganda que muitos sacerdotes promovem contra as minorias não heteronormativas, contra os nossos filhos.
O arcebispo Marek Jędraszewski acusou as pessoas LGBT de serem uma ameaça à civilização. Nos seus discursos, o metropolita definiu os nossos filhos de “um erro antropológico” e de “chaga do arco-íris”, declarando que eles não refletem o plano da criação de Deus.
A Igreja institucional na Polônia apoia campanhas e atividades de propaganda, durante as quais a homossexualidade é equivocada e injustamente equiparada à pedofilia. Ela é definida como “o mal”. Além de sacerdotes individuais, ninguém na Igreja se opõe. Aos padres que tentam defender as pessoas não heteronormativas, refutando as acusações injustas, impõe-se o silêncio. (...)
Consideramos extremamente importante parar esse discurso de ódio e reparar os danos que já foram feitos. Alcançar o pleno respeito pelas pessoas LGBT requer a colaboração de muitas pessoas, de muitas instituições e de muitos ambientes, e nós, pais de pessoas LGBT, estamos prontos para colaborar.
Não nos opomos à Igreja. Como crentes e não crentes, temos o direito de ser membros plenos da sociedade.
Santidade, as nossas possibilidades de intervir na Polônia parecem estar se esgotando. As autoridades locais da Igreja não respondem aos nossos pedidos e aos dos outros fiéis. Permanecem passivas diante dos atos de violência e de ódio; ou, melhor, alimentam-nos e elogiam seus autores.
Como diz o Livro dos Provérbios (Provérbios 18,21), “a morte e a vida são governadas pela língua”. A linguagem que eles usam é a linguagem do ódio. Não ficaremos assistindo passivamente enquanto eles tentam privar os nossos filhos do respeito como humanos. Essa discriminação é comparável à ideologia nazista e bolchevique. Uma mensagem que traz desgraça para os nossos entes queridos e os torna alvos de agressões.
As ações da Igreja institucional na Polônia nos afetam e enganam os fiéis, que, por um senso de retidão e de verdade, e para defender a sua fé, cometem ações malvadas.
A situação está fugindo do controle. Não sabemos quais custos os nossos filhos e as nossas famílias terão que arcar. Vivemos em um estado de estresse constante. Estamos paralisados de medo pela segurança dos nossos entes queridos.
Dirigimo-nos a Vossa Santidade com este pedido de ajuda. Acreditamos no bem, no amor, na sabedoria, no respeito, na ponderação e na capacidade de diálogo da Igreja. É por isso que lhe pedimos, Vossa Santidade, a sua atenção, uma audiência, uma conversa e a sua intervenção.
Pedimos-lhe ajuda, Reverendo Padre.
My, Rodzice
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“Papa Francisco, pedimos-lhe ajuda para os nossos filhos e filhas LGBT” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU