08 Julho 2020
A Igreja Católica somente poderá reconstruir a confiança na gestão dos abusos clericais “assumindo a responsabilidade e esclarecendo todos os crimes e omissões”, disse o primaz da Polônia, na segunda-feira.
A reportagem é publicada por CNA Staff, 06-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em uma declaração emitida em 6 de julho, o arcebispo Wojciech Polak observou as medidas que os bispos poloneses tomaram em resposta a uma crescente crise de abuso no país.
“Estou convencido de que somente mantendo a verdade e assumindo a responsabilidade de esclarecer todos os crimes e omissões, reconstruiremos nossa credibilidade e confiança na Igreja na Polônia”, disse ele.
Polak é o delegado dos bispos poloneses para a proteção de crianças e jovens. Como arcebispo metropolitano de Gniezno, a sede primaz polonesa, ele é o primaz da Polônia.
Seus comentários foram feitos uma semana depois que mais de 600 pessoas publicaram uma página inteira no jornal italiano La Repubblica, instando o Papa a intervir na crescente crise de abuso no país.
Um porta-voz do Vaticano disse que o papa Francisco havia sido informado do apelo e estava orando por aqueles que o enviaram.
A Igreja na Polônia enfrenta intensa investigação sobre seu tratamento de alegações de abuso desde a circulação do documentário, Tell No One, com quase 24 milhões de visualizações no Youtube, lançado no ano passado.
Em 2019, a conferência dos bispos poloneses emitiu um relatório que concluiu que 382 clérigos abusaram sexualmente de um total de 624 vítimas entre 1990 e 2018.
Polak lembrou que a conferência dos bispos poloneses havia indicado o padre jesuíta Adam Żak como coordenador para a proteção de crianças e jovens em 2013.
Żak supervisionou o estabelecimento de um centro de proteção à criança na Academia Ignatianum em Cracóvia, que treinou 6 mil pessoas, incluindo padres e religiosos, nos últimos seis anos.
O primaz da Polônia também destacou a criação em 2019 por católicos leigos de uma linha de apoio, conhecida como “Feridos na Igreja”, para apoiar o sistema oficial de denúncia de abusos da Igreja.
Ele disse que as diretrizes de salvaguarda dos bispos poloneses estavam em conformidade com as normas da Santa Sé e da lei polonesa e recebeu elogios do arcebispo Charles Scicluna, uma das principais figuras da batalha contra abusos clericais.
“Ele avaliou os documentos e diretrizes da conferência dos bispos poloneses como muito bons; mas o que conta é a aplicação deles que, em alguns casos, funciona mal”, disse Polak em seu comunicado, divulgado pela Assessoria de Imprensa da Conferência Episcopal Polonesa.
O arcebispo demarcou que denunciou um colega bispo, Edward Janiak, de Kalisz, ao Vaticano sob a lei promulgada pelo papa em junho de 2019 no motu proprio Vos estis lux mundi.
Ele disse que deu o passo depois de assistir ao documentário Hide and Seek, dos irmãos Marek e Tomasz Sekielski. Na sequência de Tell No One, eles alegaram que Janiak havia falhado em agir contra um padre acusado de abuso. O bispo negou as acusações.
“Depois de assistir ao filme, não pude permanecer em silêncio ou ficar sem ação diante dos fatos apresentados”, disse Polak.
No mês passado, o papa Francisco nomeou um administrador apostólico para cuidar da diocese de Janiak enquanto uma investigação sobre as ações do bispo estiver sendo realizada.
“A denúncia não resolve a culpa e dá ao bispo Edward Janiak uma chance real de apresentar argumentos em sua defesa no contexto de um processo canônico. Julgar o caso é de competência exclusiva da Santa Sé”, explicou o primaz polonês.
Polak saudou a criação no ano passado da Fundação St. Joseph, que busca apoiar sobreviventes de abusos e proteger menores de idade dentro da Igreja na Polônia.
“O estabelecimento da Fundação é uma expressão de solidariedade da Igreja na Polônia com as vítimas”, disse ele.
O arcebispo reconheceu que, apesar dos progressos no combate ao abuso, a confiança nas autoridades da Igreja havia sido abalada pela crise. Uma pesquisa realizada em janeiro, realizada pelo instituto de pesquisa IBRiS, descobriu que a confiança na Igreja havia caído 13 pontos percentuais em relação a 2017, para 39,5%.
“Devemos admitir honestamente que, apesar das ações tomadas na Polônia, precisamos trabalhar constantemente para mudar nossa mentalidade. Ainda nesta área, há muito a ser feito”, disse ele.
“Também devemos admitir honestamente que a lei em vigor na Igreja não é respeitada em todos os lugares e nem todas as vítimas recebem a ajuda que precisam. Garantir a segurança de crianças e jovens na Igreja ainda é um desafio para nós”.
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“Igreja deve reconstruir a confiança em meio à crise de abusos”, afirma primaz da Polônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU