01 Julho 2020
São meses difíceis para a Igreja polonesa. Já há tempo, o país inteiro está chocado com as notícias de encobrimento concedidos por alguns bispos a padres que cometeram abusos sexuais contra menores. O presidente dos prelados, Wojciech Polak, pediu ajuda há um mês para o Vaticano, denunciando os mesmos abusos.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 30-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto ontem, em um apelo, 600 fiéis pediram diretamente ao Papa uma intervenção para que ele pudesse "reparar a Igreja das feridas da pedofilia na Polônia, onde a lealdade à instituição é cega e surda, mais importante que o bem das vítimas". E Francisco, através de palavras confiadas ao jornal Repubblica pelo porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, fez sua voz ser ouvida mais uma vez colocando-se ao lado das vítimas: "O Santo Padre está ciente do apelo, ora por aqueles que o enviaram". E ainda: "Toda a Igreja deve fazer o possível para garantir que a normativa canônica seja aplicada, os casos de abuso sejam expostos e os culpados por esses graves crimes sejam punidos".
Vários bispos são acusados de acobertamentos. Alguns casos aparecem listados em um site polonês, disponível em vários idiomas, dosckrzywdy. pl. Recentemente, em um documentário disponível no YouTube com mais de 1,9 milhão de visualizações, intitulado "Hide and Seek", foram os irmãos Marek e Tomasz Sekielski que acusaram diretamente Edward Janiak, agora bispo de Kalisz. Após o lançamento do documentário Polak, que além de ser primaz polonês também é arcebispo metropolitano de Gniezno, entrou em campo pedindo ajuda a Francisco precisamente nas horas em que a Igreja recordava os cem anos do nascimento de João Paulo II.
Polak também pediu a "sacerdotes, freiras, pais e educadores para que não se deixassem guiar pela falsa lógica de proteger a Igreja, escondendo os agressores sexuais: não vamos permitir que esses crimes sejam ocultados". De fato, parte da Igreja polonesa não está na mesma linha que seu primaz. Muitos defendem Janiak, que recentemente chegou a atacar Polak: “O primaz afirmou que sua denúncia no Vaticano era uma questão de consciência. Não é esse o ponto, porque é uma questão de fatos, não de consciência", afirmou, alegando sua inocência e ao mesmo tempo evidenciando um embate interno duríssimo. O apelo dos 600 fiéis parte exatamente disso, da percepção de que uma fatia da igreja está intencionada a resistir.
Os encobrimentos têm uma gênese antiga, que precede os pontificados de Francisco e Bento. Durante o tempo de João Paulo II, era praxe tentar salvaguardar a instituição em detrimento das vítimas. Com Wojtyla, não por acaso, teve proteção no Vaticano o padre Maciel, fundador mexicano dos Legionários de Cristo, que faleceu em 2008 sem que ninguém tivesse deixado vazar seus numerosos abusos, No papel, ninguém sabia de nada. É contra esse silêncio cúmplice que a parte mais iluminada da atual Igreja está tentando lutar.
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O Papa aos poloneses: “Os padres pedófilos serão punidos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU