03 Julho 2020
"As tensões em Hong Kong não são um acidente de percurso, mas a confirmação do endurecimento do regime chinês sob a liderança de Xi Jinping, bem como a perseguição dos uigures em Xinjiang e a supressão da sociedade civil na China. Os democratas de Hong Kong se iludem se realmente pensam, como Wong escreveu no Twitter, que o Ocidente tenha os meios e a vontade política para impedir Pequim de colocar em prática a "normalização" de Hong Kong. Hoje, a China se considera suficientemente forte e influente em nível internacional para agir como bem entender. A verdade é que os habitantes de Hong Kong estão sozinhos diante do rolo compressor de Pequim", escreve Pierre Haski, em artigo publicado por Internazionale, 01-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pequim escolheu a data: 30 de junho, véspera do vigésimo terceiro aniversário do retorno de Hong Kong sob a soberania chinesa. Vinte e três anos de autonomia, que sofreram um revés em 30 de junho, apesar do acordo com o Reino Unido estipular que, durante cinquenta anos, o território seria governado de acordo com o princípio "um país, dois sistemas". Em 30 de junho, em Pequim e não em Hong Kong, o comitê permanente do parlamento chinês adotou a lei de segurança, destinada a combater "secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras" no território. Até o último momento, Hong Kong, incluindo os funcionários da administração local, nem conheciam o conteúdo exato da lei. Por exemplo, não se sabia se a pena máxima seria dez anos ou prisão perpétua. A resposta, chocante, é que os responsáveis pelos crimes correm o risco de prisão perpétua.
Obviamente, o governo de Pequim decidiu retomar o controle desse território habitado por seis milhões de pessoas, palco de grandes manifestações, confrontos e eleições locais no ano passado que premiaram os defensores da democracia. Ninguém sabe qual forma assumirá a manobra chinesa, mas, para não correr riscos, um dos partidos da nova geração contestadora, Demosisto, liderado pelo jovem ativista Joshua Wong, decidiu se dissolver. Aos 23 anos, Wong é um dos rostos do desafio de Hong Kong à China continental e agora prevê ser preso e condenado. Outros já escolheram o exílio ou estão se preparando para partir. O primeiro teste da vontade de Pequim chegará em 1º de julho, por ocasião do aniversário da restituição, que todo ano é marcado por uma grande manifestação a favor da democracia.
Eu estive presente dois anos atrás e vi Wong e os outros discursar diante de uma multidão gigantesca. Havia até um grupo de ativistas da independência que, embora minoritários, irritam particularmente Pequim. De qualquer forma, é possível que as autoridades chinesas esperem um pouco mais antes de agir, para ver se a espada de Dâmocles da lei, com suas sanções muito pesadas, terá um efeito intimidador. Reforçando sua influência sobre Hong Kong, Pequim aceita um risco calculado. Em um clima internacional com sabor de guerra fria, de fato, o governo chinês sabe que enfrentará duras críticas. O governo Trump já anunciou a suspensão do status preferencial para o comércio com Hong Kong.
As tensões em Hong Kong não são um acidente de percurso, mas a confirmação do endurecimento do regime chinês sob a liderança de Xi Jinping, bem como a perseguição dos uigures em Xinjiang e a supressão da sociedade civil na China. Os democratas de Hong Kong se iludem se realmente pensam, como Wong escreveu no Twitter, que o Ocidente tenha os meios e a vontade política para impedir Pequim de colocar em prática a "normalização" de Hong Kong. Hoje, a China se considera suficientemente forte e influente em nível internacional para agir como bem entender. A verdade é que os habitantes de Hong Kong estão sozinhos diante do rolo compressor de Pequim.
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Hong Kong está sozinha diante do punho de ferro da China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU