10 Junho 2020
O ex-coronel Montano será o primeiro militar salvadorenho que responderá à Justiça espanhola pelo assassinato dos jesuítas da Universidade Centro-americana - UCA, em 1989.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 07-06-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Corpos das vítimas. Foto: John Hopper | AP | Religión Digital
A Audiência Nacional julga, desde segunda-feira, Inocente Montano, coronel reformado e ex-vice-ministro da Defesa de El Salvador, por sua suposta participação “na decisão, planejamento ou execução” do assassinato de cinco jesuítas espanhóis em 1989, em El Salvador, fatos pelos quais ele enfrenta 150 anos de prisão.
A data para o julgamento estava marcada desde antes do decreto de quarentena em 14 de março e se manteve porque o já septuagenário Montano encontra-se preso desde 2017, e sua prisão provisória foi prorrogada há alguns meses, por isso necessita ir ao banco dos réus.
Estão fixadas 10 sessões de julgamento, divididas entre 08 de junho e 16 de julho, calendário que também não sofreu alterações.
O ex-coronel será o primeiro militar salvadorenho que responderá à Justiça espanhola pelo assassinato dos cinco jesuítas, entre eles Ignacio Ellacuría, então reitor da Universidade Centro-americana (UCA) e ideólogo da Teologia da Libertação.
Junto a ele, será julgado o executor dos assassinatos, René Yusshy Mendoza, que foi tenente do exército da República de El Salvador, formado na escola militar Capitán General Gerardo Barrios e membro do batalhão Atlácatl.
Para este acusado, a Procuradoria pede uma pena de um ano para cada um dos cinco assassinatos, devido ao artigo 21 do Código Penal Espanhol, aplicando o eximente incompleto de medo insuperável e dois atenuantes pela confissão e por ter se oferecido para reparar o dano.
Coronel Montano. Foto: Religión Digital
Segundo a Procuradoria, ambos “participaram na decisão, planejamento ou execução” do assassinato, em 16 de novembro de 1989, do então reitor da Universidade Centroamericana (UCA), Ignacio Ellacuría, Ignacio Martín Baró, Segundo Montes Mozo, Amando López Quintana e Juan Ramón Moreno Pardo.
Junto a eles, também foram assassinados os salvadorenhos Joaquín López (padre), a faxineira da Universidade Julia Elba e sua filha menor Celina Mariceth Ramos.
“Os processados, junto com terceiros não investigados no presente procedimento, constituíram dentro do Estado de El Salvador uma estrutura paralela, à margem da legalidade, que alterou gravemente a paz pública, provocando um estado de terror na população através de execuções de civis, desaparecimentos forçados...”, destaca a Procuradoria.
Segundo seu relato, o ano de 1989, quando foi produzido o crime, “foi o ponto chave da década da guerra civil em El Salvador” ao alterar os resultados das eleições “de forma irrevogável o panorama político do país”.
Nesta situação, “os jesuítas, especialmente Ignacio Ellacuría, assumiram a liderança” para negociar uma saída dialogada ao conflito armado.
Manifestação durante celebração do aniversário do assassinato. Foto: Religión Digital
Segundo a Procuradoria, “era o único intermediário que falava com todas as partes e atuava de ponte entre o presidente (Alfredo) Cristiani e os rebeldes”, o que o tornou um “objetivo dos militantes da extrema-direita”, que culpavam a Igreja de fazer parte “de uma conspiração comunista internacional”.
Neste contexto, em 15 de novembro, o “Alto Comando e outros líderes militares veteranos, a maioria dos quais pertenciam à Tandona (uma associação de 20 oficiais que ocupavam as posições chaves do exército e do governo), decidiram proceder com as execuções dos jesuítas”.
Montano permaneceu dois anos detido nos Estados Unidos, até sua entrega à Espanha, em 29 de novembro de 2017, e, depois de comparecer de cadeira de rodas ante o juiz e alegar motivos de saúde para evitar ir à prisão, encontra-se em prisão preventiva, à espera de julgamento.
A Audiência Nacional da Espanha processou uma vintena de ex-militares salvadorenhos pelo massacre de jesuítas, porém as autoridades desse país ignoraram as ordens de extradição, porque Montano, até o momento, por ter sido preso nos EUA, é o único que pode ser posto à disposição da Justiça espanhola.
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Começa o julgamento pelo massacre de jesuítas espanhóis em El Salvador, em 1989 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU