02 Junho 2020
As igrejas parecem não ter pressa em retornar aos serviços religiosos na Alemanha. Enquanto em vários lugares, entretanto, são permitidas as celebrações eucarísticas, após a pausa forçada pelo coronavírus, mas muitas comunidades ainda têm reservas. Contudo, alguns cristãos se perguntam: a celebração da Eucaristia (comunhão) não é tão importante como pensavam até agora? É possível abrir mão dela?
A reportagem é publicada por Clarín-Revista Ñ, 27-05-2020. A tradução é do Cepat.
No Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja Católica indicou que a Eucaristia é “a fonte e o cume de toda a vida cristã”. Porque em cada missa é lembrada a última ceia de Jesus com seus discípulos. Portanto, o próprio Cristo está presente no pão e no vinho. Mas como, então, podem ser entendidas as manifestações, por exemplo, do Bispo de Hildesheim, Heiner Wilmer? “Na reação de alguns fiéis, a Eucaristia está superestimada”, comentou em abril. De acordo com a revista Herder-Korrespondenz, a Igreja pode dar, com declarações desse tipo, a impressão de que as missas privadas e os serviços religiosos pela TV, sem fiéis, são absolutamente suficientes.
Mas uma voz absolutamente inesperada, a do filósofo alemão Jürgen Habermas, veio lembrar às igrejas do fato de que aqui está em jogo nada menos do que o núcleo mais ardente do cristianismo. Habermas, que como pensador secular se defendeu por décadas de exigências religiosas, advertiu sobre um afastamento do sacramento.
Em sua nova obra, publicada há seis meses, o pensador alemão contemporâneo mais influente do mundo, membro da Escola de Frankfurt e morador de Starnberg, Baviera, escreveu: “O núcleo ritual do serviço religioso” desempenha “um papel importante, se não decisivo, para a sobrevivência da religião”.
Habermas considera, portanto, que o ensino religioso só tem possibilidades de sobreviver enquanto “se pratique o ritual de culto da comunidade, ou seja, que também se aproprie no sentido existencial”. De acordo com a doutrina cristã, o rito da Eucaristia estabelece uma conexão dos homens com Deus. Habermas coloca sobre a mesa a preocupação de que, com o desaparecimento desse rito, possa se esgotar uma fonte insubstituível de solidariedade na sociedade.
Por isso, as últimas frases de sua volumosa obra Auch eine Geschichte der Philosophie (Também uma história da filosofia), de 1.752 páginas, são lidas como um legado do filósofo de 90 anos de idade: “A modernidade secular se afastou do transcendente por boas razões, mas a razão murcharia com o desaparecimento de todo pensamento que transcende o que existe no mundo em seu conjunto”, escreve. Portanto, de acordo com Habermas, é importante que a experiência religiosa também no futuro possa ser apoiada por essa “prática de representação de uma forte transcendência”.
Dias antes, havia se expressado sobre a Covid-19: “Nunca soubemos tanto de nossa ignorância, nem sobre a pressão de atuar em meio à insegurança”, disse. Segundo Habermas, em nossas sociedades complexas, enfrentamos constantemente as grandes inseguranças, “mas estas aparecem de forma local e não simultânea e são resolvidas em um ou outro subsistema da sociedade por especialistas. Agora, no entanto, a insegurança existencial é global e simultânea, e está na cabeça dos indivíduos conectados às redes de comunicação”, disse.
“Cada indivíduo isolado é informado dos riscos da pandemia, porque, para combatê-la, o autoisolamento do indivíduo é a variável mais importante em consideração aos sistemas de saúde saturados”, acrescentou.
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Jürgen Habermas a favor da experiência religiosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU