19 Mai 2020
A opinião sobre as novas regras de três especialistas em higiene, virologia e epidemiologia. Baixos riscos para atividades ao ar livre. Mas cuidado com lugares lotados e encontros próximos entre crianças. A armadilha oculta: jantares em casa com amigos assintomáticos.
A reportagem é de Elena Dusi, publicada por La Repubblica, 18-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
À mesa, um metro de distância. No bar, à beira-mar ou na casa de um amigo. Podemos nos sentir seguros? Três especialistas em virologia, epidemiologia e higiene respondem a perguntas sobre o afrouxamento das regras de 18 de maio. Lembrando que a situação não é igual entre as regiões, que a diferença de risco é muito grande entre locais fechados e abertos e que mesmo nas situações que não podem ser controladas - principalmente em casa com os amigos - vale o princípio de não confiar em um vírus que já provou ser muito sorrateiro.
A distância de um metro entre as pessoas é considerada o mínimo aceito para restringir a transmissão. "É uma questão de entender o risco que queremos correr", explica Carlo Signorelli, professor de higiene no hospital San Raffaele, em Milão. "A precipitação de gotículas respiratórias é muito alta no raio de um metro da pessoa infectada. É mais baixa, mas ainda existe, entre um e dois metros. É insignificante além de dois metros." Isso ocorre se a pessoa infectada tossir ou espirrar, mas também se fala ou simplesmente respira. Carlo Federico Perno, virologista da Universidade de Milão, também convida a avaliar a situação dos contágios em sua própria região: "Na Lombardia, em ambientes fechados, a distância de um metro entre as mesas não é suficiente para ter segurança. São necessários dois metros. Ao ar livre, no entanto, o risco de transmissão é muito menor. Ali, um metro é mais que razoável". Também Pier Luigi Lopalco, epidemiologista da Universidade de Pisa e consultor da região da Puglia, provavelmente voltará a frequentar restaurantes em Bari, onde a situação das infecções está sob controle. "Mas apenas ao ar livre, com uma ou duas pessoas, no máximo, talvez colegas, no final de um dia de trabalho."
É a situação considerada de menor risco, graças ao sol e ao vento. "O vírus não é transmitido na areia, nem na água, nem nas trilhas das montanhas. A menos que, mais uma vez, as pessoas estejam muito próximas", explica Perno. "A partir dos dados que temos - acrescenta Signorelli -, vemos que a grande maioria das infecções ocorreu em locais fechados, principalmente estabelecimentos de saúde e casas. O vento da praia, em particular, tem um grande efeito na dispersão do vírus". O cloro nas piscinas é suficiente para inativar os microrganismos. E ao sol a sobrevivência do coronavírus é bastante reduzida. "A epidemia mostra claramente uma tendência sazonal" para Signorelli. "O verão ajuda. Estamos vendo isso com a diminuição de casos nossos e o aumento na América do Sul".
É uma das situações mais relaxantes. Mas também a mais insidiosa, devido ao risco de contágio. "Certamente não podemos prever controles também ali - explica Lopalco - e não esperamos que as pessoas usem máscaras em casa, mesmo que seria oportuno, durante encontros com amigos". Signorelli lembra que "durante a quarentena, 30% das infecções provavelmente ocorreram no ambiente doméstico". E em situações relaxadas, junto com as pessoas com quem nos sentimos confortáveis, tendemos a reduzir as precauções. "Estamos diante de um amigo - imagina Perno - que não tem sintomas, e confiamos nele. Mas ele próprio pode ter sido infectado sem o seu conhecimento. Infelizmente, o conceito "eu confio em você" não existe com esse vírus. Até os amigos mais queridos podem ser inimigos, do ponto de vista da doença."
"É o último lugar que eu reabriria", começa Perno. "Sob esforço, o ar é emitido pelos pulmões a uma distância maior e em quantidades triplas que o normal". As academias nem sempre têm uma boa troca de ar. A umidade pode estar alta.
E lugares compartilhados, como vestiários, são considerados como um dos pontos de maior risco de contágio. Nisso as piscinas são semelhantes às academias.
"Ao ar livre, o risco de contágio está quase exclusivamente ligado a aglomerações", explica Signorelli. E nos escorregas e nos brinquedos infantis, os contatos muito próximos entre as crianças continuam sendo um risco real. "Vimos que os mais jovens têm sintomas mais leves, mas o risco de contágio é semelhante ao dos adultos", diz Perno. "Eles podem, portanto, ser capazes de transmitir o vírus de forma assintomática". Manter duas crianças afastadas em um escorregador ou em uma casinha de madeira pode ser difícil. Mas isso deveria ser feito para evitar riscos.
A ventilação natural é preferível, não há dúvida sobre isso. Mas o risco de transmissão de vírus através de aparelhos de ar condicionado é considerado baixo. "O coronavírus não é a legionella, que prolifera nos aparelhos de ar condicionado", explica Perno. "O risco de o microrganismo ser removido do ar em um ambiente infectado e transmitido pelos ductos de ventilação para outro ambiente é insignificante. Discutimos sobre isso em relação aos hospitais com departamentos dedicados ao Covid, onde a concentração de vírus no ar era muito alta." Em casa ou em ambientes não lotados, não há indicações para manter o ar condicionado desligado.
Elas são listadas como uma das precauções necessárias para reabrir restaurantes e bares. Mas luvas sujas podem ser muito mais perigosas do que as mãos nuas. "Se colocá-las de manhã e tirá-las à noite, tocando nossos rostos e as mais variadas superfícies, teremos um concentrado de micróbios realmente muito anti-higiênico", explica Perno. "Sou um crítico das luvas, a menos que sejam trocadas o tempo todo: toda vez que colocamos as mãos na boca ou no nariz ou tocamos uma superfície potencialmente infectada".
Com tantas incertezas e medidas de precaução que são tudo menos que férreas, a máscara permanece nossa âncora da salvação. Sempre que estamos em ambientes fechados e a distância de segurança for inferior a um metro ou um metro e meio, a máscara pode nos salvar. "Se duas pessoas a usam adequadamente, o risco de que uma possa infectar a outra é reduzido em 95%", explica Signorelli. "No transporte público, em particular, elas são muito importantes". Para Lopalco "elas também deveriam ser usadas em casa, quando se recebem amigos e ficamos mais próximos". Nessa situação, não existe outro método senão "confiar no bom senso das pessoas". Bom senso que resta - em uma fase dois, na qual será impossível submeter tudo e todos aos controles - a verdadeira pedra angular da reabertura.
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Os especialistas alertam: “Um metro não é suficiente em ambientes fechados e nas regiões com maior contágio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU