04 Mai 2020
Impressora 3D, pulseiras inteligentes, robôs, aplicativos, análise de dados, câmeras térmicas gerenciadas por algoritmos, inteligência artificial. Poderiam ter ajudado a combater a disseminação do Covid, mas não estávamos prontos para usá-los. Em suma, há quem afirme que já temos (quase) tudo, mas não sabemos usá-lo adequadamente.
A reportagem é de Jaime D'Alessandro, publicada por Repubblica, 30-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Parte do problema é claramente a previsão a longo prazo, o fracasso da imaginação. A outra parte é o que não fizemos antes e o que não estamos fazendo agora. E isso é um fracasso da ação, em particular nossa incapacidade generalizada de construir". Marc Andreessen escreve claramente o que pensa da tecnologia e da capacidade de produção em tempos de coronavírus. E a dele não é uma opinião como as outras. Nascido em 1971, ele está entre os "pais" do Mosaic, considerado o primeiro navegador da Web, além de ter fundado a Netscape e investido em "startups" como Skype, Twitter, Facebook, AirBnb, Zynga.
Abril foi o mês das teses opostas sobre a criatividade do setor de alta tecnologia. Por um lado, aqueles que o condenam como Andreessen, pelo outro, aqueles que se aventuram em comparações de um sinal completamente diferente: um período que "lembra as invenções da Segunda Guerra Mundial, quando o primeiro computador digital e tecnologia dos mísseis apareceram", como pode ser lido no site do Fórum Econômico Mundial. Na realidade, entre o uso em massa do videochat, aplicativos para rastreamento de proximidade, uso de drones para controlar se o distanciamento social é respeitado e análise dos dados sobre mobilidade, pouco foi visto de coisas novas. No máximo a tecnologia tenha sido explorada de maneira diferente do que antes.
"Pesquisamos robôs há anos, mas durante a emergência, ficou claro que o que é produzido em laboratório muitas vezes não pode ser colocado em campo porque é muito caro", explica Antonio Bicchi, pesquisador do Instituto Italiano de Tecnologia (Iit), professor da Universidade de Pisa e presidente do Instituto de Robótica e Máquinas Inteligentes (I-Rim). "Disso deriva a ideia do LHF, um sistema pronto para uso e de custo acessível". Um aspirador inteligente da iRobot modificado com o software aberto do Iit e com a adição de dois tablets: um dedicado à comunicação e outro para orientá-lo remotamente intervindo quando os algoritmos de navegação não são suficientes. Serve não apenas para substituir os enfermeiros, muitas vezes o único contato humano para quem está hospitalizado, mas para permitir que os pacientes nos hospitais conversem a distância com seus familiares ou com um médico. "Você compra tudo online a um custo de cerca de mil euros", continua Bicchi. "É uma solução pronta para o uso." Por esse motivo, para realizá-lo, o Iit se associou à plataforma Tech for Care, que reúne o mundo da pesquisa e o dos artesãos digitais vinculados ao Maker Faire. Agora, o LHF funciona em dois hospitais, um dos quais atendendo o Covid, em Pisa, e um terceiro em uma casa de repouso perto de Varese.
Enquanto isso, a Scuola Superiore Sant’Anna também está trabalhando em um robô acessível, desta vez capaz de desinfetar os ambientes hospitalares. E a Boston Dynamics apresentou seu Spot, autômato de quatro patas ao Hospital Brigham And Women da Universidade de Harvard para ajudar o pessoal médico a selecionar remotamente pacientes em condições mais graves. Pena que o Spot custa tanto quanto um carro e seu emprego em larga escala seja improvável.
"A quarentena não é uma condição adequada para dinamismo e inventividade", comenta Bruce Sterling, ensaísta e escritor estadunidense, entre os pais do gênero "cyberpunk". “Neste Wuhan global, as pessoas não se dedicam a encontrar novas soluções, na melhor das hipóteses fazem pão em casa, e os laboratórios estão praticamente fechados. Obviamente, existe o fenômeno Zoom, que é uma empresa jovem, porém oferece serviços que não são novos".
Então se usa o que se tem, melhor se já tiver sido testado, alterando o objetivo final. Nos Estados Unidos, focaram no crowd computing: combinando o poder computacional dos PCs dos cidadãos para criar um supercomputador e encontrar a molécula capaz de neutralizar o vírus. A técnica é conhecida há algum tempo, mas desta vez, graças à emergência, projetos como o Folding @ Home e o OpenPandemics atingiram uma vastidão nunca vista antes, chegando a um poder de computação igual ao de quinhentos supercomputadores tradicionais.
Também volta os holofotes a impressora 3D para produzir localmente e com relativa rapidez objetos de vários tipos. "Há muitas pessoas que têm uma impressora em casa", disse MacKenzie Brown à Reuters. À frente da californiana Cad Crowd, Brown inventou um concurso para o desenvolvimento de dispositivos úteis durante a pandemia. Chegaram sessenta e cinco ideias, e entre essas um desinfetante de pulso vestível como uma espécie de pulseira e um gancho projetado para motoristas de táxi e equipe médica que lhes permite abrir portas de carros e portas de hospitais sem precisar tocá-las. Quem sabe algum dia poderão ser realmente usados. Na Itália, a Elmec de Martina Ballerio e a Markone de Marco Zani, ambas selecionadas pela Forbes entre os melhores empreendedores abaixo dos trinta anos, criaram duas máscaras de proteção diferentes para serem feitas com uma impressora 3D. A primeira em poliuretano termoplástico, a segunda é uma estrutura plástica onde depois se coloca o filtro descartável. A Markone sozinha pode imprimir 30.000 por dia.
A análise de dados sobre o movimento de pessoas é outra tendência importante. Do Swiss Teralytics, que analisa a mobilidade através da informação dos sims de pouco menos de meio bilhão de pessoas no mundo, 30 milhões na Itália, aos gigantes da Web como Google, Facebook e Apple, que ofereceram seus dados a vários centros de pesquisa para reconstruir a propagação do vírus e estudar seu impacto. Aqui, a novidade está na colaboração com o mundo da pesquisa que antes era mínima, mais que na análise dos dados em si, que é realizada há anos para analisar o comportamento e, sobretudo, o consumo das pessoas.
Poucos, até ontem, haviam explorado a inteligência artificial no campo da epidemiologia, que agora está obviamente muito na moda. Nada garante que faça alguma diferença durante esta pandemia, mas poderemos estar mais preparados para a próxima. Mas esse não é o único caminho diferente percorrido em relação ao passado. No Iit é aplicada às câmeras térmicas, agora capazes de distinguir as pessoas e medir automaticamente a temperatura corporal. Dos aeroportos aos supermercados, o campo de aplicação é potencialmente vasto. Não é por acaso que a Scylla, empresa armênio-estadunidense conhecida por sua tecnologia usada em escolas e cassinos para reconhecer automaticamente as armas de fogo, entrou nessa área. Modificou seus algoritmos e agora, quando identifica alguém que tem o mínimo sinal de febre, dá o alarme.
Na China foram além. Estão desenvolvendo um sistema optoeletrônico semelhante à pele que pode ser usado como um dispositivo vestível para monitorar a pressão arterial. Projetado por pesquisadores da Universidade de Tsinghua, é uma fita fina e macia, que pode ser aderida à epiderme como uma pulseira para obter um monitoramento dinâmico da pressão arterial e oxigênio e transmitir dados wireless para o smartphone. Mas aqui entramos no campo das experimentações que não é de todo dito que transpassem a soleira das universidades.
"Até os japoneses, que têm uma forte tradição em robótica, foram pegos despreparados pelo acidente na usina de Fukushima", conclui Bicchi. “Eles não tinham nada realmente pronto para o uso. Os dispositivos tecnológicos que podem ser produzidos e usados em grandes quantidades são os mesmos desenvolvidos há duas décadas nos laboratórios na forma de protótipos caros. Como aqueles criados no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) na década de 1990, na época frequentado por Rodney Brooks, que mais tarde iria fundar a iRobot e Marc Raibert, que depois criaria a Boston Dynamics".
Tudo o que precisamos já foi inventado.
É o defende Bill Buxton, nascido em 1949, um dos principais pesquisadores da Microsoft, pioneiro no campo da interface homem-máquina que trabalhou muito tempo no Centro de Pesquisa Xerox de Palo Alto (Parc), entre os laboratórios mais importantes do primeiro Vale do Silício. “Precisamos mudar as lentes dos nossos óculos. Tudo o que precisamos para a próxima "revolução" já foi inventado." Melhor procurar no eBay do que nos institutos de pesquisa, segundo ele. A chave é encontrar uma nova maneira de explorar algo que está sob os olhos de todos há anos.
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Pandemia, a tecnologia pode cuidar dela. Mas da próxima vez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU